Dia do sábio
O
filósofo Sêneca, representante do estoicismo em Roma, conhecido
como “O Moço” – para distingui-lo do pai, que tinha o mesmo
nome – e que, embora cidadão romano, nasceu em Córdoba, na
Espanha, disse, certa feita: “Um só dia de um sábio vale mais do
que toda a existência de um ignorante”. Embora se trate de uma
frase de efeito, citada amiúde, não concordo (pelo menos de forma
generalizada) com ela. Acho-a, até, um tanto preconceituosa.
Todo
o ser humano tem lá a sua importância, desde que saiba se fazer
útil para si e para a coletividade. Ademais, não é justo se
avaliar uma pessoa apenas pelo critério da utilidade. Não há
dúvida, todavia, que o sábio é muito importante, sobretudo para a
espécie. Presume-se que, quanto mais viver, maior será o benefício
que trará para a humanidade. Isso, desde que, claro, nunca deixe de
criar e difundir ideias, conceitos, princípios e normas de conduta,
enfim, a sabedoria. Nem todos o fazem.
Mas
o tempo, todo o tempo (não apenas anos, meses, semanas ou dias, mas
até ínfimos segundos) é bastante precioso para qualquer ser
humano, sábio ou ignorante, não importa. O que fizermos com ele
pode determinar nosso sucesso ou fracasso, satisfação ou angústia,
felicidade ou infelicidade. Não raro, porém, o “matamos”, com
atividades que nada nos acrescentam.
Deixamos
tarefas que poderiam ser realizadas com calma, planejamento e
requinte para “depois” e, às vezes, podemos nem ter esse dia
seguinte. É possível que a morte chegue antes, ou que outras
tarefas mais urgentes nos ocupem a atenção e, dessa forma, deixamos
de utilizar adequadamente nosso potencial e de, quem sabe, produzir
aquela obra-prima que reside em nossa mente e que prometemos fazer
num vago “amanhã”.
A
ambição suprema de todo ser humano, quer admitamos ou não, é a
eternidade, mas numa condição diferente, ideal, em que não haja
dores e nem doenças e num mundo perfeito, de plena harmonia e paz.
Se existe ou não essa possibilidade, numa outra condição, que não
a material, é questão de fé e não comporta proselitismos.
Quem
acredita, continuará crendo até o fim, e nada e ninguém abalará
sua crença. Quem não crê, é inútil buscar convencê-lo, já que
o âmago das pessoas é interdito e indevassável. Mesmo na condição
material, porém, o homem já é eterno. Seu corpo morre, é verdade,
mas não desaparece: se transforma em outros estados da matéria e
permanece, eternamente, em algum ponto do universo, posto que
transformado.
Infelizmente,
isso não nos serve de consolo. Uma questão importante, todavia, se
impõe, quando analisamos o tema do aproveitamento do tempo: Há como
se recuperar de um grande fracasso, desses imensos que nos tornam,
aos olhos do mundo, irremediavelmente derrotados? Há como absorver
grandes perdas pessoais, de parentes, amigos e, principalmente, da
pessoa amada? Há como recuperar o tempo perdido e, em idade
relativamente avançada, fazer o que não se fez na juventude,
estudar, cursar uma universidade e adquirir uma profissão que nos dê
prestígio e, sobretudo, prazer?
A
resposta para todas essas questões é uma só: sim!!! Muitos e
muitos já fizeram isso e com sucesso. Claro que essa recuperação
exige perseverança, fé, autodisciplina e coragem para recomeçar.
Enquanto há vida, todavia, sempre há esperança de um
“renascimento” da alma.
Não
sou contra a precocidade, desde que seja natural e espontânea, não
forçada pelos pais, ávidos por se realizar nos filhos. Quanto antes
começarmos a viver, e não nos limitarmos a, meramente, “existir”,
mais usufruiremos das delícias da vida, embora tenhamos que estar
atentos para suas aflições e dores, previsíveis, mas nem sempre
inevitáveis.
Claro
que sempre há a possibilidade de recuperarmos qualquer tempo
perdido. Enquanto houver vida, existirá a chance de multiplicar
sonhos e concretizá-los. Não há dúvida, porém, que quem sai na
frente, e não se detém no caminho, tem maiores chances de chegar
antes que os demais. A atitude mais sábia e prudente, porém, é a
de saborearmos a vida, sempre, do primeiro ao derradeiro segundo do
tempo que nos for destinado! E, quanto antes começarmos, melhor!
Manda a prudência, por exemplo, que nos deliciemos com os pratos
mais saborosos que houver enquanto tenhamos dentes para mastigar.
Quando não mais os tivermos, esse prazer nos será interdito ou, no
mínimo, incompleto.
O
tempo transcorre de forma sempre igual, no mesmo e inexorável ritmo,
de forma imutável, sem a mínima alteração eternidade afora,
embora seu transcurso seja percebido de maneiras muito diferentes,
pelas mais diversas pessoas, conforme as suas circunstâncias e
expectativas.
Para
uns, parece passar rápido demais, como se os relógios que o marcam
houvessem enlouquecido, com cada hora parecendo ter a duração de um
reles minuto ou menos. Para outros, pelo contrário, parece se
arrastar, modorrento e longo, de maneira interminável, com cada dia
parecendo durar uma semana.
William
Shakespeare fez essa constatação inteligente, que pôs na boca de
um dos seus personagens, se não me engano na peça “Sonhos de uma
noite de verão”: “O tempo é muito lento para os que esperam,
muito rápido para os que têm medo; muito longo para os que
lamentam, muito curto para os que festejam. Mas, para os que amam, o
tempo é ilimitado”. E não é o que parece?! E é assim tanto para
o sábio, quanto para o ignorante, embora Sêneca não concorde.
Boa
leitura!
O
Editor.
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