quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Uma linguagem universal?


A Matemática seria, na concepção dos mais renomados cientistas da atualidade, a única linguagem capaz de ser entendida por supostos (ou eventuais?) seres extraterrestres que sejam tão inteligentes (ou provavelmente mais) quanto o homem, caso, claro, existam. No entendimento dessas ilustres cabeças pensantes, seria a única forma de estabelecer contato com esses tão fantasiados “irmãos de criação” que, insisto, ninguém sabe se existem ou não. Tanto isso é verdade que, a mais famosa tentativa humana de contatar supostos ETs inteligentes foi feita em mensagem toda ela codificada em “bits” do sistema binário. Ou seja, o mesmo código utilizado em nossos computadores. Portanto, utilizando-se de linguagem matemática.

Refiro-me à chamada “mensagem de Arecibo”, transmitida em 16 de novembro de 1974. O sinal foi emitido para longe, muito longe, para o agrupamento globular estelar codificado pelos astrônomos como M-13. Esse espaço no cosmo possui cerca de 300 mil estrelas e fica na Constelação de Hércules. Os cientistas acreditam que com tamanha quantidade de sóis, deva haver vários com planetas habitados. E que em muitos deles, haja vida inteligente. E que em algum (ou em alguns?) haja civilizações avançadas, capazes de receber a mensagem, interpretá-la e enviar a resposta. O “texto”, codificado, consistiu de 1.679 dígitos. A mensagem contém (pois ainda viaja no espaço), identificação da Terra, sua posição no Sistema Solar, a representação do sistema binário, o DNA humano e a identificação do radiotelescópio emissor, entre outras informações.

Ocorre que, se tudo isso der certo, se em alguma dessas estrelas houver planeta habitado, e com habitantes inteligentes, e com civilizações tecnologicamente avançadas, que recebam os sinais, os interpretem e se disponham a responder, quando a resposta chegar à Terra, a probabilidade quase certa é que esta não exista mais. Ou, caso ainda exista, esteja estéril, sem nenhum tipo de vida. Sabem por que? Porque o aglomerado estelar, para onde a mensagem foi enviada, fica a 25.000 anos-luz de nós. Ou seja, as ondas de rádio, caso viajassem à velocidade da luz (e não viajam), levariam 25 mil anos para serem recebidas por esta hipotética civilização. E a resposta, por conseqüência, levaria o mesmo tanto para retornar ao nosso planeta.

Abstraindo o sentido nada prático da tentativa de contato, quero destacar a fé dos cientistas na linguagem da Matemática. Ao contrário do que se diz, amiúde, sobre a Filosofia, que seria “a mãe de todas as ciências”, tenho uma tese diferente a respeito. A verdadeira matriz de todo o conhecimento humano não é ela. É a abstração das abstrações. É o que o filósofo Roger Bacon classificou como “a chave do portão da sabedoria e das ciências”. É a Matemática. E por que afirmo isso com tamanha convicção? Porque está mais do que provado, com provas inclusive arqueológicas, de que ela precedeu, e em milênios, o “nascimento” da Filosofia. Sem a capacidade de abstração que a Matemática forçou os homens a terem, não haveria nenhum princípio filosófico. E, sem estes, inexistiriam as ciências, todas elas, como as conhecemos.

Não vejo, portanto, nenhuma impropriedade ou eventual exagero em declarações como esta de Galileo Galilei Galileu, que disse que “a Matemática é o alfabeto com que Deus escreveu o universo”. E não foi apenas ele que disse isso. Outros tantos filósofos, astrônomos e físicos disseram a mesma coisa, mesmo que com outras palavras. Diferente do que afirmaram ilustres pensadores que o antecederam, Pitágoras afirmou: “Deus não é um matemático. A Matemática é que é Deus!”. Para Platão, conforme registrou no célebre diálogo de Timeu, “o deus criador utilizou a Matemática para criar o Universo”. E arrematou: “Deus sempre geometriza”. Para René Descartes, não foi o homem que inventou essa nobre “ciência dos números”. Ele limitou-se a descobri-la. Afirmou, com todas as letras: “Os seres humanos, claramente, apenas descobriram a Matemática”.

O “descobridor” de uma das quatro forças da natureza conhecidas, a gravidade, Sir Isaac Newton, pensava, grosso modo, a mesma coisa. Tanto que escreveu: “Deus criou tudo por número, peso e medida”. Ou seja, com o recurso da Matemática. Muitos, muitíssimos anos antes dele, Euclides, o “pai da geometria”, havia dito algo com o mesmíssimo teor. Recorde-se que ele viveu entre os anos de 435 e 365 a.C. Esse ilustre mestre da Grécia Antiga afirmou, literalmente: “As leis da natureza não são nada mais que os pensamentos matemáticos de Deus”. Até o físico teórico britânico Paul Adrien Maurice Dirac, que se não era ateu, tinha dúvidas sobre a existência de uma divindade criadora do universo, escreveu: “Se existe um Deus, ele é um grande matemático”.

Como se vê, se não é consensual, pelo menos é generalizada a “matematização” das ciências. Pudera! Não fosse a Matemática, estas não existiriam. Não haveria como existirem. Por isso não estranho o fato dos pesquisadores do SETI, sigla inglesa do projeto de busca por vida inteligente fora da Terra, entenderem que, se houver uma linguagem universal, capaz de ser entendida por eventuais alienígenas hiper-desenvolvidos, esta é a Matemática, mais especificamente, o sistema binário, que ensejou a criação dos computadores.

Boa leitura!


O Editor.

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2 comentários:

  1. Que delicia de texto! Eu não consigo ter a abstração que a matemática exige. Como Deus é Matemática, permaneço no meu ceticismo, mas amando o que li aqui.

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  2. Que delicia de texto! Eu não consigo ter a abstração que a matemática exige. Como Deus é Matemática, permaneço no meu ceticismo, mas amando o que li aqui.

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