quarta-feira, 6 de julho de 2016

Homens que não vão ao médico


* Por Mara Narciso


Alguns homens reclamam com suas mulheres dizendo algo como “você vai muito ao médico, todo dia tem consulta, tem exames. Vive procurando doença. Quem procura, acha!” As pessoas se relacionam de várias maneiras com as moléstias. As extremamente alertas valorizam cada sinal ou sintoma, e dão um salto a cada descoberta. Pensam no pior, sentem algo e já marcam uma consulta, ainda que seja leve e explicável, ou que desapareça no outro dia. Qualquer dor parece insuportável e exige analgésicos potentes. Pode pegar a mania da automedicação reincidente. São exageradas e chegam a dizer que não suportam nenhum desconforto. Outras estão no lado oposto, e sintomas, mesmo fortes e recorrentes são desconsiderados, tomam um chá, acham que os incômodos sejam “gases”, passam por cima, deitam e esperam passar. Este é um comportamento perigoso que já matou o homem (menos vezes, a mulher) displicente. Era infarto do miocárdio. Boa parte são pessoas ilustradas, temerosas do diagnóstico, que negam os fatos e podem ser pegos de surpresa pelo êxito letal. “Morreu? Mas como? Nunca foi ao médico, nunca tomou um comprimido, ainda ontem estava trabalhando”. Acabou morrendo sem assistência, porque a desprezou. Daí, mais viúvas do que viúvos.

A virtude está no meio, e na medicina nem sempre, nem nunca. Os hipocondríacos ampliam os sintomas. Sentem algo, e como prestam demasiada atenção aos sinais do corpo, tudo cresce em importância. Por outro lado, os negadores de doença, credenciam outros caminhos, como a fé, por exemplo, e não fazem o necessário para se proteger. As crenças ajudam, juntamente com a medicina.

As mulheres costumam ir ao médico pelo menos uma vez ao ano, geralmente ao ginecologista que, por isso ampliou seus domínios e tem pedido exames mais abrangentes, fora da sua alçada imediata de ação. Esta abordagem tem feito descobertas em tempo de reversão. O urologista também faria esse papel, mas os homens, bem mais do que as mulheres, preferem ignorar a saber que apresentam uma patologia, ainda que possa ser curada ou controlada.

Os planos de saúde reclamam do custo, mas coisa boa é exame normal. Como as pessoas estão cientes (algumas não estão, ou negam estar), é preciso cercar o que é mais comum em cada faixa etária. Como a medicina se sofisticou e está tecnológica e cara, alguns exames são necessários, mas inviáveis. Ao mesmo tempo, há quem peça ao médico um exame diferente, por curiosidade. A saúde é algo dinâmico e mutável, e a cada momento pode-se deparar com uma realidade diferente. No sentido preventivo, é preciso seguir um mínimo de consultas médicas e exames por ano, para não demorar a diagnosticar algo errado, lembrando que a doença nova tem jeito, e a antiga, pode ser que não. O tratamento inicial é mais simples, e o tardio mais sofrido e oneroso, assim, se alguém lhe sugerir uma visita ao psiquiatra, lembre-se que os transtornos mentais também são assim.

Num mundo globalizado e conectado, é inacreditável, mas é verdade: há quem prefira morrer a míngua, sem receber nenhum tratamento, por medo de fazer consultas e exames. Que os homens possam reconsiderar a sua decisão de não ir ao médico “procurar doença”. E no mais, saúde!

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   



4 comentários:

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  3. Existe um Programa de Desburocratização do Governo do Estado de Pernambuco, que diz: “vamos agilizar e simplificar o atendimento ao cidadão”. Entretanto, na prática, alguns setores dos Sistemas de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Estado de Pernambuco (Sassepe) e o Sistema de Saúde da Polícia Militar (Sismepe), não tratam com respeito os idosos como cidadãos. É inexistente o tratamento digno quando estes procuram os seus direitos e deveres. Alguns complicam de maneira absurda, dando a entender que têm apoio da Secretaria de Defesa Social, Saúde e do Governo do Estado. Na realidade, Mara, a democracia política no Brasil é uma vergonha!!!

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  4. Devido ao alto preço da saúde tecnológica, muitos recursos estão inacessíveis a boa parte dos cidadãos, sem contar que os distribuidores daqueles bens (consultas, exames, remédios) são avaros e parecem estar guardando aquilo para eles. Concordo com você, José calvino.

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