quarta-feira, 13 de julho de 2016

Comissão julgadora


* Por Alberto Cohen


Estava cercado de vultos com rostos muito conhecidos que sorriam e sacudiam as cabeças aprovando. Como sempre, ele soletrava versos tentando juntá-los em poemas que, no íntimo, sabia já estarem prontos há muito tempo, faltando-lhes apenas a materialização em forma de palavras.

Brincou, mentalmente, com aqueles que estavam ao seu redor na madrugada quase finda: “Rapaz, é a velha guarda da Poesia”. Imediatamente bateu na boca e recriminou-se, pois, sendo imortais, jamais envelheceriam. E os rostos sorriram mais ainda, como se lhe pudessem ler os pensamentos, achando-os engraçados.

De repente aconteceu de novo: rimou dor com amor! Lágrimas de frustração correram-lhe pelo rosto ao sentir que fragilizara seus versos com a rima simplória.

Olhou para a turma: Vinícius, gozador; Drummond, compreensivo; Bandeira, estático; Florbela, desentendida; Ruy e Quintana, bondosos, com os copos nas mãos.

Vieram de tão longe para ouvi-lo e ele imprudentemente dera essa maldita mancada sem conserto. Passou das lágrimas aos soluços histéricos. Depois dessa, ELES não voltariam nunca mais! Perdera a sua grande chance.

Despiu o sonho, enrolou-se em pesadelos e afinal acordou, suado e ainda procurando pelos visitantes e suas risadas longínquas e adivinhadas...

* Poeta paraense.




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