Comissão julgadora
* Por
Alberto Cohen
Estava cercado de
vultos com rostos muito conhecidos que sorriam e sacudiam as cabeças aprovando.
Como sempre, ele soletrava versos tentando juntá-los em poemas que, no íntimo,
sabia já estarem prontos há muito tempo, faltando-lhes apenas a materialização
em forma de palavras.
Brincou, mentalmente,
com aqueles que estavam ao seu redor na madrugada quase finda: “Rapaz, é a
velha guarda da Poesia”. Imediatamente bateu na boca e recriminou-se, pois,
sendo imortais, jamais envelheceriam. E os rostos sorriram mais ainda, como se
lhe pudessem ler os pensamentos, achando-os engraçados.
De repente aconteceu
de novo: rimou dor com amor! Lágrimas de frustração correram-lhe pelo rosto ao
sentir que fragilizara seus versos com a rima simplória.
Olhou para a turma:
Vinícius, gozador; Drummond, compreensivo; Bandeira, estático; Florbela,
desentendida; Ruy e Quintana, bondosos, com os copos nas mãos.
Vieram de tão longe
para ouvi-lo e ele imprudentemente dera essa maldita mancada sem conserto.
Passou das lágrimas aos soluços histéricos. Depois dessa, ELES não voltariam
nunca mais! Perdera a sua grande chance.
Despiu o sonho,
enrolou-se em pesadelos e afinal acordou, suado e ainda procurando pelos
visitantes e suas risadas longínquas e adivinhadas...
*
Poeta paraense.
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