sábado, 2 de julho de 2016

A austeridade deu a vitória ao Brexit


* Por Bruno Lima Rocha


O resultado do referendo do Reino Unido quanto à saída ou não da União Europeia (EU) trouxe à tona tensões domésticas e continentais. Podemos afirmar que tal resultado, com estreita margem de 52% pelo Brexit derrotando 48% dos britânicos optando por permanecer, é uma conjunção de múltiplos fatores, mas que no âmbito político doméstico marca um perigoso fortalecimento à direita do Partido Conservador. Quando o primeiro-ministro demissionário, o conservador David Cameron, convoca o plebiscito, seu gabinete trabalha com a equivocada estimativa de vitória da permanência na EU, reforçando também suas condições de governabilidade. O resultado foi justo o oposto.

A partir do final da década de 70 do século 20, a começar pela Frente Nacional (NF), passando pelo Partido Nacional Britânico (BNP) e reforçada essa identidade com os realistas do Ulster (Irlanda do Norte), o sentimento xenófobo no Reino Unido vem sendo reforçado à medida que esta sociedade vai ficando mais pluriétnica. Fazendo uma campanha baseada no egoísmo econômico, o Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip) conseguiu galvanizar essas escolhas, também acumulando o sentimento contra imigrantes comunitários, refugiados e a islamofobia.

A manipulação de identidades das agrupações à direita dos conservadores foi ao encontro da crise dos refugiados, da hegemonia geoeconômica alemã e o modelo de austeridade imposto pelo ordoliberalismo alemão através das instituições da troica europeia: Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. O líder do Ukip, Nigel Farage, explicitamente responsabiliza os acordos de integração pela perda dos padrões de vida britânicos e defende a reserva de mercado de trabalho para sua cidadania. Desta forma, aplica a solução xenófoba para a crise imposta pela austeridade comandada pelo sistema financeiro e corporações transnacionais, capturando o imaginário da força de trabalho pouco qualificada. A EU paga o preço pela retirada de direitos sociais e vê a direita xenófoba hegemonizar o discurso eurocético. Eis a chance da fragmentação do bloco.


* Jornalista e cientista político

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