segunda-feira, 6 de julho de 2015

Fazenda velha


* Por Ana Deliberador


Cheirosa, úmida, linda. Árvores centenárias, troncos que – não raras vezes – quatro homens, braços esticados, não conseguiam envolver. Copas competindo, na escalada em direção ao sol. Folhas chacoalhando ao vento deixando vãos por onde entravam raios de luz para formar mosaicos brilhantes, de reflexos azuis, amarelos, brancos cinzas, vermelhos…Cipós, com várias dezenas de metros, desciam até o solo. Bromélias. Orquídeas.

Ah, que fartura!

Jabuticaba, jaracatiá, ora-pro-nóbis, araçá, ingá, gabiroba. Juçaras, derrubadas às centenas para colher seu palmito – refogado, que delícia! – e, com seus troncos eretos, construir  casas.

Bugios, tamanduás, jaguatiricas, onças pintadas, tucanos, catetos, araras, e toda sorte de pequenos pássaros. E a pesca! Pintados, piabas, cascudos, lambaris. Dourados na piracema…que espetáculo!

Nos dias reservados ao abastecimento da despensa, homens saiam à caça de antas, veados, capivaras. Queixadas eram deixadas na água corrente, um dia inteiro, para perder o gosto forte. Toda carne era preparada e guardada em latas grandes, cheias de gordura.

Aos poucos a mata ia dando lugar a pastagens para bovinos e plantações de milho, feijão, arroz, café. Muito café. Nos quintais, galinhas, patos, gansos, galinhas d’angola, porcos, cabritos. Perus, para o Natal!

Verduras frescas, sempre: hortas eram vitais.

Garapa era feita em moendas puxadas por animais. Da garapa, o melado. Do melado, o açúcar. “Fazia garapa e ponhava ferve. Despois ia esquentando, ia tirando a sujera com um prato de aluminho furadinho, preso na ponta dum pau. Isso até engrossá. Quando tava raspando despejava num cocho de pau e batia inté sucará. Notro dia punha num saco e dexava escorrê a umidade. Tava pronto.”

E o sal?

Ah, o sal…iam na venda comprar!

* Professora, pintora e escritora

   

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