sexta-feira, 24 de julho de 2015

Mistério


* Por Adelmar Tavares


"Conheço um coração, tapera escura". Bilac. (Tarde)


A Clementino Fraga


Que voz foi essa em meu ouvido?
Alguém falou no meu ouvido...
Que doce e estranha vibração
toma-me, agora, o coração?...
- Ninguém falou no teu ouvido...
Esses rumores todos são,
mistério sem explicação,
coisas de velho coração...
Mas esse aroma revivido
ao meu olfato? A exalação
que estou sentindo, de um vestido,
que era o jasmim do seu vestido,
que me não mente o coração?
- Oh, nada sentes!... Nada... Não...
Esses perfumes todos são,
do teu espírito abatido,
mera, fugaz perturbação.
Coisas de velho coração...
Ah que bem disse um Poeta, um dia,
que o triste, humano coração,
quando com o tempo envelhecia,
era também casa vazia,
de assombração...


(O caminho enluarado, 1932).

* Advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, membro da Academia Brasileira de Letras.


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