Momento de epifania
* Por
Fernando Yanmar Narciso
A semana que passou
foi dura de engolir para os fãs de esporte mais razoáveis como eu. Afinal de
contas, quarta-feira foi o aniversário de uma das maiores tragédias da história
do país: O apocalíptico 7 a 1, aplicado com autoridade pela seleção alemã em nossos
Piu-pius, quer dizer, Canarinhos.
Revoltante? Com
certeza. Humilhante? Sem sombra de dúvida. Algo impossível de ser esquecido por
mostrar todas as feridas abertas e gangrenadas do futebol nacional? Ôxe! Mas
será motivo o bastante para os fãs, comentaristas e jornalistas mais xiitas
enrolarem o silício na coxa e terem passado os últimos 365 dias se açoitando de
vergonha?
A principal
consequência de termos sido humilhados com um placar tão exagerado – só não foi
mais exagerado que os das derrotas do Tabajara FC... – foi o retorno da nossa
maior inimiga: A viralatice. De uma hora pra outra, nada mais presta por aqui.
Nenhum jogador, nenhum técnico, nenhum dirigente, nenhum campeonato, enfim, o
futiba brazuca em geral oficializou-se como uma merda.
Estádios esvaziados,
técnicos- ou ‘professores’ – se preferirem – egocêntricos, gananciosos e
desatualizados, estaduais com nível técnico deplorável, nossos jogadores que
podem ser considerados acima da média, tirando o Neymar, sendo vendidos para
países sem a menor tradição futebolística- e sequer para serem as estrelas dos
times, empresários e dirigentes corruptos...
Estamos defasados,
ultrapassados, sucateados em relação ao futebol praticado nos points modinhas
do futebol mundial, como a Champion’s League e a Bundesliga da Alemanha, não há
como negar. Como se não bastasse o famigerado vocês-sabem-o-que, caiu uma
enorme bomba nuclear no colo dos entendidos do esporte terça-feira passada.
O provavelmente
ex-jogador da seleção brasileira Dani Alves disse numa mesa redonda da ESPN que
em 2012 Pep Guardiola, hoje talvez o maior técnico do mundo, havia se oferecido
para treinar a seleção brasileira com o objetivo de nos presentear com o
hexacampeonato em nossa copa ano passado e resgatar a glória passada de nosso futebol.
O melhor de tudo, ele
teria se oferecido DE GRAÇA para a CBF, e só receberia o seu após a copa. E
sabem da maior? A CBF RECUSOU A AJUDA DELE! Motivo? ‘O torcedor poderia não
aceitar um estrangeiro no comando da seleção, mesmo sendo o maior técnico que o
dinheiro pode comprar’!
Aí, pronto, desgraçou
tudo pro nosso lado! ‘SEUS IDIOTAS! COMO VOCÊS SE ATREVERAM A RECUSAR UM
PRESENTE DESSES? #CBFVTNC!’ Até hoje nossos pundits esportivos estão
boquiabertos, exasperados, incrédulos, abismados com a notícia. Eis mais um
motivo para condenarem nosso futebol ainda mais às fogueiras da Inquisição! Eis
mais um motivo para a choradeira do 7 a 1 se prolongar ao limite da insanidade!
Não vou vendar meus
olhos. Nosso principal patrimônio está a anos-luz de distância do restante do
planeta, sim. Mas antes de resolver os problemas físicos do esporte, convém
mais tentarmos reparar os problemas passionais. Com a Copa América que passou,
ficou claro que a América do Sul joga atualmente o futebol mais pé-sujo e roda-dura
do mundo, assumidamente.
Mas olhem para os
outros países que participaram. O Chile, atual campeão do torneio, sabe que o
futebol do país não é e nunca foi dos melhores, mas isso os impediu de torcer
apaixonadamente por La Roja? O coração deles estava no lugar certo, e o nosso
também devia estar.
Por pior que esteja
nossa situação, por mais corrupto e tosco que seja nosso futebol e por mais
pena que dê ver tantas ‘arenas’ vazias, é necessário que o Brasil volte a se
apaixonar pelo que temos em mãos. Nossos atletas precisam voltar a sentir que a
nação está do lado deles, incentivando, torcendo por melhoras, sendo que
atualmente talvez não haja ambiente mais negativo que o do mercado da bola no
país.
Outro passo
importante: Chega de complexo de vira-lata! Sugeri semana passada pra meia
dúzia de jornalistas esportivos via Twitter que largassem a vida de
comentaristas, arregaçassem as mangas e assumissem o comando do futebol
brasileiro. Chega de chororô e autoflagelo!
Sendo tão
inteligentes, estudiosos e donos da verdade como são, é de se esperar que
depois de uma semana com eles no comando o público nos estádios superaria o da
Bundesliga, e semana que vem o Del Nero agendaria DOIS amistosos contra a
Alemanha no mesmo ano e a seleção ganharia os dois, na ida por 4 a 0 e na volta
por 3 a 1. Se eles são tão bons e sábios como se julgam ser, PAREM DE FALAR E
AJAM!
Há principalmente que
se valorizar nosso produto nacional. Imaginem o impacto que teria na imprensa
esportiva mundial se, num belo dia, Dunga chegasse aos nossos jogadores
milionários e egocêntricos, que jogam no exterior e mandam e desmandam na CBF,
e simplesmente dissesse ‘Querem saber? A seleção brasileira não precisa de
gente mimada e egoísta como vocês! Nunca mais serão convocados enquanto eu
estiver no comando. Temos tudo o que precisamos bem aqui em solo pátrio. Vão
pastar!’ É um ufanismo meio cafona, sim, mas poderia funcionar para reunir o
torcedor em volta da seleção brasileira novamente.
Como mostra o futuro
técnico dos Canarinhos Levir Culpi, o segredo do sucesso de um time é a
humildade. O torcedor se identifica com quem mantém os pés no chão. São
pequenas coisas que poderiam fazer uma grande diferença na ‘Alegria Do Povo’ se
alguém lá de cima resolvesse me ouvir. E sabem do que mais? Por pior que esteja
nosso futebol e nossa seleção, temos que reconhecer um fato: Desde o ano
passado NUNCA MAIS levamos de 7 a 1! Já é um bom sinal!
*
Escritor e designer gráfico. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
cyberyanmar@gmail.com
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Surgiu um novo grupo na internet: enfurecidos online. Falou bem.
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