terça-feira, 14 de julho de 2015

Momento de epifania


* Por Fernando Yanmar Narciso


A semana que passou foi dura de engolir para os fãs de esporte mais razoáveis como eu. Afinal de contas, quarta-feira foi o aniversário de uma das maiores tragédias da história do país: O apocalíptico 7 a 1, aplicado com autoridade pela seleção alemã em nossos Piu-pius, quer dizer, Canarinhos.

Revoltante? Com certeza. Humilhante? Sem sombra de dúvida. Algo impossível de ser esquecido por mostrar todas as feridas abertas e gangrenadas do futebol nacional? Ôxe! Mas será motivo o bastante para os fãs, comentaristas e jornalistas mais xiitas enrolarem o silício na coxa e terem passado os últimos 365 dias se açoitando de vergonha?

A principal consequência de termos sido humilhados com um placar tão exagerado – só não foi mais exagerado que os das derrotas do Tabajara FC... – foi o retorno da nossa maior inimiga: A viralatice. De uma hora pra outra, nada mais presta por aqui. Nenhum jogador, nenhum técnico, nenhum dirigente, nenhum campeonato, enfim, o futiba brazuca em geral oficializou-se como uma merda.

Estádios esvaziados, técnicos- ou ‘professores’ – se preferirem – egocêntricos, gananciosos e desatualizados, estaduais com nível técnico deplorável, nossos jogadores que podem ser considerados acima da média, tirando o Neymar, sendo vendidos para países sem a menor tradição futebolística- e sequer para serem as estrelas dos times, empresários e dirigentes corruptos...

Estamos defasados, ultrapassados, sucateados em relação ao futebol praticado nos points modinhas do futebol mundial, como a Champion’s League e a Bundesliga da Alemanha, não há como negar. Como se não bastasse o famigerado vocês-sabem-o-que, caiu uma enorme bomba nuclear no colo dos entendidos do esporte terça-feira passada.

O provavelmente ex-jogador da seleção brasileira Dani Alves disse numa mesa redonda da ESPN que em 2012 Pep Guardiola, hoje talvez o maior técnico do mundo, havia se oferecido para treinar a seleção brasileira com o objetivo de nos presentear com o hexacampeonato em nossa copa ano passado e resgatar a glória passada de nosso futebol.

O melhor de tudo, ele teria se oferecido DE GRAÇA para a CBF, e só receberia o seu após a copa. E sabem da maior? A CBF RECUSOU A AJUDA DELE! Motivo? ‘O torcedor poderia não aceitar um estrangeiro no comando da seleção, mesmo sendo o maior técnico que o dinheiro pode comprar’!

Aí, pronto, desgraçou tudo pro nosso lado! ‘SEUS IDIOTAS! COMO VOCÊS SE ATREVERAM A RECUSAR UM PRESENTE DESSES? #CBFVTNC!’ Até hoje nossos pundits esportivos estão boquiabertos, exasperados, incrédulos, abismados com a notícia. Eis mais um motivo para condenarem nosso futebol ainda mais às fogueiras da Inquisição! Eis mais um motivo para a choradeira do 7 a 1 se prolongar ao limite da insanidade!

Não vou vendar meus olhos. Nosso principal patrimônio está a anos-luz de distância do restante do planeta, sim. Mas antes de resolver os problemas físicos do esporte, convém mais tentarmos reparar os problemas passionais. Com a Copa América que passou, ficou claro que a América do Sul joga atualmente o futebol mais pé-sujo e roda-dura do mundo, assumidamente.

Mas olhem para os outros países que participaram. O Chile, atual campeão do torneio, sabe que o futebol do país não é e nunca foi dos melhores, mas isso os impediu de torcer apaixonadamente por La Roja? O coração deles estava no lugar certo, e o nosso também devia estar.

Por pior que esteja nossa situação, por mais corrupto e tosco que seja nosso futebol e por mais pena que dê ver tantas ‘arenas’ vazias, é necessário que o Brasil volte a se apaixonar pelo que temos em mãos. Nossos atletas precisam voltar a sentir que a nação está do lado deles, incentivando, torcendo por melhoras, sendo que atualmente talvez não haja ambiente mais negativo que o do mercado da bola no país.

Outro passo importante: Chega de complexo de vira-lata! Sugeri semana passada pra meia dúzia de jornalistas esportivos via Twitter que largassem a vida de comentaristas, arregaçassem as mangas e assumissem o comando do futebol brasileiro. Chega de chororô e autoflagelo!

Sendo tão inteligentes, estudiosos e donos da verdade como são, é de se esperar que depois de uma semana com eles no comando o público nos estádios superaria o da Bundesliga, e semana que vem o Del Nero agendaria DOIS amistosos contra a Alemanha no mesmo ano e a seleção ganharia os dois, na ida por 4 a 0 e na volta por 3 a 1. Se eles são tão bons e sábios como se julgam ser, PAREM DE FALAR E AJAM!

Há principalmente que se valorizar nosso produto nacional. Imaginem o impacto que teria na imprensa esportiva mundial se, num belo dia, Dunga chegasse aos nossos jogadores milionários e egocêntricos, que jogam no exterior e mandam e desmandam na CBF, e simplesmente dissesse ‘Querem saber? A seleção brasileira não precisa de gente mimada e egoísta como vocês! Nunca mais serão convocados enquanto eu estiver no comando. Temos tudo o que precisamos bem aqui em solo pátrio. Vão pastar!’ É um ufanismo meio cafona, sim, mas poderia funcionar para reunir o torcedor em volta da seleção brasileira novamente.

Como mostra o futuro técnico dos Canarinhos Levir Culpi, o segredo do sucesso de um time é a humildade. O torcedor se identifica com quem mantém os pés no chão. São pequenas coisas que poderiam fazer uma grande diferença na ‘Alegria Do Povo’ se alguém lá de cima resolvesse me ouvir. E sabem do que mais? Por pior que esteja nosso futebol e nossa seleção, temos que reconhecer um fato: Desde o ano passado NUNCA MAIS levamos de 7 a 1! Já é um bom sinal!


* Escritor e designer gráfico. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
cyberyanmar@gmail.com

Conheçam meu livro! http://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer

Um comentário: