Nossos novos imigrantes
* Por
Urda Alice Klueger
Sou uma apaixonada
pela América dita Latina e Caribe – andei um bocado por ela, já, e do Caribe,
num primeiro momento fiquei contente, é claro, mas um pouco receosa de abordar
aquela gente visivelmente nova no nosso país (sempre me chamaram a atenção por
sua elegância e porte), sem ter bem certeza se eram imigrantes ou não. Sabia
que os haitianos estavam chegando, mas seriam haitianas aquelas pessoas que eu
via? Sabia diversas coisas sobre o Haiti, como sua gloriosa independência em
1804 (antes de qualquer de nosotros), onde os haitianos botaram a correr até as
tropas que Napoleão mandou para subjugá-los, que sua língua primeira chamava-se
creole, e que tinham o francês como segunda língua – e como falo um pouquinho
de francês, ficava doida para abordá-los. Até que um dia arrisquei:
- Bonjour! Ça va? – e
um primeiro sorriso haitiano se abriu para mim, e uma nova amizade havia
começado. Esse primeiro amigo foi o Maxilien Thomas, de quem continuo sendo
amiga até hoje, um jovem haitiano cujos olhos brilham como estrelinhas e cujo
sorriso encanta!
Depois de Maxilien,
vieram outros e outros, e em cada um muitas surpresas e alegrias, pois se tem
gente educada, afável e refinada a chegar ao Brasil atualmente, são nossos
irmãos haitianos. (Um detalhe que pouca gente sabe: quase todos são formados em
curso superior, muitas vezes em mais de um, e dominam diversas línguas. Num
instante, começam a aprender o português.) Quis o acaso que eu descobrisse ser
vizinha de três grandes artistas plásticos chegados do Haiti: Oriol, Enock e
Marc. Pintam quadros tão maravilhosos, com tanta arte e tantas cores, que não
há quem não se impressione com a qualidade do que fazem!
Não é necessário
ser-se adivinho para se saber que viraram meus irmãos, meus amigos do peito, e
sua casa é o lugar onde procuro refrigério para poder descansar das minhas
correrias e conversar coisas inteligentes. Temos tal intimidade de almas que
até meu cachorro já dorme no colo deles.
Hoje sei reconhecer um
haitiano de longe, por seu porte normalmente esguio e sempre digno, por sua
elegância muito diferente da de qualquer brasileiro, por sua simpatia. E então
passo por um deles ou um pequeno grupo e digo:
- Bonsoir! Ça va? – e
tenho a certeza de que uma nova amizade começou!
Blumenau, 01 de Julho
de 2015.
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e
doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de mais três dezenas de livros, entre
os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e “No tempo das tangerinas” (12
edições).
O sentimento geral é de invasão, devido a nossa própria insegurança. A grande quantidade é fato. Vendo suas boas-vindas neste texto, Urda, fico imaginando se a hostilidade que se vê hoje nas redes sociais aconteceram nas ruas quando outros imigrantes chegaram há mais de um século.
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