quarta-feira, 15 de julho de 2015

Nossos novos imigrantes


* Por Urda Alice Klueger
                                   

Sou uma apaixonada pela América dita Latina e Caribe – andei um bocado por ela, já, e do Caribe, num primeiro momento fiquei contente, é claro, mas um pouco receosa de abordar aquela gente visivelmente nova no nosso país (sempre me chamaram a atenção por sua elegância e porte), sem ter bem certeza se eram imigrantes ou não. Sabia que os haitianos estavam chegando, mas seriam haitianas aquelas pessoas que eu via? Sabia diversas coisas sobre o Haiti, como sua gloriosa independência em 1804 (antes de qualquer de nosotros), onde os haitianos botaram a correr até as tropas que Napoleão mandou para subjugá-los, que sua língua primeira chamava-se creole, e que tinham o francês como segunda língua – e como falo um pouquinho de francês, ficava doida para abordá-los. Até que um dia arrisquei:
- Bonjour! Ça va? – e um primeiro sorriso haitiano se abriu para mim, e uma nova amizade havia começado. Esse primeiro amigo foi o Maxilien Thomas, de quem continuo sendo amiga até hoje, um jovem haitiano cujos olhos brilham como estrelinhas e cujo sorriso encanta!

Depois de Maxilien, vieram outros e outros, e em cada um muitas surpresas e alegrias, pois se tem gente educada, afável e refinada a chegar ao Brasil atualmente, são nossos irmãos haitianos. (Um detalhe que pouca gente sabe: quase todos são formados em curso superior, muitas vezes em mais de um, e dominam diversas línguas. Num instante, começam a aprender o português.) Quis o acaso que eu descobrisse ser vizinha de três grandes artistas plásticos chegados do Haiti: Oriol, Enock e Marc. Pintam quadros tão maravilhosos, com tanta arte e tantas cores, que não há quem não se impressione com a qualidade do que fazem!

Não é necessário ser-se adivinho para se saber que viraram meus irmãos, meus amigos do peito, e sua casa é o lugar onde procuro refrigério para poder descansar das minhas correrias e conversar coisas inteligentes. Temos tal intimidade de almas que até meu cachorro já dorme no colo deles.

Hoje sei reconhecer um haitiano de longe, por seu porte normalmente esguio e sempre digno, por sua elegância muito diferente da de qualquer brasileiro, por sua simpatia. E então passo por um deles ou um pequeno grupo e digo:
- Bonsoir! Ça va? – e tenho a certeza de que uma nova amizade começou!


Blumenau, 01 de Julho de 2015.


* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de mais três dezenas de livros, entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e “No tempo das tangerinas” (12 edições).

Um comentário:

  1. O sentimento geral é de invasão, devido a nossa própria insegurança. A grande quantidade é fato. Vendo suas boas-vindas neste texto, Urda, fico imaginando se a hostilidade que se vê hoje nas redes sociais aconteceram nas ruas quando outros imigrantes chegaram há mais de um século.

    ResponderExcluir