Evangelho
* Por
Emanuel Medeiros Vieira
“Vivemos em plena
cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o
funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que
Deus”. (Eduardo Galeano)
Missa, Missão, Missal
Luto (Perda e
Resistência)
Jogo de palavras.
O tempo como obsessão,
tudo é midiático, se evapora – nada perdura.
Nada?
Filosofemos sobre o
Nada.
Cruzada Eucarística,
Congregação Mariana, Ação Popular (AP),
tortura, processo – ir
para longe.
Era outro o teu
evangelho.
Que fazer com tanto
cupim na memória? Naftalina não basta;
O médico olha para uma
ressonância magnética (ou tomografia?), e informa com (simulada?) indiferença:
“Há um tumor”.
Receitas, papéis,
exames, uma manhã qualquer do século XXI.
Só no táxi entendes –
o que fazer com tudo isso?
Será um lugar-comum –
aviso: é preciso persistir: em cada canto da casa, no sótão, como travasse uma
guerrilha interior. São outros demônios.
Redação escolar, um
parreiral, papai discursando, presépio, peru de natal
E o menino inunda o
velho – um mar agora aterrado, outra ilha, pipa, bolinha de gude.
“Evita o
sentimentalismo”, exijo.
Todo mundo estava
vivo.
Sim, todo mundo estava
vivo.
(Salvador, julho de
2015)
* Romancista, contista, novelista e
poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis –
ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos
domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre
outros.
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