quarta-feira, 29 de julho de 2015

Além da escuridão

* Por Eduardo Paes


Inúmeras foram as vezes que me perguntei por que viajávamos para o vale quando algo não acontecia como o planejado. Era frio, longe, alto, faltava-me o ar só de pensar em caminhar os quinze quilômetros. Isso mesmo! Eu disse quinze quilômetros, até chegarmos perto do lago que ficava ao centro das formações montanhosas.

Tenho que admitir que, durante o poente e, mesmo ao amanhecer, a visão era estarrecedora, de abalar mesmo! O reflexo do sol no espelho d'água, o modo que ia aos poucos apagando as cores da mata, no caso do poente e, como as ia enaltecendo durante o amanhecer, mas a verdade é que, tirando estes detalhes recompensadores, confesso que os demais não me agradavam. O principal problema? Sempre que estávamos lá, bem, boas "coisas" não haviam acontecido. Depois, cá entre nós, caminhar quinze quilômetros... Acredito que não agrada muita gente.

Então ficávamos ali sentados em uma pedra, uma... duas... três horas e, simplesmente levantávamos e íamos embora. Agora você certamente poderá até pensar que éramos loucos... Há! E quando digo éramos, é porque hoje nós não vamos mais até lá, mas quero lhe dizer também que, curiosamente, e incrivelmente, depois nos sentíamos melhor... O fato de parecer ir até o fim do mundo, ou "onde o vento faz a curva", como dizia a minha avó, sempre nos fez não esquecer os problemas, mas, certamente, enxergá-los de uma maneira
melhor.

”Como isso é possível?”, aposto que você está se perguntando. Penso que cada um de nós há de ter um conceito seu para, de alguma forma, superar suas dificuldades, ou não tornar um problema maior do que ele realmente é.

De qualquer maneira, posso lhe garantir que, para nós, ir o mais longe possível e respirar, ver e sentir o que de mais belo pudéssemos encontrar, nos proporcionava essa reflexão. Entenda que, mais que escuridão, sempre perdurará a mais simples chama de luz que, pode estar guardada aí... No fundo do seu coração.


* Jornalista

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