quarta-feira, 29 de julho de 2015

Tecnologia, um catalisador do amor


* Por Mara Narciso

Enquanto alguns reivindicam o uso da internet às pessoas que sobre elas têm certa autoridade, outros estão se decidindo se isso é necessário ou não e ainda outros garantem não sentir falta dela. Não é possível ter saudades do que não se conhece, assim como é inviável não se utilizar dessa tecnologia. É como se negar a usar a luz elétrica.

Na era da industrialização a mecânica inundou o mundo, e desde o seu advento a internet fez o mesmo caminho, mostrando-se como um bem universal. A invasão foi tão rápida que ainda estamos tontos, tentando colocar ordem no uso dela, uma ferramenta com um poder tal que exige estudos, ainda que sua força esteja à vista de todos.

Primeiro veio a má fama, o destaque do lado perverso do ser humano, enquanto os benefícios simultâneos não gozaram da mesma divulgação. Falo da internet pessoal e seu uso caseiro, pois a universal instalou-se sem pedir opinião. Quanto mais a tecnologia é usada, bem usada, mal usada, exageradamente utilizada (desde as conexões discadas e caras, levando os estudantes a se ligarem nela após a meia-noite, e irem à escola de manhã com proveito zero), mais o vício é ventilado, tal como os crimes pela rede.

Não é recente, mas um aspecto palpitante é a ação desta ferramenta em despertar sentimentos, os mais variados, começando pelo ciúme, desejo e concretização de infidelidade, descobertas de traições, assim como início e fim de amizade e amor. Destila-se ódio pela rede. Uns atacam, outros defendem e ainda outros se omitem.

O mundo virtual copia a face social verdadeira, espelhando a realidade. Não são mundos paralelos e sim complementares, e o que se faz num afeta diretamente o outro. Isso precisa ser lembrado por todos. O rastreamento é possível, e, caso haja pontas soltas, o bem e o mal serão encontrados. O errado nem sempre se lembra disso. Estar conectado é ter acesso a tudo de bom e ruim que a sociedade produziu e produzirá. Cada um pode se utilizar dos caminhos possíveis, exatamente como na vida. As escolhas dependem da índole de cada um.

Reparo a força positiva das ferramentas Facebook e WhatsApp. A visibilidade, a aproximação e afastamento de pessoas queridas, a geração de novos afetos, a intensificação de sentimentos adormecidos mostra facetas daquilo que supúnhamos, sem saber o tamanho e a sua potência. Os ódios guardados no freezer podem vir à tona com o frescor da hora do acontecimento, assim como amores e amizades adormecidos podem voltar arrebentando, forçando emoções e despertando sentimentos gostosos ou dolorosos.

Há quem seja desinibido, comunicativo e que, em qualquer situação faça a festa, se dê bem, apareça, arregimente contatos, participe de festas, fique à vontade em qualquer lugar. Outros, mais fechados, tímidos, sérios e acanhados, conseguem pela tecnologia dar seus primeiros passos, fazer amigos, encontrar amores, reaproximar-se de colegas e parentes. Pessoas conhecidas mostram-se mais acessíveis, e as afinidades e diferenças se fazem ver e marcar.

Ainda que eu faça uso diário da internet desde a virada do século, me surpreendo positivamente em relação às oportunidades que a rede oferece, especialmente em relação à família maior, tios, primos, sobrinhos e afins. Há quase meio ano estamos em contato frequente, participando da vida uns dos outros e isso nos torna mais amigáveis, mais próximos, mais solidários e mais felizes.

Assim, só posso, estando satisfeita com os frequentes encontros familiares, propiciados em parte pela tecnologia, constatar que perde quem não a usa para se aproximar de gente, para vê-las, tocá-las, amá-las, convivendo com todas as suas características, boas e ruins, porque poucos são perfeitos. É a internet com seus prazeres e aflições, mistérios e revelações.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   

2 comentários:

  1. De fato, Mara. A web pode ser tudo de bom ou tudo de ruim. É terra de ninguém, a única regulamentação é o bom senso. Que tenhamos sempre, pois. Abraços.

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    1. Os prazeres têm suplantado os dissabores, ainda que muitos não coloquem limites em suas vidas (e em suas falas e escritas). Agradeço a manifestação, Marcelo.

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