quarta-feira, 22 de julho de 2015

Cartas que não se repetirão Nº 2 -  De Jorge Amado para Urda Alice Klueger


* Por Urda Alice Klueger


(Escrita em papel timbrado de Jorge Amado)


Sra.

Urda Alice Klueger

Blumenau – SC.



                                   Salvador, 20 de outubro de 1994.



Obrigado, Urda Alice, por sua carta de 12 de setembro de 1994 que venho de receber. Eu a respondo com esse bilhete curto que estou ditando à minha secretária Rosane.

Acontece que estou sofrendo de uma enfermidade nos olhos – na mácula da retina – e desde maio não lia nem escrevia. Falo no passado porque há uma semana recebi óculos especiais que me permitem ler, com esforço e dificuldade, e exatamente hoje devo começar a me exercitar num computador preparado especialmente para mim. Se eu conseguir dominá-lo, poderei voltar a escrever.

Esta pequena carta com que respondo a sua carta longa e bela, terna e generosa, eu a dito a Rosane somente para dizer a você quanto me agradou sua carta (Rosane chama minha atenção para o fato que estou repetindo a palavra carta pela 3ª. vez no mesmo parágrafo). Não importa, quero apenas dizer que suas lembranças e comentários – Erico Veríssimo e a cidade da Bahia – deixaram muito contente este seu velho amigo e confrade.

Gostaria que você me enviasse um livro seu, o de sua preferência. Você me diz que me mandou alguns, não sei quando e que eu retribuí mandando para você exemplar de “Os pastores da Noite”. Recebo muitos livros, leio apenas alguns, não me sobra tempo para todos. Mas quero ler imediatamente, com meus óculos novos recém vindos dos Estados Unidos, um livro seu.

Estou lhe enviando pelo mesmo correio um exemplar de “A Descoberta da América pelos Turcos”, livro que escrevi em 1991 e que somente este ano foi publicado no Brasil.

Quando vier a Bahia telefone-me (fone: 247-2165). Se eu não estiver, fale com a Rosane.

Recomende-me aos seus.

Zélia junta-se a mim para enviar a você um beijo afetuoso. Do

                                               (Assinatura)

                                               Jorge Amado

            Rua Alagoinhas 33 – Rio Vermelho – CEP 41910 – Salvador – Bahia – Brasil



(Digitalizado em 23 de junho de 2015, por Urda Alice Klueger, escritora, historiadora e doutora em Geografia – e-mail urdaaliceklueger@gmail.com .)

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de mais três dezenas de livros, entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e “No tempo das tangerinas” (12 edições).



Um comentário:

  1. Para escritor e leitor, ser impedido de executar o motivo da sua existência é mais que uma tragédia, é a morte.

    ResponderExcluir