terça-feira, 28 de julho de 2015

Carpe Diem


* Por Evelyne Furtado



Ainda sofro com fugacidade da vida. Das coisas boas, claro. A agonia é inevitável quando insisto em reter o bom comigo. É como desejar que a lua esteja sempre a banhar de luz o escuro da noite. É como não querer acordar de um sonho bom. Ou, ainda, segurar a felicidade quando esta escapa das minhas mãos e já me faz sofrer. Em cada perda significativa, sinto como se o mundo acabasse ali. Visto luto e pranteio por um bom tempo o fim de um projeto, por exemplo. Uma parte de mim vai com ele.

A percepção do membro perdido é assustadora. Como viver desintegrada daquilo que foi importante para mim? Por uns dias só há choro, raiva, desilusão. Depois vem a aceitação e a constatação de que é possível reescrever o roteiro de minha vida. A princípio, sem grandes pretensões. Um pequeno script pode fazer um bem enorme. É hora de soltar as amarras com o passado. Lembrar, sim, mas desde que a lembrança não signifique dor ou mágoa.

A vida é por si fugaz. Porque não o amor? O amor tem começo e fim. A gente vive bons momentos e sonha junto um mesmo sonho. Um dia essa comunhão finda. Não se tem mais a presença do outro, nem compartilha mais o mesmo sonho. A cobrança dá lugar às promessas. O amor, antes um bálsamo, torna-se a própria dor.

É hora de encerrar o pacto amoroso. Melhor mantê-lo na memória como algo especial vivido a dois. Há amores "que têm que morrer para germinar", como canta Gil, em sua belíssima canção.

Fecha-se um ciclo. Distancia-se daquele projeto de vida cultivado por um período. Passa-se a viver do que a vida nos oferece. Viver, segundo Horácio, grande poeta latino, que diante da brevidade da vida, aconselhou assim, um amigo em uma Ode: "seja sábio, beba seu vinho e para o curto prazo, refaça suas esperanças..." e completa "Colha o dia, confia o mínimo no amanhã".

Portanto, o fruto maduro deve ser degustado hoje, amanhã ele estará apodrecido.

Vivo meu momento Carpe Diem e vou tentar me manter assim.


* Poetisa e cronista de Natal/RN

Um comentário:

  1. Antes ou depois do momento exato, há o momento inexato. Viver é tão bom, não fossem os términos e as doenças/morte.

    ResponderExcluir