Carpe Diem
* Por
Evelyne Furtado
Ainda sofro com fugacidade da vida. Das coisas boas, claro. A agonia é inevitável quando insisto em reter o bom comigo. É como desejar que a lua esteja sempre a banhar de luz o escuro da noite. É como não querer acordar de um sonho bom. Ou, ainda, segurar a felicidade quando esta escapa das minhas mãos e já me faz sofrer. Em cada perda significativa, sinto como se o mundo acabasse ali. Visto luto e pranteio por um bom tempo o fim de um projeto, por exemplo. Uma parte de mim vai com ele.
A percepção do membro perdido é
assustadora. Como viver desintegrada daquilo que foi importante para mim? Por
uns dias só há choro, raiva, desilusão. Depois vem a aceitação e a constatação
de que é possível reescrever o roteiro de minha vida. A princípio, sem grandes
pretensões. Um pequeno script pode fazer um bem enorme. É hora de soltar as
amarras com o passado. Lembrar, sim, mas desde que a lembrança não signifique
dor ou mágoa.
A vida é por si fugaz. Porque não o amor? O amor tem começo e fim. A gente vive bons momentos e sonha junto um mesmo sonho. Um dia essa comunhão finda. Não se tem mais a presença do outro, nem compartilha mais o mesmo sonho. A cobrança dá lugar às promessas. O amor, antes um bálsamo, torna-se a própria dor.
É hora de encerrar o pacto amoroso. Melhor mantê-lo na memória como algo especial vivido a dois. Há amores "que têm que morrer para germinar", como canta Gil, em sua belíssima canção.
Fecha-se um ciclo. Distancia-se daquele projeto de vida cultivado por um período. Passa-se a viver do que a vida nos oferece. Viver, segundo Horácio, grande poeta latino, que diante da brevidade da vida, aconselhou assim, um amigo
Portanto, o fruto maduro deve ser degustado hoje, amanhã ele estará apodrecido.
Vivo meu momento Carpe Diem e vou tentar me manter assim.
*
Poetisa e cronista de Natal/RN
Antes ou depois do momento exato, há o momento inexato. Viver é tão bom, não fossem os términos e as doenças/morte.
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