terça-feira, 14 de julho de 2015

Dia ensolarado

Por Eduardo Oliveira Freire



- Mãe é só a gente?

- Sim.

- E o pai e a mana?

- Estão em casa. Só a gente vai para a casa de campo.

- Legal!!! Mas, você não está braba comigo?

- Não. Você fez alguma coisa de errado?

-Não. A viagem dura quanto tempo mesmo?

- Duas horas.

 Sofia  viu o filho dormir ao seu lado. Era um olhar de ternura. Estava cansada, não gostava de dirigir e principalmente para lugares distantes. Não queria parar, desejava chegar logo.  Chegaram ao entardecer. Ela preparou um lanche bem caprichado para o filho. Ele estava radiante por estar só com a mãe.

- Mãe, amanhã vou tomar banho de piscina, andar de bicicleta e andar pela mata.

– Vou fazer tudo isso com você.

Quando o garoto dormiu. A mãe ligou para a casa:
– Oi amor,  como está Aline?

- Tá com febre e muito agitada. E aí...

- Tudo certo.

- Espero que tudo corra bem...

- Conversamos depois... me deseja sorte.

- André tá dormindo? Queria falar com o meu filho...

- Melhor não Rodrigo, deixa tudo como está.

Foi uma semana maravilhosa para André. Só fez o que queria. A mãe não colocou nenhum limite. Ele tinha doze anos. Sofia quando o via nadando e correndo pela mata, ficava admirada. Percebia como o seu filho crescia, porém ao se lembrar do motivo de estar ali, sentia-se triste.

–  Mãe, que olhar triste é esse?

- Nada filho. É bobagem sua.

- Hoje é domingo, que horas a gente vai embora.

- Ficaremos até segunda.

- E a escola?

- Não esquenta. Um dia sem ir...

- Tá bom.

Noite. André tomava banho. Sofia ligou para casa.

- Me deseja sorte. A Aline tá bem?

- Continua muito doentinha... parece ser emocional.

- Cuida dela. Tudo vai ficar bem.

Ela foi à cozinha. Colocou um sonífero no refrigerante do filho, começou a chorar, mas, não desistiu do que faria. “É para o bem de todos”. André saiu do banheiro e foi para a mesa. Alguns minutos, o menino sentiu muito sono e a mãe o ajudou ir para cama. Sofia pegou uma pequena faca e cortou a garganta do filho, o sangue jorrou pela cama e na roupa da mãe. Desesperada, urrou como se tivessem dilacerado o seu ventre. Abraçou o cadáver do filho.

André era um menino cruel. Torturava e depois matava vários animais de estimação que a família pegava para criar. Espancava os colegas da escola e da rua. Manipulava todos com sua inteligência doentia. Os pais procuraram os melhores psicólogos e psiquiatras, contudo, nenhum tratamento dava jeito na sua essência má. O estopim foi quando ele violentou a irmã mais nova, que tinha apenas quatro anos.

- Adeus meu filho. Que sua alma demoníaca encontre salvação. Tenho que crer nisso...    


* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, está cursando Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor

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