Devaneios de uma roqueira 7
* Por
Fernando Yanmar Narciso
CAPÍTULO 3
Now a little bit ‘bout
me...
Pelo que venho
contando já há algum tempo, deu ‘procêis’ se ligarem que eu não sou exatamente
a mocinha limpinha e pudica que a mãe apresenta ao filho, né verdade, moçada?
Pra mim, um dia sem boas doses de sexo, rock, caos e meu Kurt Cobain é como
chuva sem água. Simplesmente uma obra de arte incompleta.
Desde menina minha
relação com o rock tem sido uma experiência libertadora. Como mãe sequer lavava
minhas calcinhas e até hoje finge que eu não existo, ela pouco se importava se
eu ligasse um som tão alto que fizesse os pedaços de mofo se soltarem do teto
do apê em ‘belzônti’. Tocando na vitrola bossa nova ou o disco mais berrado do
Mudhoney, ela não ‘tava’ nem aí, nem quando os vizinhos vinham esmurrar a porta
da frente reclamando. Mesmo tendo começado minha vida sexual muito nova, Dna.
Maria Ibanez continuava sem falar comigo ou perguntar quem era o boyzinho
entrando comigo no quarto. Velha doida...
Admito, talvez com
alguma modéstia, ser uma pequena virtuose nas seis cordas. Aos cinco anos já
conseguia tirar de ouvido qualquer som que me apresentassem. Mas, apesar de a
profissão de professora de música exigir certa erudição, assim que apago as
luzes da classe, prefiro tentar esquecer que entendo as partituras de Franz
Liszt e Beethoven.
Dick Peterson,
vocalista da banda de blues psicodélico Blue Cheer- Já ouviram falar? Pois
deviam!- dizia: ‘Rock n’ Roll são 10% de técnica e 90% de atitude. Uma nota com
a atitude certa vale mais que 60 notas sem atitude’. Feeling is everything!
Todas as minhas bandas favoritas nasceram e morreram na garagem, entorpecidas
em crueza, sinceridade e produção mambembe, quase artesanal, mas cheias de
alma.
Já fiquei de saco cheio
de tanto atender pedidos em nossos shows de ‘toca solo-tal de música-tal’ de
Steve Vai, Joe Satriani, Eddie Van Halen ou de qualquer outro guitarrista
‘punhetinha’ que meus alunos tanto idolatram. O que aqueles guitarristas
egocêntricos tocam desafia as leis da física, certas músicas eu até curto, mas
quase tudo que compõem segue o estilo ‘disparo 500 notas por segundo, todas
aleatórias, nenhuma com sentimento’.
Eu não sou como
aqueles malucos narcisistas! Eu não canto, eu RUJO! Eu não extraio melodias do
instrumento, eu o faço implorar por misericórdia! Mas não chego a ser como
certos punks xiitas que se recusam a solar, mesmo sabendo. Eu e Barbie
conseguimos conduzir verdadeiras jam sessions de rock progressivo e acid blues
em nossos shows, mas uma coisa que não fazemos é desperdiçar frases de
guitarra.
‘Nóis’ pode até viajar
na maionese por mais de 20 minutos, mas se eu não conseguir tocar fundo na alma
de pelo menos um no meio da multidão, perdi meu tempo. Vou dizer uma coisa
muito engraçada: As Margaridas Psicóticas podem até ser uma banda à moda dos
anos 60, mas além do som daquela época Barbie é fã de armário do Glam Metal pop
dos anos 80!
Metal-farofa! Dá pra
acreditar? Lembram dos cabelões de ovelha, das cores fluorescentes e da
maquiagem?
O lado dela no quarto
tem seu pôster de Jim Morrison, paixão da vida dela, mas tem uns 50 vinis de
metal-farofa escondidos no guarda-roupa. Precisam ver as reações da plateia
quando resolvo sair do palco pra tomar um ar e Bárbara tira uma baladinha dos Scorpions
ou do Bon Jovi da cartola! É sempre hilário, especialmente porque em vez de
guita, ela toca aquelas músicas chicletentas num saltério elétrico! (Risos)
Não somos tão
excêntricas como ‘ocêis’ podem imaginar. Sou uma pessoa como qualquer outra,
tenho minha sorte de fetiches como qualquer mulher. Apesar de não seguir o look
‘piriguete’, sou viciada em usar roupas justíssimas. Minha família diz até que
minhas calças jeans são tão apertadas que eu preciso passar graxa de máquina
nas pernas para poder caber dentro delas, maldade...
I dunno, só gosto de
sentir cada parte de meu corpo forçando as fibras do tecido enquanto ando, a
ponto de a roupa quase se desfazer. Dá-me um tesão esquisito sentir meus fartos
seios sufocados, minha bunda se dobrar dentro das calças como uma tapioca... É
quase masoquismo de minha parte, numa cidade tão fria quanto São Modesto, eu só
andar por aí de calça jeans stretch e camiseta baby-look do tamanho de uma
flanela. (Risos)
Mas certas peças de
roupas me são indispensáveis: Minha bandana preta de estimação, minha
coleirinha de espetos, meu ‘pingente de azar’ em forma de Espadas, meus tênis
All-Star vermelhos surrados que uso há dez anos e qualquer peça de roupa
amarela ou verde. Agora, se me dão licença, ainda estou dormindo. Quem vos
falou foi meu estabanado subconsciente. Falta ainda uma meia hora de sono até
que o alarme do celular dispare então good night! See y’all later!
Alexia, sua não tão
confiável narradora.
*
Escritor e designer gráfico. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
cyberyanmar@gmail.com
Conheçam
meu livro! http://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer
Essa Aléxia é doida demais.
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