quarta-feira, 15 de julho de 2015

Da dor


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Quando criança a dor tem uma cor diferente, ela destoa, abre pequenas chagas que logo cicatrizam, se  evaporam na proporção que crescemos. A dor toma ares de vaga lembrança, uma sacudida de ombros espanta o banzo.

Adultos, a dor incorpora-se, vira entidade, cresce, toma espaço, sufoca. Acompanhamos o definhar de alguém que já foi teu, de alguém que te acenava com as mãos, mas logo voltava...

Assistimos a vida se esgotando, se esvaindo que nem água que desce pelo ralo cheia de sabão. Tocamos um corpo que alheio ao beijo, ao abraço, se aninha no calor de um velho cobertor.

O coração se estraçalha diante de um quadro que é natural, nos cobrando a razão.

Deus... entender Vossos desígnios, aceitar o curso da natureza com resignação, é o que nos resta. Permita-me então ao abuso de Vos pedir misericórdia e serenidade para não desabar quando nossos olhos cerrarem-se  por completo. E que assim seja...

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


Um comentário:

  1. É quase impossível desapegar-se de pessoas que estão na nossa frente, mas que já se foram há tempos.

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