sexta-feira, 7 de março de 2014

As maiores férias de sua vida (Narradas pela Xuxa!)


* Por Fernando Yanmar Narciso

E aí, baixinhos? É, vocês aí no morro, na periferia ou onde quer que estejam! A vida não tem cuidado bem de vocês ultimamente? Pais ignorantes e brutos, escolas péssimas, desespero, pobreza absoluta... Deus se esqueceu mesmo de registrar vocês na lista de abençoados. Então, o que têm a perder? Nada! Façam como a maioria dos jovens de sua comunidade. Passem a mão num ferro e venham para a vida de crimes vocês também!

É um barato! Vocês nunca saberão o que vai acontecer hoje ou amanhã. Enfrentando o perigo em cada esquina, destruindo bancos, lares, lojas e vidas, correndo o risco de tomar um tiro na cabeça a qualquer momento... Pura curtição! Quer emoção maior e mais intensa que despistar os meganhas, as gangues rivais e os justiceiros do bairro todos os dias? UHÚÚÚÚÚ! E se o fruto de seu roubo terminar mais cedo que o planejado, não tem problema. Basta cometer mais uma atrocidadezinha aqui e acolá para conseguir sobreviver até o fim da semana. Tira o pé do chão!

Se andar com uma Glock no bolso não for lá sua praia, há sempre alternativas para o baixinho e a baixinha desesperados que não têm nada a perder. Basta olhar ao seu redor, aposto que há umas duas bocas de fumo em sua rua ou uma cracolândia precisando de, por assim dizer, uma nova gerência, não tem? Comece a escalar a cadeia alimentar do narcotráfico e, se chegar vivo ao fim do ano, pode até sonhar com o estilo de vida daqueles traficantes de filme americano.

Já pensaram, baixinhos? Carrão tunado com calotas douradas que continuam girando mesmo com o carro parado, ternos de couro de crocodilo tingido de roxo, banheira cheia de champanhe, vagabundas sempre ao seu redor, PMs comendo na sua mão, armas e aparelhos dentários folheados a ouro e cravejados de brilhantes, mesmo sem você precisar de aparelho... Ô vida boa! Pode não ser uma vida das mais longas, mas deve valer demais a pena!

É claro que nem sempre as coisas saem conforme o planejado, as facções rivais podem chegar antes dos porcos fardados e te moer na bala, ou a polícia cedo ou tarde pode te algemar e pôr no porta-malas da viatura. Mas não precisa entrar em pânico, baixinho. Afinal, se eles te prenderem, você vai pra... PRISÃO! ÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!!! É ali que começam os mais longos e divertidos dias do resto de sua vida, uma colônia de férias que pode ter um fim a qualquer momento. Imagine a sensação de dormir numa cela, originalmente projetada para cinco detentos, abarrotada com mais de 30 marginais.

Imagine o cecê dessa gente esfregando o sovaco suado e cheio de doenças na sua cabeça... Eu sei, mais parece uma micareta de 5ª categoria, mas uma micareta que continua indo, indo, indo... Como ninguém ali pode ter um relógio, o sol é a única pista que você terá da passagem do tempo. Divertido, não é, galerinha? Dias e dias de putrefação física e moral ininterruptas, dentro de um zoológico humano com o fedor da morte em cada metro quadrado.

Mas não precisa ficar desesperados! Aqui, atrás das paredes mais grossas já projetadas, há diversão para todos, como o sempre concorrido e humilhante banho diário de sol- sem filtro solar, é lógico, quentinhas intragáveis, guerra entre gangues do pavilhão, a pancadaria diária, cortesia dos guardas, as torturantes visitas do advogado e da esposa vadia que ficou na miséria depois de seu cárcere, sem falar na diversão mais antiga e conhecida da história do sistema prisional: O estupro coletivo! Se não tiverem tendências homoafetivas, é melhor torcer para que suas bitolas aprendam a produzir ácido muriático!

Depois de tanto tempo de farra ininterrupta, cedo ou tarde as coisas na prisão podem começar a perder o gás, e o tédio pode voltar ao seu cardápio. Mas para quem quer se divertir, não há barreiras. Basta dar o pontapé inicial na maior tradição prisional: HORA DA REBELIÃO! É pura adrenalina! Pegue seu coleguinha mais chegado de cela e arranque a cabeça dele com um estilete, e filme o decapitado com seu smartphone, sabiamente escondido por sua “mina” no bolo de aniversário.

Não importa quem apareça na sua frente, é só cair matando como um ninja. Faça com que os jornais saibam quem você é, dê entrevistas incompreensíveis para o programa do Marcelo Rezende ou do Datena, toque fogo em colchões, enforque policiais, dê tiros pro alto, faça sua voz ser ouvida! Logo, estará mais em evidência que aquelas crianças americanas, que resolvem se vingar dos valentões do colégio passando fogo na sala de aula inteira. No entanto, assim como todos eles, você logo morrerá pelas mãos da polícia ou de seu rival no pavilhão, e será esquecido.

Mas e daí, baixinho? Pelo menos você deu seu recado ao mundo e se divertiu a valer! Quer mandar beijinho pra quem?

*Designer e escritor. Sites:


Um comentário:

  1. Endoidou geral. Humor negro, digo, humor obscuro e tétrico, mas humor, enfim. Mais pesado do que jamanta carregada na banguela.

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