domingo, 23 de março de 2014

O posto do Zé Pereira


* Por Leandro Barbieri


Região central de São Paulo. O posto de gasolina é um daqueles que perdeu a bandeira e se manteve com um nome exótico. Depois das dez da noite o movimento é pequeno. Mas fica aberto vinte e quatro horas. Claro, tem loja de conveniência.

A loja e o posto são do mesmo dono. Um turco que não é de freqüentar. Só retira. A administração fica por conta dos funcionários mais antigos. Nas bombas, seu Jorge. No balcão, o Bira. Se detestam.

A picuinha começou na sinuca do bar. Mas ninguém sabe o motivo. Primeiro porque faz tempo. Segundo porque, dos funcionários atuais, só o Morais já trabalhava lá na época. E ele não estava muito lúcido naquele dia. Formaram-se dois grupos. Concorrentes. Os ramos são diferentes. O patrão é o mesmo. Mas concorrem.

O cliente estaciona no posto. Manda abastecer. Ameaça comprar uma balinha ou beber alguma coisa e é imediatamente impedido pelo papo de algum frentista. Desaconselhos, distrações. Vale tudo. Mas nem sempre funciona. Aí partem pra provocação:

Chama o balconista de Paraíba!

O Bira detesta esse apelido. Primeiro porque é pejorativo. Segundo porque Salvador não fica na Paraíba.

-Paraíba? Chama ele de Zé Pereira.

Aí é Seu Jorge que espuma de raiva. Ninguém entende porque. Mas espuma.

A provocação ficou famosa. Os clientes mais antigos já chegam gritando. Fala Zé Pereira! Manda uma Coca, Paraíba! Tem dias que se arrependem. Não deviam ter espalhado.

* Roteirista, diretor e pesquisador de Telenovelas nacionais. Escreveu Retrato da Lapa  (a primeira novela da TV a Cabo brasileira) e Umas & Outras (a primeira novela da Internet), as quais também dirigiu em parceria com Silvia Cabezaolias. Assina o roteiro da webnovela Alô Alô Mulheres na allTV, onde é diretor do núcleo de dramaturgia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário