quinta-feira, 27 de março de 2014

Diário de um jornalista atormentado

* Por Vitor Orlando Gagliardo

Roberto está sentado em sua cama, com o rádio ligado e lendo o jornal. Leu uma ou outra matéria sem muita atenção. Está pensando em outra coisa. Fechou os olhos, respirou fundo e separou os cadernos de esportes e emprego. Para sua tristeza, nenhuma novidade: seu time mais uma vez perdeu e nenhuma oportunidade de trabalho.

Roberto é jornalista. Desde criança era seu sonho. Suas redações sempre foram elogiadas durante seu período colegial. Na faculdade conseguiu fazer bons estágios, mas nenhum que garantisse a chance de ser efetivado.

A canção no rádio é uma de suas preferidas. Por um instante, perde-se em seu inconsciente. Rapidamente, volta ao normal.

Roberto resolve sair para dar uma volta. Na primeira esquina encontra uma senhora que não via há anos. Dona Magali era uma viúva por volta de seus 70. Foram vizinhos durante anos. Em uma rápida conversa (não para Roberto), Dona Magali pergunta sobre sua profissão. Quando ele disse que era jornalista, ela não se conteve e sorridente falou:
- “Ainda vou te ver na bancada do Jornal Nacional”.

Roberto despediu-se rapidamente e seguiu seu caminho. Aquela frase não era novidade. Soava como um bom e velho clichê. Mas não era a frase que pretendia ouvir, ainda mais naquele momento. Definitivamente, não era.

Desde que se formou, lutava para conseguir um emprego fixo na área. Participava de palestras, congressos, cursos e nada. Procurava se atualizar a cada momento. Para sua sorte contava com ajuda financeira dos pais.

Nesse pouco tempo de formado fazia seus bicos na área. Sempre atuando de forma autônoma, conseguia uns trabalhos de assessoria, mas nada que garantisse seu sustento.

Nos últimos dias, depois de tanta insistência, conseguiu um contato com uma editora de uma grande revista de circulação nacional. Após várias pautas recusadas, ela aceitou a mais recente.

Diante da possibilidade da publicação de sua matéria, Roberto não conseguia dormir nem se alimentar. Estava ansioso, inquieto. E se a matéria caísse? Ele preferia nem pensar nisso, embora o assombrasse.

Faltando um dia para a revista chegar nas bancas, Roberto olhava para o relógio (e a hora teimava em não passar). Foi no jornaleiro três vezes e nada. Só no dia seguinte conseguiu comprar a revista.

Roberto conseguiu. Não conteve sua emoção e mostrou para todos (conhecidos ou não) seu texto. Ligou para a amigos e familiares.

Dois meses após a publicação, Roberto segue confiante e na maioria das vezes ansioso, para conseguiu mais um aval da editora para iniciar a matéria. Ele agora é freelancer. Mas até agora ela não respondeu e ...    


* Jornalista 

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