terça-feira, 18 de março de 2014

Olhos azuis, cabelos pretos de Marguerite Duras

* Por Eduardo Oliveira Freire

A imagem do título veio a minha mente como características não muito comuns do que se vê por ai. Uma pessoa loira de olhos claros é mais corriqueiro, por exemplo. Portanto, o título se refere a um personagem de passagem, um estrangeiro-exótico que se transforma em uma quimera para uma mulher de comportamentos não covencionais e um homossexual. Ele será o elo que ligará estes dois personagens.

O homossexual é apaixonado por uma visão, apenas conheceu o rapaz de vista. Ela ama uma ilusão, conheceu-o somente por encontrá-lo num hotel. Desesperados e melancólicos por perder o rapaz de olhos azuis e cabelos pretos, o homem e a mulher se encontram num café e começam a construir uma estranha relação. Com o passar do tempo, essa mulher apaixona-se por esse homossexual que sente atraído, com medo e repulsa dela, em vários momentos. Todavia, insiste em vê-la nua e lhe toca enquanto ela dorme. O livro mostra uma crise existencial entre os dois personagens.

Principalmente, por serem à margem da sociedade convencional. Na narrativa não há nomes. Mostra o intervalo que a mulher e o homem ficam isolados a espera do moço estrangeiro e, ao decorrer da narrativa, começam a se apaixonar e experimentar sensações vertiginosas.

“ A uma determinada hora da noite não há mais nenhum ruído em torno da casa. Com a maré baixa àquela distância do quarto ouve-se apenas o martelar espaçado da arrebentação, sem eco algum. Nessa treva não há mais latidos de cachorros ou sacolejar de caminhões. É depois das últimas caminha, ao aproximar-se do dia, que as horas se esvaziam de toda substância até se tornarem espaços nus, areias de pura travessia. Então a lembrança do beijo fica muito forte, queima-lhe o sangue, faz com que não falem, eles não podem.”

A linguagem do enredo tem uma estrutura teatral. Cada parágrafo é uma cena e há também, pelo que me parece, uma metalinguagem.

“ No fundo do teatro, diz o ator, teria havido uma parede azul. Essa parede fechava o palco. Era maciça, exposta ao crepúsculo, fronteira ao mar. Originalmente teria sido um forte alemão abandonado. Essa parede era definida como indestrutível, embora seja açoitada pelo vento do mar, dia e noite, e receba cheio as tempestades mais fortes.O ator diz que em torno dessa parede e do mar o teatro fora construído, para que o rumor do mar, próximo ou distante, esteja sempre presente no teatro.”.

OLHOS AZUIS, CABELOS PRETOS é tão bem escrito e vertiginoso como O AMANTE, elaborado pela mesma escritora.

PS: Comprei este livro e mais alguns por 1 real numa feira de livros. Como o significado de tesouro pode ser tão subjetivo para cada um...

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



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