domingo, 9 de outubro de 2011







Poema para São Paulo

* Por George Duhamel


E os grãos de café atrás do vidro à ventania do catador
“feito em São Paulo”, desta vez.
Orgulhoso São Paulo! com seus homens ásperos,
suas mulheres finas, seus algarismos, suas usinas, seus rancores:
- Mandíbulas terríveis, cerradas, o ponteiro marcando no quadrante os décimos de atmosfera – trabalha já, soltando fardos sobre fardos.

Cada fardo vestido de estopa grossa e atado por cintas de
aço, enorme e cúbico como um armário:
teus futuros armários de roupa branca, velha Europa! Lençóis e lenços, ceroulas e toalhas...

São Paulo, que, no Golfo a Mato Grosso,
pesa como um bloco de aço. E é ele que parece
puxar para baixo toda a América, puxar para o Brasil
para os pensamentos frios expostos ao contato do Pólo.

Porque é em vão que o continente arfa sob o Equador e que os trópicos incham como velas.
São Paulo pesa, mantendo o Brasil como uma âncora.
No entanto, uma vaca muge, à moda européia, no cercado de eucaliptos.
E os periquitos e as rolas esvoaçam entre as palmeiras e
os cipós, enquanto as colinas perfilam por milhões seus cafeeiros.
E o beija-flor vibra e vai-se, rodopiando como uma alma.
E para o céu, como uma estrela antecipando o Cruzeiro do Sul,
sobe o sol altivo de São Paulo!

(Tradução de Manuel Bandeira).


• Escritor, poeta e médico francês

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