terça-feira, 25 de outubro de 2011







Dez passos

* Por Evelyne Furtado

Eram dez passos contados entre ela e a porta. Dez passos para libertação e uma força monumental paralisando-a.
Berggasse, 19. O endereço que a perseguia em sonhos há meses. Fixação e motor de seus atos nos últimos dias.
A noite caía e seus ossos tremiam. Fazia muito frio naquele outono. Era Outubro em Viena, no começo do século XX.
A mulher no passeio encolhia-se. Chegara a seu destino, mas não reunia coragem para entrar. Não sabia como se portar. Não fazia parte daquele tempo, daquele grupo, nem daquela gente que a fascinava.
Não se tem notícia de quanto tempo durou o impasse. Ninguém contou. Mas há quem lembre da mulher a dez passos de desvendar seus sonhos.
Não se sabe se chegou a entrar. Nunca mais a viram por lá. Não sabem, também, que no século seguinte, uma mulher protege-se do sol, em uma cidade tropical e coleciona sonhos em um envelope onde se lê Berggasse, 19, em caligrafia grande e caprichada.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

3 comentários:

  1. Caramba, que multidimensão temporal. Um pequeno texto, um grande nó na cabeça. Adoro paradoxos assim. Ainda mais no seu inconfundível estilo, Evelyne. Muito bom.

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  2. Vou acabar me apaixonando por Freud através dos seus escritos, Evelyne. Vale a sinopse de um filme, um mix de tempos, num mesmo espaço. Quão maravilhosa é a literatura que nos permite caminhar seus passos através de suas palavras e chegar à porta. Eletrizante! Agora, vamos a continuação, ao encontro, afinal, quando poderá entregar-lhe o envelope dos seus sonhos.

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  3. Marcelo e Mara, eu sou apaixonada por ele, sim, rs. Estava conhecendo melhor Jung e escrevi sobre Freud. Quem explica? Beijos e obrigada, queridos.

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