Olhar, sentir, contemplar
* Por Mara Narciso
* Por Mara Narciso
Pobres artistas! Além de fazer obras belas e criativas, renovar-se a cada temporada, têm de suportar perguntas dos observadores dos seus quadros, exigindo explicações. O que significa isso? O que você quis dizer com aquilo? Quando você começou a pintar essa tela, já sabia aonde iria chegar? Você faz projeto do quadro, elabora esboço, tem em mente o que vai colocar? Ou tudo vai acontecendo ao acaso, surgindo este ou aquele elemento? E quando está completo dá um clique? Quantos quadros há, quantas serão as possibilidades de questionamentos.
Pacientemente Sérgio Ferreira responde às perguntas. “O quadro já está dentro da gente”, explica, e “muito do que acontece é intuitivo”. A Exposição “Em todos os Sentidos” apresenta obras de arte como telas, esculturas, móveis e objetos, mostrando vertentes da arte de Márcia Prates, Sérgio Ferreira e Carlos Araújo. O vernissage foi dia 20 e a exposição vai até o dia 29 de outubro.
A Casa de Cultura Márcia Prates tem cara de artista e da artista. Tudo lá é bonito, com jeito de único no mundo, onde apenas casas de artistas conseguem ser. Nada é em série, e cada detalhe faz gosto de se ver. Da disposição do telhado até a torneira todas as coisas são exclusivas e despertam curiosidade. Cada canto é uma surpresa de potinhos, cerâmicas, plantinhas, móbiles, cartões, ralos gigantes, material de demolição, banheira com pastilhas multicoloridas e uma boa conversa com muitas risadas.
Do outro lado está a exposição. Na varanda, vasos de flores lembram as janelas francesas floridas, pois Márcia Prates acaba de voltar de Paris, onde fez uma exposição, inclusive parte de seus quadros ainda não chegou. Ainda assim mostrou uma leva de novas tendências. Disse que as telas com figuras rupestres seguem uma técnica e têm imagens pré-selecionadas. As demais surpreendem até a ela, pois vão acontecendo diante dos seus olhos, sem nenhum projeto ou previsão. Continua usando pigmentos naturais de terra, inclusive o vermelho vivo. Tem uma Nossa Senhora Morena, com um véu branco e uma coroa de rosas sobre o véu, um Cristo cuja estranha lágrima surgiu na secagem, e uma Frida Kahlo e seus bichos. Um quadro traz elementos barrocos, e ainda outros apresentam natureza morta com flores. Os temas estão diversificados, e o estilo de Márcia Prates mantém-se suave e característico.
O casario de Carlos Araújo é tema recorrente, entre coloridos e em preto e branco. As casinhas parecem sorrir com seu jeito de brinquedos, num repetir sem fim. Mas também podem significar tristeza. As suas esculturas em preto mostram mulher, pantera, busto egípcio, e outras formas arredondadas, elegantes e harmoniosas. Sem contar o seu ótimo senso de humor e a sua risada cristalina.
Entre os móveis de Sérgio Ferreira, uma imponente mesa de jantar rústica com uma pedra verde central ao longo do artefato, mostra equilíbrio e força. Duas mesas de centro misturam metal e madeira, sendo peças funcionais e decorativas. A escultura de um gato em metal mostra a pujança da imaginação de Sérgio Ferreira, que criou um felino arrepiado num formato absolutamente inesperado. A corcova arredondada do bichano com seu olhar redondo farão a festa e a beleza do jardim de uma mansão por aí. Outra peça, de rara beleza, elaborada em metal rústico e madeira, lembra uma floresta calcinada pela sanha humana. Há uma tela sobre metal, e outras menores com figuras femininas misteriosas que sugerem couro em suas tonalidades amarronzadas. Os painéis e suas caras pequenas dispostas em três espirais mostram um movimento vertiginoso de uma megalópole que bem pode ser Nova Iorque. O artista não desmentiu essa possibilidade. Brincando entre o erótico e o sagrado, três mulheres que devem ser uma só, aparecem sob véus, misturadas numa sutil ideia fúnebre, talvez. A tela que mais dará o que falar mostra um dorso de homem nu, envolto em bandagens, sendo uma delas sobre as suas nádegas. Um anzol tenta capturá-lo pela cintura. Indagado sobre os significados dessa situação de pesca sobre fundo azul, Sérgio Ferreira diz se sentir um pouco preso, às vezes.
Finda a contemplação, a boa conversa com os três artistas ao sabor de vinho tinto complementou uma exposição de muito fôlego, em todos os sentidos. Porém restou a vontade de voltar.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-
Pacientemente Sérgio Ferreira responde às perguntas. “O quadro já está dentro da gente”, explica, e “muito do que acontece é intuitivo”. A Exposição “Em todos os Sentidos” apresenta obras de arte como telas, esculturas, móveis e objetos, mostrando vertentes da arte de Márcia Prates, Sérgio Ferreira e Carlos Araújo. O vernissage foi dia 20 e a exposição vai até o dia 29 de outubro.
A Casa de Cultura Márcia Prates tem cara de artista e da artista. Tudo lá é bonito, com jeito de único no mundo, onde apenas casas de artistas conseguem ser. Nada é em série, e cada detalhe faz gosto de se ver. Da disposição do telhado até a torneira todas as coisas são exclusivas e despertam curiosidade. Cada canto é uma surpresa de potinhos, cerâmicas, plantinhas, móbiles, cartões, ralos gigantes, material de demolição, banheira com pastilhas multicoloridas e uma boa conversa com muitas risadas.
Do outro lado está a exposição. Na varanda, vasos de flores lembram as janelas francesas floridas, pois Márcia Prates acaba de voltar de Paris, onde fez uma exposição, inclusive parte de seus quadros ainda não chegou. Ainda assim mostrou uma leva de novas tendências. Disse que as telas com figuras rupestres seguem uma técnica e têm imagens pré-selecionadas. As demais surpreendem até a ela, pois vão acontecendo diante dos seus olhos, sem nenhum projeto ou previsão. Continua usando pigmentos naturais de terra, inclusive o vermelho vivo. Tem uma Nossa Senhora Morena, com um véu branco e uma coroa de rosas sobre o véu, um Cristo cuja estranha lágrima surgiu na secagem, e uma Frida Kahlo e seus bichos. Um quadro traz elementos barrocos, e ainda outros apresentam natureza morta com flores. Os temas estão diversificados, e o estilo de Márcia Prates mantém-se suave e característico.
O casario de Carlos Araújo é tema recorrente, entre coloridos e em preto e branco. As casinhas parecem sorrir com seu jeito de brinquedos, num repetir sem fim. Mas também podem significar tristeza. As suas esculturas em preto mostram mulher, pantera, busto egípcio, e outras formas arredondadas, elegantes e harmoniosas. Sem contar o seu ótimo senso de humor e a sua risada cristalina.
Entre os móveis de Sérgio Ferreira, uma imponente mesa de jantar rústica com uma pedra verde central ao longo do artefato, mostra equilíbrio e força. Duas mesas de centro misturam metal e madeira, sendo peças funcionais e decorativas. A escultura de um gato em metal mostra a pujança da imaginação de Sérgio Ferreira, que criou um felino arrepiado num formato absolutamente inesperado. A corcova arredondada do bichano com seu olhar redondo farão a festa e a beleza do jardim de uma mansão por aí. Outra peça, de rara beleza, elaborada em metal rústico e madeira, lembra uma floresta calcinada pela sanha humana. Há uma tela sobre metal, e outras menores com figuras femininas misteriosas que sugerem couro em suas tonalidades amarronzadas. Os painéis e suas caras pequenas dispostas em três espirais mostram um movimento vertiginoso de uma megalópole que bem pode ser Nova Iorque. O artista não desmentiu essa possibilidade. Brincando entre o erótico e o sagrado, três mulheres que devem ser uma só, aparecem sob véus, misturadas numa sutil ideia fúnebre, talvez. A tela que mais dará o que falar mostra um dorso de homem nu, envolto em bandagens, sendo uma delas sobre as suas nádegas. Um anzol tenta capturá-lo pela cintura. Indagado sobre os significados dessa situação de pesca sobre fundo azul, Sérgio Ferreira diz se sentir um pouco preso, às vezes.
Finda a contemplação, a boa conversa com os três artistas ao sabor de vinho tinto complementou uma exposição de muito fôlego, em todos os sentidos. Porém restou a vontade de voltar.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-
Outro texto excelente. Informativo, reflexivo e, sobretudo,m didático. Parabéns, Mara.
ResponderExcluirSeu texto é uma exposição tamanha a transparência.
ResponderExcluirAbraços
Obrigada Pedro e Núbia pelo incentivo.
ResponderExcluirOi, Mara. Obrigado por ciceronear-me nesta noite de arte em Montes Claros. Valeu a exposição! Um grande abraço.
ResponderExcluirEstou me tornando uma expert em artes!
ResponderExcluirAbraços Mara!
Marcelo e Marleuza, os artistas plásticos chegam ao meu ouvido e dizem: estou curioso para ver o texto que você vai escrever. Não sou assessora de comunicação de nenhum deles, e quando não gosto, fico calada. Não é omissão. Eu não sou crítica de arte, não sei avaliar o apuro técnico, apenas posso dizer se gosto ou não gosto. Não tenho cacife para saber se é bom ou ruim. Então fico como admiradora da arte e nada mais. Obrigada por comentarem.
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