quinta-feira, 20 de outubro de 2011



Inglês macarrônico

* Por Liêdo Maranhão

Anos 40, Segunda Guerra Mundial, cursando o ginásio no Porto Carreiro, o Recife e Natal eram considerados pontos estratégicos pelos aliados. A cidade tomada de americanos. Bares que não existem mais como Brahma Chopp, Lero-Lero, Pigalle, Polar e Chalita, faturavam em dólar.
Na zona, falando inglês macarrônico, as putas se ofereciam aos gringos:
- "Fock-fock", senhorita?
O Gambrinus, o OK e o Chileno, de casa cheia, animavam o ambiente com possantes e coloridas radiolas de ficha. As marchinhas de carnaval refletiam o clima:
"Amor eu vou embora
Aí vem o papai;
Só te vejo amanhã, may baby,
bye, bye!..."
Brasileiros não tinham vez: as mulheres queriam "money". As revoltas e os protestos surgiam da maneira mais estapafúrdia: um americano bêbado, arriado no Bar Savoy, tinha escrito na camisa da farda com baton:
"Eu sou um filho da puta!"
As brigas de rua se sucediam a cada instante. As patrulhas não davam moleza. Do nosso lado, o Exército, Marinha e Aeronáutica. Do lado americano, marinha e fuzileiros navais. Os gringos só brigavam de soco: a cultura do velho oeste.
Só se falava inglês: até o frango Zé, na Pracinha do Diário, soltava seu inglês macarrônico, desbundando:
"Liêdo, mim não have house para sleep you."
Um detalhe: na época, o cinema Art Palácio mantinha, nas segundas-feiras, uma matinê estudantil, com muito sucesso, pelos estudantes dos grandes colégios do Recife.
A "bandeira" dos frangos era entrar no cinema com "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, escritor inglês, o homossexual mais famoso da história, vítima de preconceito. Preso e sua biblioteca queimada pelo povo britânico.

Fonte: Rolando Papo de Sexo - Memórias de Um Sacanólogo. Liêdo Maranhão. Recife, Editora Livro Rápido, 2005, pág. 37/39.
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• Escritor, escultor, cineasta e fotógrafo

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