Terra da promissão
O Brasil sempre foi tido e havido como “a terra da promissão”. Não se trata de ufanismo barato, mas de pura realidade. E não é de hoje que aqui e no exterior se pensa isso deste “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Desde que foi descoberto, fez a riqueza de muitos exploradores, sustentou Portugal e inflamou a fantasia e a cobiça de aventureiros de toda a sorte, de várias partes do mundo.
Fortunas incontáveis aqui forjaram-se (e dissiparam-se). Isso, só do ouro e pedras preciosas (principalmente diamantes) extraídos do subsolo deste País. Caso esses recursos ficassem por aqui (uma quantidade ínfima ficou), nossa situação econômica (que atualmente até que é razoável) eles nos colocariam entre as potências mais ricas (se não a mais rica) do Planeta.
Apesar de toda essa exploração alienígena das nossas riquezas, é quase certo que o País detém, ainda, muita,. Mas muita preciosidade mesmo a ser descoberta e revertida em nosso benefício. Só em reservas petrolíferas, na chamada área do pré-sal, há um potencial tamanho, que é impossível de calcular com razoável exatidão a quanto ascende. Há lugares em nosso território onde pessoa alguma jamais pisou. Sabe-se lá quanta surpresa esses locais não reservarão a quem lograr descobri-los e explorá-los adequadamente!
Fala-se muito, por exemplo, da corrida do ouro na Califórnia, nos Estados Unidos, que enriqueceu muita gente e fez a fortuna e a grandeza dessa que é a única superpotência remanescente do Planeta. O Brasil, todavia, teve, também, a sua. Ou as “suas”, caso consideremos o ainda recente fenômeno de Serra Pelada, no Pará. E não duvido que venha a ter outra, ou outras num futuro remoto, ou próximo, sabe-se lá. Não dá para duvidar.
É sobre uma dessas “corridas do ouro” que trata o livro-reportagem do jornalista Lucas Figueiredo, “Boa ventura! – A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)”, lançado no primeiro semestre de 2011 pela Editora Record. É uma obra fascinante, que prende a atenção do leitor, e revela fatos até então pouco conhecidos e nebulosos, ou completamente desconhecidos. Essa reportagem histórica é fruto de três anos de pesquisas do autor, feitas em arquivos de Portugal, França, Inglaterra, Benin e, claro, do nosso País.
Querem uma “palhinha” sobre o conteúdo do livro de Lucas Figueiredo? Tomo a liberdade de transcrever o seguinte trecho da sinopse publicada no próprio blog do autor: “Fevereiro de 1876. O falido rei d. Luís I vasculha os cofres portugueses à procura de joias e outras peças de valor que possam ser vendidas para pagar dívidas. Na busca, ele encontra uma pepita de ouro de pouco mais de 20 quilos, do tamanho de um melão. Esquecida por décadas nos Tesouros Reais, a pedra retirada de solo brasileiro é o último remanescente de uma época de riqueza incalculável para o velho império lusitano. É com esta cena – insólita e absolutamente verdadeira – que o jornalista Lucas Figueiredo inicia sua fascinante reportagem histórica”.
Num texto promocional da Editora Record, há, ainda, mais esta indicação do conteúdo da obra: “A América Portuguesa estava entre as nove províncias gemológicas do mundo. Com um solo impregnado de pedras preciosas, sobretudo, diamantes. Mas foram mais de dois séculos até a Coroa ver algum sinal de riqueza. E apenas a metade do tempo para dilapidar esses recursos. Em cem anos, Portugal torrara mais da metade do metal precioso produzido no mundo daquele período”. Isso é que é gastar muito, e mal, o que se tem!!! Mas...
Falemos um pouco do autor. Até porque, quem quiser saber mais a propósito do livro, que o compre e o tenha sempre à mão, até para consulta. Lucas Figueiredo, 43 anos, mineiro, nascido em Belo Horizonte, é um jornalista consagrado, que não tem que provar mais nada a ninguém. Pudera! Já conquistou três Prêmios Esso (2004, 2005 e 2007), a maior premiação jornalística do País. Conquistá-la uma vez, já é uma façanha para pouquíssimos profissionais. Imaginem ser premiado três vezes!
Mas Lucas ganhou, ainda, os Prêmios Imprensa Embratel (2005), Vladimir Herzog (2005 e 2009) e Folha (1997). Como escritor, foi premiado com o Jabuti de 2010. É autor de quatro outros livros-reportagens, da mais absoluta atualidade, todos publicados pela Editora Record. São eles: “Morcego negro” (2000), sobre os escândalos que resultaram no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello e no assassinato de PC Farias; “Ministério do silêncio” (2005), a história do Serviço Secreto brasileiro, de Washington Luís a Lula; “O operador” (2006), sobre como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e PT, no que a imprensa batizou de “Valerioduto” e “Olho por olho” (2009), sobre a ditadura militar no Brasil.
Quanto ouro foi levado para fora do Brasil? Quais eram as rotas para escoamento do metal? Quem foram os principais personagens desta saga? Lucas Figueiredo revela tudo isso e muito mais. Destaca, também, alguns benefícios para a então colônia portuguesa em decorrência dessa frenética corrida do ouro. Claro que, embora verdadeiros, foram sumamente desproporcionais às riquezas subtraídas do Brasil, que nunca mais voltaram (e certamente jamais voltarão) para o País.
A busca pelo metal precioso, por exemplo, ensejou espetacular onde de imigração para o território brasileiro. Propiciou um sem-número de atividades econômicas paralelas, notadamente comerciais, para prover a subsistência dos mineradores. Ensejou a ocupação de novas áreas até então despovoadas, semeando vilas que se transformaram em cidades.
O autor enfatiza que, da noite para o dia, a imigração transformou “uma esquálida colônia de 300 mil habitantes em robusta colônia de 3,6 milhões” (e, note-se, essa cifra equivale à metade da população atual de Portugal).
Outro benefício apontado foi a ocupação e proteção das fronteiras brasileiras, contribuindo para a manutenção da integridade territorial do Brasil. Estimulou, ainda, o desenvolvimento da agricultura, fez circular riquezas e, como Lucas enfatiza, favoreceu, até, o desenvolvimento das artes. Mas o ouro, mesmo, que é bom... Este se foi da “terra da promissão” para jamais retornar. Uma pena...
Boa leitura.
O Editor.
O Brasil sempre foi tido e havido como “a terra da promissão”. Não se trata de ufanismo barato, mas de pura realidade. E não é de hoje que aqui e no exterior se pensa isso deste “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Desde que foi descoberto, fez a riqueza de muitos exploradores, sustentou Portugal e inflamou a fantasia e a cobiça de aventureiros de toda a sorte, de várias partes do mundo.
Fortunas incontáveis aqui forjaram-se (e dissiparam-se). Isso, só do ouro e pedras preciosas (principalmente diamantes) extraídos do subsolo deste País. Caso esses recursos ficassem por aqui (uma quantidade ínfima ficou), nossa situação econômica (que atualmente até que é razoável) eles nos colocariam entre as potências mais ricas (se não a mais rica) do Planeta.
Apesar de toda essa exploração alienígena das nossas riquezas, é quase certo que o País detém, ainda, muita,. Mas muita preciosidade mesmo a ser descoberta e revertida em nosso benefício. Só em reservas petrolíferas, na chamada área do pré-sal, há um potencial tamanho, que é impossível de calcular com razoável exatidão a quanto ascende. Há lugares em nosso território onde pessoa alguma jamais pisou. Sabe-se lá quanta surpresa esses locais não reservarão a quem lograr descobri-los e explorá-los adequadamente!
Fala-se muito, por exemplo, da corrida do ouro na Califórnia, nos Estados Unidos, que enriqueceu muita gente e fez a fortuna e a grandeza dessa que é a única superpotência remanescente do Planeta. O Brasil, todavia, teve, também, a sua. Ou as “suas”, caso consideremos o ainda recente fenômeno de Serra Pelada, no Pará. E não duvido que venha a ter outra, ou outras num futuro remoto, ou próximo, sabe-se lá. Não dá para duvidar.
É sobre uma dessas “corridas do ouro” que trata o livro-reportagem do jornalista Lucas Figueiredo, “Boa ventura! – A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)”, lançado no primeiro semestre de 2011 pela Editora Record. É uma obra fascinante, que prende a atenção do leitor, e revela fatos até então pouco conhecidos e nebulosos, ou completamente desconhecidos. Essa reportagem histórica é fruto de três anos de pesquisas do autor, feitas em arquivos de Portugal, França, Inglaterra, Benin e, claro, do nosso País.
Querem uma “palhinha” sobre o conteúdo do livro de Lucas Figueiredo? Tomo a liberdade de transcrever o seguinte trecho da sinopse publicada no próprio blog do autor: “Fevereiro de 1876. O falido rei d. Luís I vasculha os cofres portugueses à procura de joias e outras peças de valor que possam ser vendidas para pagar dívidas. Na busca, ele encontra uma pepita de ouro de pouco mais de 20 quilos, do tamanho de um melão. Esquecida por décadas nos Tesouros Reais, a pedra retirada de solo brasileiro é o último remanescente de uma época de riqueza incalculável para o velho império lusitano. É com esta cena – insólita e absolutamente verdadeira – que o jornalista Lucas Figueiredo inicia sua fascinante reportagem histórica”.
Num texto promocional da Editora Record, há, ainda, mais esta indicação do conteúdo da obra: “A América Portuguesa estava entre as nove províncias gemológicas do mundo. Com um solo impregnado de pedras preciosas, sobretudo, diamantes. Mas foram mais de dois séculos até a Coroa ver algum sinal de riqueza. E apenas a metade do tempo para dilapidar esses recursos. Em cem anos, Portugal torrara mais da metade do metal precioso produzido no mundo daquele período”. Isso é que é gastar muito, e mal, o que se tem!!! Mas...
Falemos um pouco do autor. Até porque, quem quiser saber mais a propósito do livro, que o compre e o tenha sempre à mão, até para consulta. Lucas Figueiredo, 43 anos, mineiro, nascido em Belo Horizonte, é um jornalista consagrado, que não tem que provar mais nada a ninguém. Pudera! Já conquistou três Prêmios Esso (2004, 2005 e 2007), a maior premiação jornalística do País. Conquistá-la uma vez, já é uma façanha para pouquíssimos profissionais. Imaginem ser premiado três vezes!
Mas Lucas ganhou, ainda, os Prêmios Imprensa Embratel (2005), Vladimir Herzog (2005 e 2009) e Folha (1997). Como escritor, foi premiado com o Jabuti de 2010. É autor de quatro outros livros-reportagens, da mais absoluta atualidade, todos publicados pela Editora Record. São eles: “Morcego negro” (2000), sobre os escândalos que resultaram no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello e no assassinato de PC Farias; “Ministério do silêncio” (2005), a história do Serviço Secreto brasileiro, de Washington Luís a Lula; “O operador” (2006), sobre como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e PT, no que a imprensa batizou de “Valerioduto” e “Olho por olho” (2009), sobre a ditadura militar no Brasil.
Quanto ouro foi levado para fora do Brasil? Quais eram as rotas para escoamento do metal? Quem foram os principais personagens desta saga? Lucas Figueiredo revela tudo isso e muito mais. Destaca, também, alguns benefícios para a então colônia portuguesa em decorrência dessa frenética corrida do ouro. Claro que, embora verdadeiros, foram sumamente desproporcionais às riquezas subtraídas do Brasil, que nunca mais voltaram (e certamente jamais voltarão) para o País.
A busca pelo metal precioso, por exemplo, ensejou espetacular onde de imigração para o território brasileiro. Propiciou um sem-número de atividades econômicas paralelas, notadamente comerciais, para prover a subsistência dos mineradores. Ensejou a ocupação de novas áreas até então despovoadas, semeando vilas que se transformaram em cidades.
O autor enfatiza que, da noite para o dia, a imigração transformou “uma esquálida colônia de 300 mil habitantes em robusta colônia de 3,6 milhões” (e, note-se, essa cifra equivale à metade da população atual de Portugal).
Outro benefício apontado foi a ocupação e proteção das fronteiras brasileiras, contribuindo para a manutenção da integridade territorial do Brasil. Estimulou, ainda, o desenvolvimento da agricultura, fez circular riquezas e, como Lucas enfatiza, favoreceu, até, o desenvolvimento das artes. Mas o ouro, mesmo, que é bom... Este se foi da “terra da promissão” para jamais retornar. Uma pena...
Boa leitura.
O Editor.
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Fez-me lembrar da minha professora do
ResponderExcluircurso de formação de professores que exibia no pulso uma bela pulseira toda em ouro português
aliás, legítimo, dizia ela com sua voz tão grave quanto a do vendedor de aipim.
Ótima dica.
Conheço pessoalmente Lucas Figueiredo(também pudera, já que mineiro), e li seu livro Morcego Negro. É um livro reportagem muito bem-feito e completo, onde ele faz pesquisa na Itália, apresenta documentos e fecha o cerco sobre PC, que nesse livro mostra-se portador de um poder global, influenciando a todos. Admiro tudo que o autor conseguiu fazer, o que acho que é para poucos. No entanto vencer aquele calhamaço é um porre.
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