sábado, 6 de agosto de 2011

Profundidade da vida


A vida é um mistério. Poderia acrescentar: ainda. Mas será que algum dia será desvendado? Como? Quando? Por quem? Ouso dizer que não. Que jamais chegaremos ao âmago da questão. Poderemos, até, algum dia, entender a origem da vida. Mas não creio que viremos a compreender sua “natureza” e, sobretudo, sua “finalidade”. Claro que não sou o dono da verdade e jamais tive essa pretensão, contudo essa quase certeza que tenho advém da intuição.

Tudo o que nos cerca é insondável mistério. A mente humana é prodigiosa e inquisitiva e busca chegar à origem de tudo. Conseguirá? Um só indivíduo, jamais. A duração da nossa vida é muito curta para empreender tantas descobertas. A espécie humana, somando conhecimentos, talvez consiga. Quando? Talvez em bilhões de anos, caso, claro, não desapareça, como tantas e tantas outras já desapareceram, algumas sem sequer deixar vestígios.

Teorias a propósito da origem do universo há em profusão. Muitas, por exemplo, com diferenças pontuais entre si, atribuem a criação de tudo o que existe, inclusive, e principalmente, nós, a um ser (ou força?) prodigioso, infinito e eterno, onisciente e onipresente, que não teve começo e nem fim e de poder absoluto e irrestrito. Parece ilógico? Mas o que é lógico num universo tão complexo, grandioso e misterioso?

Há, em contrapartida, os que atribuem a origem do universo a algo até mais ilógico do que a existência de uma divindade criadora. Tentam nos convencer (e certamente “se” convencer) que tudo começou por causa de uma hipotética e monstruosa explosão de um aglomerado de matéria e energia, concentradíssimo, que originou sóis, constelações, galáxias, planetas, meteoritos, buracos negros e finalmente a vida. E, finalmente, o homem... É o tal do “Big Bang”. Coisa, no meu entender, mais (ou puramente) de ficção Quem está certo? Quem está errado? Desconfio que nunca se saberá.

Não apenas cientistas das mais diversas disciplinas (físicos, químicos, astrônomos, biólogos, matemáticos etc.) se debruçam sobre este insondável mistério, o da origem e da mecânica que rege o universo, mas, também, e principalmente, filósofos. E isso desde a mais remota antiguidade. Faz sentido que estes últimos se dediquem à questão. Afinal, até por definição, Filosofia significa o “estudo da vida”. Nesse aspecto, portanto, o cientista não deixa de ser, de certa maneira, também “filósofo”. Ou este último não deixa de ser cientista, sei lá.

Perguntas, perguntas e mais perguntas se sucedem, nenhuma com resposta definitiva e comprovada, sem sobras de dúvida. O que é a vida? Como se originou? Onde? É um fenômeno apenas restrito a este relativamente minúsculo planeta que orbita uma estrela de quinta grandeza que integra uma galáxia de médio porte, ou existe em outras partes? Se a resposta for positiva, há seres inteligentes alhures? Mais do que o homem? Menos do que ele? Em que estágio?

Como se vê, são perguntas, perguntas e mais perguntas, possivelmente infinitas, que não encontram as correspondentes respostas. Hipóteses a propósito surgem aos milhares (posso também ter as minhas) e logo são derrubadas por novas descobertas. E a inquirição continua, o que considero positivo. Quem sabe se a inteligência humana não existe apenas para isso, para tentar desvendar esse mistério da origem, funcionamento e finalidade do universo e da vida? Quem sabe?

O homem já entende todo o processo de reprodução da vida. Mapeou, inclusive, todo o genoma humano e de tantos outros seres vivos, animais e vegetais. Em alguns casos, já consegue interferir nesse “mapa, modificando genes, acrescentando uns, suprimindo outros, abrindo perspectivas de prevenir doenças hereditárias antes, muito antes do nascimento de pessoas. Quanto ao “funcionamento” da vida, portanto, entende até que razoavelmente. Mas quanto à sua natureza? Esta continua sendo um insondável mistério. O mesmo se pode dizer quanto à finalidade, se é que exista alguma que não seja, apenas, a de se viver.

O filósofo metafísico francês, Louis Lavelle, dedicou a maior parte dos seus 68 anos de vida (nasceu em 15 de julho de 1883 e morreu em 1 de setembro de 1951) a essas questões. Publicou vários livros a respeito, inclusive um profundo e meticuloso estudo sobre a “alma humana”. Há quem conteste a existência dela. Há, também, quem considere sumamente ambígua sua definição. Não há, pois, sequer arremedo de consenso em torno dessa suposta “essência da vida”. Só os seres humanos têm alma (seja lá o que se entenda por ela) ou todos os seres vivos a têm? Mistério.

Pois bem, Lavelle sentenciou: “Em certos estados de alma quase sobrenaturais a profundidade da vida se revela completa, no espetáculo tão comum que seja, que se tem sob os olhos”. Creio que qualquer entendimento a esse propósito será somente, e sempre, intuitivo. Não creio que se trate de questão comprovável pela ciência e muito menos pela filosofia. Posso estar enganado, claro.

Li, tempos atrás, um texto de Austregésilo de Athayde (mais especificamente, “A grande ansiedade”, publicado em sua coluna semanal Vana Verba, na revista “O Cruzeiro”, em 30 de abril de 1960), que fiz questão de anotar, por concordar com suas colocações, que diz, em determinado trecho: “Matéria e Espírito formam uma união hipostática. Não há como separá-los, sem o perigo catastrófico da morte para ambos. A ciência é muito, mas não basta. Há sempre um mais além. Há sempre um campo vazio a ser preenchido pela Fé”. E não há?! Como contestar tão sábia constatação?

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Ainda bem que há os filósofos, cientistas e pensadores, como eu o classifico, Pedro, para destrinchar tais questionamentos para nós. Não tenho as respostas, mas muitas vezes nem me atrevo a fazer perguntas. Vamos pensar.

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