terça-feira, 2 de agosto de 2011



Ousado ativista e poeta sublime


A República da Irlanda, também conhecida como Irlanda do Sul, cujo nome oficial é Eire, é um pequeno país insular, que divide a ilha em que se situa com a homônima Irlanda do Norte (que ainda integra a Grã-Bretanha). Conquistou sua independência em meados da década de 30 do século XX, após muita luta. Seu povo é sofrido, mas corajoso e ousado. Obteve, heroicamente, a autonomia com muito sangue. Encarou longos períodos de escassez de alimentos, de fome mesmo, o que levou muitos dos seus cidadãos a emigraram, notadamente para os Estados Unidos.

Todavia, o que chama a atenção de quem estuda sua rica história e sua notável cultura, é a riqueza da sua literatura. A República da Irlanda foi o berço de escritores que hoje são tidos, até, como mitos, pela qualidade de suas obras. Pode-se citar, sem ter que pensar muito, nomes dos mais ilustres como James Joyce, Bram Stocker, Jonathan Swift, Oscar Wilde, George Bernard Shaw, Samuel Beckett, Seamus Heaney e... William Butler Yeats. Que conjunto de gênios! Poucos países geraram escritores tão bons, que se comparem a estes.

Destaque-se que quatro irlandeses já conquistaram o Prêmio Nobel de Literatura, tomado, embora não consensualmente, como parâmetro de qualidade ao se analisar homens de letra. Foram eles: William Butler Yeats (1923), George Bernard Shaw (1925), Samuel Beckett (1969) e Seamus Heaney (1995). O que faz esse pequeno país propiciar tantos gênios literários? O clima, certamente, não é, já que é gélido e nevoento e, portanto, nada inspirador. A paisagem? Nem tanto. Talvez seja a tradição. Ou... sabe-se lá o quê.

Uma coisa importante tem que se mencionar a favor dos irlandeses: é o orgulho que têm, e a valorização que dão aos seus escritores. Em raros países eles são tão valorizados quanto ali. Isso, claro, é importante, importantíssimo, por motivar, os que tenham esse talento, a escrever. E, como vimos, de fato escrevem. E muito bem.

Há em Dublin, por exemplo, o Museu do Escritor, que reúne objetos pessoais, esboços, primeiras edições etc. dos mais conhecidos homens de letras do país. Que diferença de tratamento em relação ao Brasil, onde quem exerce essa atividade fica (salvo raras exceções), via de regra, ao deus dará!!!!

Tenho, em minha biblioteca, livros de todos os irlandeses que citei. Leio-os, amiúde, e frequentemente faço releituras. Gosto de todos eles, uns mais outros menos, conforme minhas afinidades. O principal desses escritores favoritos, todavia, é um poeta. E que poeta! Volta e meia, “viajo” ao remotíssimo mundo da fantasia, onde tudo é nobre, belo e ideal, na leitura dos seus poemas. Quem é ele? É William Butler Yeats. Um gênio, cúmplice das musas!

Além de poeta, esse homem talentoso foi corajoso ativista político. Chegou a ser senador, cargo que exerceu com a mesma seriedade e afinco que dedicou à literatura, em especial à poesia. William Butler Yeats, que assinava seus textos como W. B. Yeats, nasceu em Dublin, em 13 de junho de 1865. Morreu longe da pátria, em Menton, na França, em 28 de janeiro de 1939. Sua obra maravilhosa consiste de exatos 40 livros, boa parte dos quais traduzida para o português e lançada no Brasil.

Sua temática oscilou, ao longo do tempo (como ocorre com a maioria dos escritores), indo da romântica e fantasiosa do início da carreira (e é esta a que prefiro, pela beleza e sensibilidade), ao modernismo, depois dos seus 40 anos. Esta última fase de sua produção teve nítida influência do “maluco beleza” da literatura, o rebelde e controvertido poeta norte-americano Ezra Pound. Foi nessa ocasião que fez da sua arte instrumento de luta pela independência do seu país.

Foi o primeiro irlandês a conquistar o Nobel de Literatura, em 1923. Antecedeu, portanto, em dois anos, seu ilustre conterrâneo, George Bernard Shaw. Yeats é considerado pelos historiadores como um dos responsáveis, o principal deles por sinal, pelo renascimento da literatura irlandesa. Também foi dramaturgo e co-fundador do Abey Theatre, em Dublin. Em 1902, ajudou a fundar a Dun Emer Press, editora que publicou as obras de escritores ligados ao renascimento literário irlandês, recusados pelas demais.

Se tivesse que escolher um único poema de Yeats e elegê-lo como seu melhor, eu não conseguiria. Meu gosto oscilaria entre cem e duzentos deles, todos do mesmíssimo nível, quer pela temática, quer pela forma. Escolhi, todavia, como amostra para hoje, um dos mais conhecidos e expressivos que compôs e que, evidentemente, é belíssimo. É este, abaixo, que ilustra a caráter tudo o que escrevi a respeito desse poeta.

"Quando fores velha"

Quando fores velha, e grisalha, e com sono,
pega este livro: junto ao fogo, a cabecear,
lê com calma; e com os olhos de profundas sombras
sonha, sonha com o teu antigo e suave olhar.

Muitos amaram-te horas de alegria e graça,
com amor sincero ou falso amaram-te a beleza;
só um, amando-te a alma peregrina em ti,
de teu rosto a mudar amou cada tristeza.

E curvando junto à grade incandescente,
murmura com amargura como o amor fugiu
e caminhou montanha acima, a subir sempre
e o rosto em multidão de estrelas encobriu.

Boa leitura.

O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

2 comentários:

  1. A velhice incomoda e inspira a todos e especialmente gênios do tipo de Yeats.

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  2. Belíssima poesia.
    Obrigado por compartilhá-la.
    Abs

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