Jeitinho
* Por Rodrigo Ramazzini
Em um ponto de táxi.
- Boa noite!
- Opa! Boa noite!
- Tem como fazer uma corrida para gente?
- Claro! Para onde?
- Até a Avenida Beira-mar!
- Tem sim! Mas, já aviso: é longe, doutor!
- Não tem problema!
- Vai sair meio caro...
- Quando vai dar?
- Uns 50 contos!
- Beleza! Vâmbora! Não tem problema!
- Podem entrar!
“Fechou pessoal! Vamos entrando...”
- Ei doutor!
- Fala?
- Quantas pessoas são ao todo?
- Seis...
- Sinto muito, doutor! Então, não dá...
- Por quê? Apertadinho cabe todo mundo...
- Não é isso, Doutor!
- O que é, então?
- Porque me complica se a fiscalização nos pega...
- Não vai pegar!
- Não dá para brincar com a sorte! Eu faço duas corridas... Cobro 50 contos cada uma... Pacote fechado, hein? Desligo o taxímetro...
- Aí, não! Queríamos ir todos juntos...
- Pois é, Doutor! Eu quero ajudar, mas não posso ficar no prejuízo! Meu lucro já é pouco e se a fiscalização nos pega, a multa é alta... E eu tenho que garantir o leitinho das crianças, né!
- Eu sei! Te ofereço sessenta reais para levar nós seis...
- Pois é, doutor! Não dá...
- Sessenta e cinco?
- Não dá, doutor...
- Setenta reais, hein?
- Pensando bem, doutor! A fiscalização deve estar na rua principal hoje e se eu for por uma via alternativa, acho que não teremos problema... Entrem aí! Vou até desligar o taxímetro. Pacote fechado para o senhor!
“Fechou pessoal! Se apertando aí dentro!”
Vinte e quatro minutos depois.
- Chegamos!
- Beleza! Meio apertados, mas sobrevivemos... Falei que não teríamos problemas com a fiscalização!
- Pois é... Demos sorte! Esse caminho em que eu vim é mais tranqüilo...
“Pessoal, vão descendo que eu vou acertar aqui com o taxista”
- Setenta reais, né?
- Foi o combinado!
- Beleza! Só uma coisa...
- Fala, doutor!
- Tem como fazer uma notinha fiscal pra mim?
- Claro! Mas pode ser aquele recibinho esperto?
- Pode...
- Eu já fiz os recibinhos para esse tipo de situação... Sabe como é... Vou pagar imposto para esses corruptos de Brasília colocar dinheiro no bolso? O meu eles não levam!
- É... Tem razão! Sempre tem alguém faturando em cima do dinheiro do povo.
- Eles não dão trégua, doutor! Ser honesto nesse país virou uma virtude... O cara que trabalha aí de sol a sol que sabe disso...
- É verdade! Mas faz o recebo aí, então! Preciso de um para justificar o deslocamento para a empresa. Ela que paga as corridas de táxi. A bem da verdade, ela me reembolsa depois. Afinal, como te falei, estamos aqui a trabalho, mas como ninguém é de ferro, resolvemos dar uma voltinha na praia...
- Boa escolha, doutor! De quanto eu faço o recibo?
- Faz... Faz... Setenta saiu à corrida, né?
- Isso!
- Faz de cem reais, então!
- Tá...
- Ou Melhor! Faz dois de cinqüenta reais, pode ser?
- Claro!
- Daí, fica parecendo que foram duas corridas... Ainda mais com esse pessoal todo!
- Sei... Agora entendi porque a insistência de virem todos juntos, doutor!
- Pois é... Preciso levar o meu por fora... Sabe como é... É pouco... Trinta reais... Mas tenho que garantir o leitinho das crianças, né? Há! Há! Há!
- Com certeza, doutor! Sei bem como é... Mas como diz o ditado: de grão em grão a galinha enche o papo!
- Com certeza!
- Aqui está o meu cartão! Qualquer coisa me liga, ok?
- Claro! Gostei de negociar contigo!
- Ok! Até mais, doutor!
- Até mais...
• Jornalista
* Por Rodrigo Ramazzini
Em um ponto de táxi.
- Boa noite!
- Opa! Boa noite!
- Tem como fazer uma corrida para gente?
- Claro! Para onde?
- Até a Avenida Beira-mar!
- Tem sim! Mas, já aviso: é longe, doutor!
- Não tem problema!
- Vai sair meio caro...
- Quando vai dar?
- Uns 50 contos!
- Beleza! Vâmbora! Não tem problema!
- Podem entrar!
“Fechou pessoal! Vamos entrando...”
- Ei doutor!
- Fala?
- Quantas pessoas são ao todo?
- Seis...
- Sinto muito, doutor! Então, não dá...
- Por quê? Apertadinho cabe todo mundo...
- Não é isso, Doutor!
- O que é, então?
- Porque me complica se a fiscalização nos pega...
- Não vai pegar!
- Não dá para brincar com a sorte! Eu faço duas corridas... Cobro 50 contos cada uma... Pacote fechado, hein? Desligo o taxímetro...
- Aí, não! Queríamos ir todos juntos...
- Pois é, Doutor! Eu quero ajudar, mas não posso ficar no prejuízo! Meu lucro já é pouco e se a fiscalização nos pega, a multa é alta... E eu tenho que garantir o leitinho das crianças, né!
- Eu sei! Te ofereço sessenta reais para levar nós seis...
- Pois é, doutor! Não dá...
- Sessenta e cinco?
- Não dá, doutor...
- Setenta reais, hein?
- Pensando bem, doutor! A fiscalização deve estar na rua principal hoje e se eu for por uma via alternativa, acho que não teremos problema... Entrem aí! Vou até desligar o taxímetro. Pacote fechado para o senhor!
“Fechou pessoal! Se apertando aí dentro!”
Vinte e quatro minutos depois.
- Chegamos!
- Beleza! Meio apertados, mas sobrevivemos... Falei que não teríamos problemas com a fiscalização!
- Pois é... Demos sorte! Esse caminho em que eu vim é mais tranqüilo...
“Pessoal, vão descendo que eu vou acertar aqui com o taxista”
- Setenta reais, né?
- Foi o combinado!
- Beleza! Só uma coisa...
- Fala, doutor!
- Tem como fazer uma notinha fiscal pra mim?
- Claro! Mas pode ser aquele recibinho esperto?
- Pode...
- Eu já fiz os recibinhos para esse tipo de situação... Sabe como é... Vou pagar imposto para esses corruptos de Brasília colocar dinheiro no bolso? O meu eles não levam!
- É... Tem razão! Sempre tem alguém faturando em cima do dinheiro do povo.
- Eles não dão trégua, doutor! Ser honesto nesse país virou uma virtude... O cara que trabalha aí de sol a sol que sabe disso...
- É verdade! Mas faz o recebo aí, então! Preciso de um para justificar o deslocamento para a empresa. Ela que paga as corridas de táxi. A bem da verdade, ela me reembolsa depois. Afinal, como te falei, estamos aqui a trabalho, mas como ninguém é de ferro, resolvemos dar uma voltinha na praia...
- Boa escolha, doutor! De quanto eu faço o recibo?
- Faz... Faz... Setenta saiu à corrida, né?
- Isso!
- Faz de cem reais, então!
- Tá...
- Ou Melhor! Faz dois de cinqüenta reais, pode ser?
- Claro!
- Daí, fica parecendo que foram duas corridas... Ainda mais com esse pessoal todo!
- Sei... Agora entendi porque a insistência de virem todos juntos, doutor!
- Pois é... Preciso levar o meu por fora... Sabe como é... É pouco... Trinta reais... Mas tenho que garantir o leitinho das crianças, né? Há! Há! Há!
- Com certeza, doutor! Sei bem como é... Mas como diz o ditado: de grão em grão a galinha enche o papo!
- Com certeza!
- Aqui está o meu cartão! Qualquer coisa me liga, ok?
- Claro! Gostei de negociar contigo!
- Ok! Até mais, doutor!
- Até mais...
• Jornalista
Triste realidade nacional. Dentro e fora do táxi correm frouxos os jeitinhos. E ninguém acha nada de mais.
ResponderExcluirÉ verdade, Mara!
ResponderExcluirObrigado pela leitura!
Tenha um ótimo final de semana!
Aquele abraço!
O bom e velho "jeitinho"...cantado em verso e prosa por malandros como Bezerra da Silva e até
ResponderExcluiro Dicró.
A malandragem "faz parte".
Texto irônico, peculiaridade do bom malandro
mas, sem perder a graça.
Abração Rodrigo e bom fim de semana.