Depois da primeira missa no Brasil
* Por Fausto Brignol
Depois da primeira missa no Brasil, os índios que tinham participado daquela inesquecível cerimônia e entendido muito pouco do que se tinha passado, mas, ainda assim, entendido alguma coisa, voltaram para a taba e o Cacique os reuniu para dizer que o Pajé estava sendo tomado pelo Grande Espírito e desejava falar-lhes.
Com muita expectativa, todos se reuniram em um grande círculo no qual entrou o Pajé, fazendo soar o seu maracá e disse:
- Filhos de Tupã! Povo das florestas e das praias! O Grande Espírito veio a mim e pediu que lhes revelasse a verdade sobre esse povo pálido e com pelos na cara que chegou em grandes canoas, vindos do outro lado do mar.
Todos ficaram atentos, porque o Pajé tinha os olhos brilhantes e trazia em uma de suas mãos, em uma cumbuca, o sagrado cauim.
O Pajé tomou mais um gole de cauim e continuou.
- Tomem cuidado com esses homens que não trazem mulheres consigo, porque são loucos. Eu vi! – e sacudiu o maracá. – Eu vi que eles vieram para nos matar e nos escravizar e queimar nossas tabas e roubar nossas mulheres e nossos filhos, porque é um povo filho da ganância e da impiedade. Nada respeitam. Nem as matas, nem a água, nem o vento, nem o fogo.
Todos no círculo exclamaram um grande "Óóóóó!". E o Pajé continuou, depois de beber outro gole de cauim.
- Eu vejo um futuro de tristezas e devastações, quando o nosso povo será dizimado por ceder às tentações do povo branco. E vejo outro povo que será trazido em canoas ainda maiores; um povo de gente com pele preta que mora muito longe e adora a vida como nós. Por essa razão, serão escravizados e deverão servir a este povo de loucos, que veste estranhas roupas e carrega armas que cospem fogo.
- Óóóóó!
- Esse povo de brancos é tão louco, filhos de Tupã, que adora um deus que foi morto por eles mesmos, que chamam de Deus da Paz. Mas foi morto por eles justamente por pregar a paz; e é tamanha a sua loucura que somente se satisfazem com a guerra e a destruição de todos os seres vivos que os cercam.
- Óóóóó!
- E vejo ainda mais no futuro, filhos de Tupã! Vejo esse povo de loucos conquistando toda a terra de Pindorama, que nos foi dada pelo Grande Espírito e a destruindo com prazer e plantando sementes que não darão sementes e arrancando e cortando todas as árvores e matando todos os animais da floresta, apenas pelo prazer de matar, e destruindo a própria terra de onde cortarão as árvores, devido a estranho e imensurável cultivo de estranhas plantas. E quando não restar o que matar, matarão uns aos outros, por ganância e podridão de espírito.
- Óóóóó!
- E comerão e beberão, com estranho prazer, comidas e bebidas envenenadas e os seus homens agirão como mulheres e as suas mulheres serão como homens, filhos de Tupã! E andarão em estranhas máquinas feitas para matar e seus caciques serão estranhas pessoas com coração de pedra, que morarão em lugares imensos, também feitos de pedra e farão guerras e mais guerras contra o seu povo pobre. Porque, como mataram o seu Deus da Paz desejarão um Deus da Guerra, à sua imagem e semelhança, vingador e trucidador, devastador e assassino, com raiva da vida, do Sol e da Lua e com mais raiva ainda da própria Terra, filhos de Tupã!
- Óóóóó!
O Pajé, triste e com lágrimas nos olhos por receber tão nefasta revelação, continuou:
- E naquele tempo, filhos de Tupã, os que restarem do nosso povo não terão o que dar de comer aos seus filhos, serão escorraçados de todos os lugares, perseguidos e mortos.
E acrescentou, em tom paternal:
- Por isso, peço a todos, filhos de Tupã, que resistam às tentações que os homens brancos trazem consigo, porque são doença e morte, e que nos afastemos o mais possível desses homens loucos.
E calou-se. A Lua já tinha surgido e todos os guerreiros conservavam-se em silêncio. Então, um dos guerreiros mais jovens, que recém tinha passado pela sua primeira iniciação, pediu a palavra e disse:
- Mas, enquanto isso, Pajé, enquanto nada acontece do que foi dito, através da sua boca, pelo Grande Espírito, será que podemos ficar com esses colares e essas pedras brilhantes que os homens brancos nos presentearam?
O Pajé olhou em volta e viu que todos os guerreiros ostentavam os novos presentes e tinham o olhar modificado. Pareciam ansiosos.
Calmamente, esvaziou o cauim que ainda havia na cumbuca, cuspiu no chão com força, jogou longe o maracá e dirigiu-se para a floresta. Nunca mais foi visto.
* Por Fausto Brignol
Depois da primeira missa no Brasil, os índios que tinham participado daquela inesquecível cerimônia e entendido muito pouco do que se tinha passado, mas, ainda assim, entendido alguma coisa, voltaram para a taba e o Cacique os reuniu para dizer que o Pajé estava sendo tomado pelo Grande Espírito e desejava falar-lhes.
Com muita expectativa, todos se reuniram em um grande círculo no qual entrou o Pajé, fazendo soar o seu maracá e disse:
- Filhos de Tupã! Povo das florestas e das praias! O Grande Espírito veio a mim e pediu que lhes revelasse a verdade sobre esse povo pálido e com pelos na cara que chegou em grandes canoas, vindos do outro lado do mar.
Todos ficaram atentos, porque o Pajé tinha os olhos brilhantes e trazia em uma de suas mãos, em uma cumbuca, o sagrado cauim.
O Pajé tomou mais um gole de cauim e continuou.
- Tomem cuidado com esses homens que não trazem mulheres consigo, porque são loucos. Eu vi! – e sacudiu o maracá. – Eu vi que eles vieram para nos matar e nos escravizar e queimar nossas tabas e roubar nossas mulheres e nossos filhos, porque é um povo filho da ganância e da impiedade. Nada respeitam. Nem as matas, nem a água, nem o vento, nem o fogo.
Todos no círculo exclamaram um grande "Óóóóó!". E o Pajé continuou, depois de beber outro gole de cauim.
- Eu vejo um futuro de tristezas e devastações, quando o nosso povo será dizimado por ceder às tentações do povo branco. E vejo outro povo que será trazido em canoas ainda maiores; um povo de gente com pele preta que mora muito longe e adora a vida como nós. Por essa razão, serão escravizados e deverão servir a este povo de loucos, que veste estranhas roupas e carrega armas que cospem fogo.
- Óóóóó!
- Esse povo de brancos é tão louco, filhos de Tupã, que adora um deus que foi morto por eles mesmos, que chamam de Deus da Paz. Mas foi morto por eles justamente por pregar a paz; e é tamanha a sua loucura que somente se satisfazem com a guerra e a destruição de todos os seres vivos que os cercam.
- Óóóóó!
- E vejo ainda mais no futuro, filhos de Tupã! Vejo esse povo de loucos conquistando toda a terra de Pindorama, que nos foi dada pelo Grande Espírito e a destruindo com prazer e plantando sementes que não darão sementes e arrancando e cortando todas as árvores e matando todos os animais da floresta, apenas pelo prazer de matar, e destruindo a própria terra de onde cortarão as árvores, devido a estranho e imensurável cultivo de estranhas plantas. E quando não restar o que matar, matarão uns aos outros, por ganância e podridão de espírito.
- Óóóóó!
- E comerão e beberão, com estranho prazer, comidas e bebidas envenenadas e os seus homens agirão como mulheres e as suas mulheres serão como homens, filhos de Tupã! E andarão em estranhas máquinas feitas para matar e seus caciques serão estranhas pessoas com coração de pedra, que morarão em lugares imensos, também feitos de pedra e farão guerras e mais guerras contra o seu povo pobre. Porque, como mataram o seu Deus da Paz desejarão um Deus da Guerra, à sua imagem e semelhança, vingador e trucidador, devastador e assassino, com raiva da vida, do Sol e da Lua e com mais raiva ainda da própria Terra, filhos de Tupã!
- Óóóóó!
O Pajé, triste e com lágrimas nos olhos por receber tão nefasta revelação, continuou:
- E naquele tempo, filhos de Tupã, os que restarem do nosso povo não terão o que dar de comer aos seus filhos, serão escorraçados de todos os lugares, perseguidos e mortos.
E acrescentou, em tom paternal:
- Por isso, peço a todos, filhos de Tupã, que resistam às tentações que os homens brancos trazem consigo, porque são doença e morte, e que nos afastemos o mais possível desses homens loucos.
E calou-se. A Lua já tinha surgido e todos os guerreiros conservavam-se em silêncio. Então, um dos guerreiros mais jovens, que recém tinha passado pela sua primeira iniciação, pediu a palavra e disse:
- Mas, enquanto isso, Pajé, enquanto nada acontece do que foi dito, através da sua boca, pelo Grande Espírito, será que podemos ficar com esses colares e essas pedras brilhantes que os homens brancos nos presentearam?
O Pajé olhou em volta e viu que todos os guerreiros ostentavam os novos presentes e tinham o olhar modificado. Pareciam ansiosos.
Calmamente, esvaziou o cauim que ainda havia na cumbuca, cuspiu no chão com força, jogou longe o maracá e dirigiu-se para a floresta. Nunca mais foi visto.
• Poeta, jornalista e escritor
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