Chegando ao Pacífico
* Por Urda Alice Klueger
(Excerto do livro "Viagem ao Umbigo do Mundo", de Urda Alice Klueger e PHD Chico, publicado em 2006).
Era de tarde, e o calor era intenso. Fazia pouco que passáramos por imensa mina de cobre no deserto de Atacama, e eu ainda estava impressionada com a louca riqueza mineral do Chile e fazia conjecturas sobre como aquele país fora invadido já em 1973, e riqueza assim suscitava cobiça, é claro, e os invasores lá do Hemisfério Norte não tinham dormido no ponto, não – quando naquele quase vôo dentro do vento, a Harley a 110 km/hora, o seu Chico virou-se de lado e gritou para mim:
- Dona Urda, em alguma das próximas subidas vai aparecer, lá embaixo, a cidade de Tocopilla!
Aquilo não seria novidade – todas as tardes chegávamos em alguma cidade, umas maiores, outras menores, umas mais cedo, outras mais tarde. Em todo o caso, fiquei a observar com mais atenção o deserto que, naquele dia, era ondulado, de colinas coloridas. A lembrança que trouxe do deserto do Atacama é uma lembrança colorida – na minha mente ele é bege, azulado, lilás, roxo, e de um monte de outras cores, dependendo do minério que existe no seu solo naquele ponto. Também sua topografia é variada: há longas planícies com vulcões nevados, terrenos ondulados, montanhas. Naquele dia viajávamos subindo e descendo suaves colinas atravessadas pela faixa de asfalto, e pensei, também, na pronúncia da palavra Tocopilla, que, como na Argentina, se pronunciava Tocopija – os dois ll sendo pronunciados como “j”, e, como já disse, passei a prestar mais atenção à frente, para ver, afinal, em que lugar iríamos chegar. E assim, voando dentro do vento, de repente estava lá embaixo uma cidadezinha – e eu estava preparada para vê-la, mas totalmente despreparada para o salto que o coração deu quando me dei conta onde ela estava – atrás dela estava o deserto; na frente dela – o OCEANO PACÍFICO em toda a sua glória!
Sem fôlego, embasbacada, dei-me conta do que estava acontecendo: em poucos dias viéramos do Atlântico ao Pacífico em duas rodas, atravessando as planícies argentinas, a Cordilheira dos Andes e tantas outras coisas, sem nenhum incidente que tivesse nos prejudicado, numa aventura que começara muito tempo atrás, quando seu Chico empezara[1] a me convidar para aquela viagem.
[1] Empezara = começara – Nota da autora
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
(Excerto do livro "Viagem ao Umbigo do Mundo", de Urda Alice Klueger e PHD Chico, publicado em 2006).
Era de tarde, e o calor era intenso. Fazia pouco que passáramos por imensa mina de cobre no deserto de Atacama, e eu ainda estava impressionada com a louca riqueza mineral do Chile e fazia conjecturas sobre como aquele país fora invadido já em 1973, e riqueza assim suscitava cobiça, é claro, e os invasores lá do Hemisfério Norte não tinham dormido no ponto, não – quando naquele quase vôo dentro do vento, a Harley a 110 km/hora, o seu Chico virou-se de lado e gritou para mim:
- Dona Urda, em alguma das próximas subidas vai aparecer, lá embaixo, a cidade de Tocopilla!
Aquilo não seria novidade – todas as tardes chegávamos em alguma cidade, umas maiores, outras menores, umas mais cedo, outras mais tarde. Em todo o caso, fiquei a observar com mais atenção o deserto que, naquele dia, era ondulado, de colinas coloridas. A lembrança que trouxe do deserto do Atacama é uma lembrança colorida – na minha mente ele é bege, azulado, lilás, roxo, e de um monte de outras cores, dependendo do minério que existe no seu solo naquele ponto. Também sua topografia é variada: há longas planícies com vulcões nevados, terrenos ondulados, montanhas. Naquele dia viajávamos subindo e descendo suaves colinas atravessadas pela faixa de asfalto, e pensei, também, na pronúncia da palavra Tocopilla, que, como na Argentina, se pronunciava Tocopija – os dois ll sendo pronunciados como “j”, e, como já disse, passei a prestar mais atenção à frente, para ver, afinal, em que lugar iríamos chegar. E assim, voando dentro do vento, de repente estava lá embaixo uma cidadezinha – e eu estava preparada para vê-la, mas totalmente despreparada para o salto que o coração deu quando me dei conta onde ela estava – atrás dela estava o deserto; na frente dela – o OCEANO PACÍFICO em toda a sua glória!
Sem fôlego, embasbacada, dei-me conta do que estava acontecendo: em poucos dias viéramos do Atlântico ao Pacífico em duas rodas, atravessando as planícies argentinas, a Cordilheira dos Andes e tantas outras coisas, sem nenhum incidente que tivesse nos prejudicado, numa aventura que começara muito tempo atrás, quando seu Chico empezara[1] a me convidar para aquela viagem.
[1] Empezara = começara – Nota da autora
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
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