O casal
* Por Sayonara Lino
Não consigo imaginar aqueles dois separados. Projetos afins, gostos, planos, jeitos e manias similares. Neuroticamente complementares. É assim que me lembro deles. Unidos na beleza, na doença, na saúde e até na distância. Um é a extensão do outro, estão diretamente relacionados, proporcionalmente apaixonados. Como se tudo isso não bastasse, encontraram na família as interseções que os ligam desde a infância: eles têm uma prima em comum! Foi ali que tudo começou!
Sou amiga dela há mais de uma década. Conheci-o na mesma época, acho que em 1995. Só tempos depois descobri que ele me odiara secretamente durante anos. Achava-me chata, entrona, mala mesmo. E das grandes, sem alça nem roda! Confessou-me sua ira lá pelo ano 2000, em mais um dos muitos carnavais que passamos juntos (caretíssimos, isolados da multidão, somos sistemáticos, passamos sempre no terraço dele e na minha varandinha). Ótimos, por sinal. Chegou e disse baixinho que havia me detestado durante muito tempo, mas que havia percebido – levou cinco anos – que eu era uma pessoa muito boa! Muito obrigada!
O engraçado é que estou sempre com o casal. Já se acostumaram comigo. Virei o apêndice deles. Carregam-me pra lá e pra cá. Acompanharam o desenrolar de t-o-d-o-s os meus dramas pessoais: namorado maluco, namorado careta, briga de mãe, falta de emprego, monografia emperrada, cachorro hiperativo, viagem de ônibus para o Nordeste, ressaca de pinga do vô, socorro! Mas também compartilharam lindos momentos, brincadeiras, risos, cervejinhas na sacada, cada dia na casa de um, pequenas viagens, filmes exóticos, livros de cabeceira, almoços de domingo, nascer do sol ... nossas particularidades!
Outro dia entramos no elevador do prédio dele. Olhamo-nos no espelho e identificamos os inúmeros cabelos brancos que teimaram em surgir em nossas vastas cabeleiras. “Ah, precisa pintar!”, ela comentou. “Amiga, é a casa dos trinta! Estamos descendo a ladeira, mas não deixaremos a peteca cair! Somos resilientes! Sabe o que é isso? Não?! É um termo que vem da física e está sendo amplamente divulgado pelas ciências sociais. Resumindo, significa que vamos nos adaptar às novas circunstâncias, vamos nos recobrar!”
Enfim, o casal é assim: namorados, amigos, quase parentes, um é a cara do outro. Vão e vêm, eu também já fui e voltei. Sempre nos encontramos. E cada encontro é a vivência da verdadeira amizade!
• Jornalista, fotógrafa e colunista do Literário
* Por Sayonara Lino
Não consigo imaginar aqueles dois separados. Projetos afins, gostos, planos, jeitos e manias similares. Neuroticamente complementares. É assim que me lembro deles. Unidos na beleza, na doença, na saúde e até na distância. Um é a extensão do outro, estão diretamente relacionados, proporcionalmente apaixonados. Como se tudo isso não bastasse, encontraram na família as interseções que os ligam desde a infância: eles têm uma prima em comum! Foi ali que tudo começou!
Sou amiga dela há mais de uma década. Conheci-o na mesma época, acho que em 1995. Só tempos depois descobri que ele me odiara secretamente durante anos. Achava-me chata, entrona, mala mesmo. E das grandes, sem alça nem roda! Confessou-me sua ira lá pelo ano 2000, em mais um dos muitos carnavais que passamos juntos (caretíssimos, isolados da multidão, somos sistemáticos, passamos sempre no terraço dele e na minha varandinha). Ótimos, por sinal. Chegou e disse baixinho que havia me detestado durante muito tempo, mas que havia percebido – levou cinco anos – que eu era uma pessoa muito boa! Muito obrigada!
O engraçado é que estou sempre com o casal. Já se acostumaram comigo. Virei o apêndice deles. Carregam-me pra lá e pra cá. Acompanharam o desenrolar de t-o-d-o-s os meus dramas pessoais: namorado maluco, namorado careta, briga de mãe, falta de emprego, monografia emperrada, cachorro hiperativo, viagem de ônibus para o Nordeste, ressaca de pinga do vô, socorro! Mas também compartilharam lindos momentos, brincadeiras, risos, cervejinhas na sacada, cada dia na casa de um, pequenas viagens, filmes exóticos, livros de cabeceira, almoços de domingo, nascer do sol ... nossas particularidades!
Outro dia entramos no elevador do prédio dele. Olhamo-nos no espelho e identificamos os inúmeros cabelos brancos que teimaram em surgir em nossas vastas cabeleiras. “Ah, precisa pintar!”, ela comentou. “Amiga, é a casa dos trinta! Estamos descendo a ladeira, mas não deixaremos a peteca cair! Somos resilientes! Sabe o que é isso? Não?! É um termo que vem da física e está sendo amplamente divulgado pelas ciências sociais. Resumindo, significa que vamos nos adaptar às novas circunstâncias, vamos nos recobrar!”
Enfim, o casal é assim: namorados, amigos, quase parentes, um é a cara do outro. Vão e vêm, eu também já fui e voltei. Sempre nos encontramos. E cada encontro é a vivência da verdadeira amizade!
• Jornalista, fotógrafa e colunista do Literário
A amizade pode durar a vida inteira com seu sobe e desce. Um amigo vale mais do que dinheiro no bolso. Dinheiro não tem ouvidos. Nem sabe fazer carinho.
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