A mulher-tora
* Por Marleuza Machado
Há um tipo de mulher muito em moda atualmente: A mulher-tora. Ela é encontrada facilmente nas academias de musculação, malhando pesado no intuito de esculpir e desenvolver músculos avantajados, chegando, as mais exageradas, a adquirir um porte físico masculinizado.
No entanto, no meu conceito, existe outro tipo de mulher-tora. Eu convivo com uma desta categoria há mais de 40 anos, embora ela tenha começado a delinear a musculatura de sua alma por volta de 22 anos atrás, quando tinha 19 anos. Naquele tempo, ainda com aspecto físico de menina pela adolescente que era, alimentava sonhos como qualquer mocinha da sua idade. O início do seu treinamento deu-se com uma gravidez inesperada, sendo que a partir de então ela abriu mão de muitos dos planos que fizera, para assumir sozinha a criação daquele filho. Recusou veementemente o rótulo de "mãe-solteira", declarando de peito aberto: Sou mãe! Assumiu essa maternidade com responsabilidade e maturidade de mulher feita. Lembro-me claramente do dia em que o Rafa nasceu: Tocaram a campainha naquele 30 de janeiro de 1987, quando abri a porta, lá estava ela, com a placenta escorrendo pernas abaixo, dizendo: - Chegou a hora, leve-me para a maternidade! Estive presente naquele momento de alegria e promessas de vida nova. Fui agraciada com o convite para ser madrinha do seu filhote, a quem muito amamos e de quem muito nos orgulhamos pela honradez e caráter que possui.
Por volta dos 35 anos, ela foi obrigada a suportar mais uma carga no seu treinamento emocional. Um câncer de mama - que ela jamais aceitou ser denominado de "aquela doença" - de um tipo muito agressivo manifestou-se para nosso medo e preocupação. Ela também teve essas sensações, contudo, naquele momento, segurou a barra e não se permitiu demonstrar fragilidade. Assim, com toda força e coragem eu a vi entrar para a sala de cirurgia; eu ouvi sua voz, logo após o resultado da biópsia, dizendo-me que o tumor era maligno; eu a vi enfrentar as sessões de quimioterapia e radioterapia sem reclamações ou lamúrias, recusando as licenças médicas a que tinha direito. Senti-me agraciada, desta vez, por servir de apoio naqueles momentos de sofrimento e luta, acompanhado todo o processo de recuperação, que, principalmente por sua fé, tornou a cura uma realidade.
Fazia pouco tempo de recuperação daquela cirurgia, quando outro problema de saúde veio nos preocupar novamente, Agora era o útero. Por causa do desejo de ser mãe mais uma vez, ela protelara a retirada de um mioma, que com o uso dos medicamentos para tratamento da doença anterior, aumentara consideravelmente, não restando outra opção que não fosse a histerectomia. Enquanto outras mulheres da sua faixa etária e nas mesmas condições se desesperariam ante a possibilidade de uma cirurgia daquela natureza, esta mulher abusava da sua força, dizendo à médica responsável: - Tira tudo o que for necessário; não quero problemas futuros. Resumo: Como os ovários haviam sido afetados, entraram também no “pacote” cirúrgico. Mais uma vez eu estava ao seu lado, presenciando seu crescimento e aceitação das cargas que Deus colocava em seus ombros, as quais ela suportava com louvor.
Esta mulher cresceu muito em virtude e coragem, e eu a vi agigantar-se mais ainda quando precisou lutar por aquele que seria seu parceiro no amor e na vida. Junto com a conquista, veio a realização do sonho do matrimônio numa linda e emocionante cerimônia. Adivinha quem estava lá de madrinha? Euzinha, claro! Feliz da vida por estar fazendo parte daquele momento de felicidade e de mais uma de suas vitórias.
Todas essas circunstâncias vividas e vencidas, a credenciaram para que estivesse também a meu lado em momentos muito difíceis. Se quando ela nasceu eu a carreguei nos braços, em várias ocasiões ela carregou-me no colo, cedendo seu ombro amigo para que eu chorasse, consolando-me. O mais recente deles e que muito me marcou foi o triste dia em que, num corredor frio de hospital ouvimos, apreensivas, a notícia de que papai já não fazia mais parte deste mundo. Choramos juntas, nos amparamos e como boas filhas da "véia" Rita, nos erguemos e fomos tomar as providências necessárias àquela ocasião.
O que esperar mais em termos de crescimento e força desta mulher-tora? Isto só a vida poderá nos responder. Sei apenas que estarei sempre perto, como irmã, como amiga, sentindo minha admiração aumentar toda vez que a vejo superando limites, colecionado medalhas nas maratonas da vida e nas provas de atletismo. Sim, a criatura resolveu ser abusada ao extremo! Agora é mestra na arte de superar obstáculos que desafiam sua capacidade física, fazendo uso de um emocional ultrarresistente. Ah, e para não fugir do perfil da mulher-tora cultuado pela maioria, a dita cuja ainda exibe um belo par de pernas e glúteos invejáveis! Ta bom ou quer mais?
• Poetisa e jornalista
* Por Marleuza Machado
Há um tipo de mulher muito em moda atualmente: A mulher-tora. Ela é encontrada facilmente nas academias de musculação, malhando pesado no intuito de esculpir e desenvolver músculos avantajados, chegando, as mais exageradas, a adquirir um porte físico masculinizado.
No entanto, no meu conceito, existe outro tipo de mulher-tora. Eu convivo com uma desta categoria há mais de 40 anos, embora ela tenha começado a delinear a musculatura de sua alma por volta de 22 anos atrás, quando tinha 19 anos. Naquele tempo, ainda com aspecto físico de menina pela adolescente que era, alimentava sonhos como qualquer mocinha da sua idade. O início do seu treinamento deu-se com uma gravidez inesperada, sendo que a partir de então ela abriu mão de muitos dos planos que fizera, para assumir sozinha a criação daquele filho. Recusou veementemente o rótulo de "mãe-solteira", declarando de peito aberto: Sou mãe! Assumiu essa maternidade com responsabilidade e maturidade de mulher feita. Lembro-me claramente do dia em que o Rafa nasceu: Tocaram a campainha naquele 30 de janeiro de 1987, quando abri a porta, lá estava ela, com a placenta escorrendo pernas abaixo, dizendo: - Chegou a hora, leve-me para a maternidade! Estive presente naquele momento de alegria e promessas de vida nova. Fui agraciada com o convite para ser madrinha do seu filhote, a quem muito amamos e de quem muito nos orgulhamos pela honradez e caráter que possui.
Por volta dos 35 anos, ela foi obrigada a suportar mais uma carga no seu treinamento emocional. Um câncer de mama - que ela jamais aceitou ser denominado de "aquela doença" - de um tipo muito agressivo manifestou-se para nosso medo e preocupação. Ela também teve essas sensações, contudo, naquele momento, segurou a barra e não se permitiu demonstrar fragilidade. Assim, com toda força e coragem eu a vi entrar para a sala de cirurgia; eu ouvi sua voz, logo após o resultado da biópsia, dizendo-me que o tumor era maligno; eu a vi enfrentar as sessões de quimioterapia e radioterapia sem reclamações ou lamúrias, recusando as licenças médicas a que tinha direito. Senti-me agraciada, desta vez, por servir de apoio naqueles momentos de sofrimento e luta, acompanhado todo o processo de recuperação, que, principalmente por sua fé, tornou a cura uma realidade.
Fazia pouco tempo de recuperação daquela cirurgia, quando outro problema de saúde veio nos preocupar novamente, Agora era o útero. Por causa do desejo de ser mãe mais uma vez, ela protelara a retirada de um mioma, que com o uso dos medicamentos para tratamento da doença anterior, aumentara consideravelmente, não restando outra opção que não fosse a histerectomia. Enquanto outras mulheres da sua faixa etária e nas mesmas condições se desesperariam ante a possibilidade de uma cirurgia daquela natureza, esta mulher abusava da sua força, dizendo à médica responsável: - Tira tudo o que for necessário; não quero problemas futuros. Resumo: Como os ovários haviam sido afetados, entraram também no “pacote” cirúrgico. Mais uma vez eu estava ao seu lado, presenciando seu crescimento e aceitação das cargas que Deus colocava em seus ombros, as quais ela suportava com louvor.
Esta mulher cresceu muito em virtude e coragem, e eu a vi agigantar-se mais ainda quando precisou lutar por aquele que seria seu parceiro no amor e na vida. Junto com a conquista, veio a realização do sonho do matrimônio numa linda e emocionante cerimônia. Adivinha quem estava lá de madrinha? Euzinha, claro! Feliz da vida por estar fazendo parte daquele momento de felicidade e de mais uma de suas vitórias.
Todas essas circunstâncias vividas e vencidas, a credenciaram para que estivesse também a meu lado em momentos muito difíceis. Se quando ela nasceu eu a carreguei nos braços, em várias ocasiões ela carregou-me no colo, cedendo seu ombro amigo para que eu chorasse, consolando-me. O mais recente deles e que muito me marcou foi o triste dia em que, num corredor frio de hospital ouvimos, apreensivas, a notícia de que papai já não fazia mais parte deste mundo. Choramos juntas, nos amparamos e como boas filhas da "véia" Rita, nos erguemos e fomos tomar as providências necessárias àquela ocasião.
O que esperar mais em termos de crescimento e força desta mulher-tora? Isto só a vida poderá nos responder. Sei apenas que estarei sempre perto, como irmã, como amiga, sentindo minha admiração aumentar toda vez que a vejo superando limites, colecionado medalhas nas maratonas da vida e nas provas de atletismo. Sim, a criatura resolveu ser abusada ao extremo! Agora é mestra na arte de superar obstáculos que desafiam sua capacidade física, fazendo uso de um emocional ultrarresistente. Ah, e para não fugir do perfil da mulher-tora cultuado pela maioria, a dita cuja ainda exibe um belo par de pernas e glúteos invejáveis! Ta bom ou quer mais?
• Poetisa e jornalista
Nossa, o Pedro me surpreendeu hj! Sei que nada é por acaso, por isso foi especial reler esta crônica, escrita há quase 2 anos, por ocasião do aniversário de minha irmã.
ResponderExcluirObrigada Pedro!
Pedro, muito obrigada pela publicação desta crônica. Foi uma homenagem emocionante e poética da minha irmã por ocasião do meu aniversário de 42 anos. Graças a Deus continuo bem e procurando a única razão do ser humano estar aqui: SER FELIZ. Um grande abraço de Luzia Regis (a "mulher tora")
ResponderExcluirMarleuza, postei um comentário no texto de Sayonara antes de vir ler a sua crônica. Que baita coincidência! Aqui encontro uma mulher que ficou inteira depois da perda da mama, e com a sua ajuda. Parabéns a sua irmã e a você.
ResponderExcluirReparo: a placenta só sai após a criança.
Na verdade é só um líquido, né Mara?
ResponderExcluirVou corrigir posteriormente na crônica.
Obrigada Dra.