domingo, 6 de maio de 2018

Relógio de ponto - Alberto da Cunha Melo


Relógio de ponto


* Por Alberto da Cunha Melo


Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros,
mais do que tudo: todo o amor.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.

Se alguma súbita alegria
retardar o nosso regresso,
um inesperado companheiro
marcará o nosso cartão.

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas.

De 
Publicação do Corpo (1974)


* Escritor, sociólogo e jornalista pernambucano, falecido em 13 de outubro de 2007


Um comentário:

  1. Ótimo! A excelente poesia engajada de Alberto da Cunha Melo, outros tempos mais produtivos, comprovantes.

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