Como escrever?
O
ato de escrever, principalmente quando seu objetivo não é o de se
limitar a produzir textos perecíveis, que fiquem “velhos”
praticamente no dia seguinte ao da sua produção, mas que se
conservem sempre atuais, como se fossem escritos no dia em que você
o ler (mesmo que o leia décadas depois de escritos), requer uma
série de aptidões. Uma delas, talvez a principal, é a capacidade
de despertar empatia no leitor, de torná-lo seu cúmplice, de
fazê-lo sentir-se seu parceiro, embora sem o ser, por você ter
redigido exatamente o que ele gostaria de redigir.
A
isso, classifico de “astúcia”. Claro que a correção, quer (e
principalmente) a gramatical, é condição sine qua non. Textos
eivados de erros tendem a expô-lo ao ridículo, mesmo que seu
conteúdo seja dos mais ricos e originais.
Você
tem que criar um estilo próprio, todo seu, de escrever, de sorte que
quem vier a ler suas produções literárias as identifiquem de
imediato como suas, mesmo que seu nome não apareça sob o título.
Embora não pareça, isso é muito mais difícil do que o leigo possa
supor.
Bom
ou mau (não me cabe julgar minha própria produção, até porque
não teria a necessária isenção para fazê-lo), tenho a minha
forma peculiar de redigir. Não temo, por exemplo, assumir minhas
colocações sempre e invariavelmente na primeira pessoa. Há quem
condene essa prática, acusando quem a adota de arrogante, imodesto,
convencido e outros quetais. Bobagem. Entendo que se trate de
manifestação de personalidade, de autoconfiança, de certeza quanto
ao que escreve.
Meus
textos (que caracterizo como crônicas, mas que os críticos juram
que são ensaios), têm, todos, no aspecto formal, o mesmíssimo
desenho. São como teoremas de geometria: começam com uma hipótese,
da qual emerge determinada tese, seguida da respectiva demonstração.
São, sobretudo, didáticos (vezo de um professor que, por “n”
razões, conhecidas de todos, se recusou a abraçar o magistério).
Sou
uma pessoa sumamente intuitiva e confio sem restrições na minha
intuição. E esta me sugere que, mais dia, menos dia, haverei de me
tornar, se não unanimidade, um escritor bastante requisitado, pelas
ideias que veiculo. Convencimento? Não! Longe disso. É algo
parecido, todavia positivo: é convicção.
Caso
não estivesse convicto do meu valor, sequer me aventuraria neste
complicado e não raro frustrante mundo das letras. É provável que
sequer tenha a ventura de testemunhar meu sucesso. Não faz mal.
A
probabilidade maior é que ele seja póstumo e aconteça muitos anos
depois da minha partida deste mundo. Tudo bem, submeto-me a mais esta
sacanagem das circunstâncias, se for preciso. Mas quando o sucesso
vier... este texto, que hoje causa espanto em muitos e irritação
nos hipócritas, irá testemunhar o quanto estou convicto do que faço
e dos resultados que hão de advir disso.
O
exercício do texto é solitário. Requer isolamento, silêncio e o
que James Joyce classificava de “exílio”. É incompatível,
portanto, com a exposição pessoal continuada, com os aplausos
efêmeros, com a “glorícola” dos incompetentes, mas que se
julgam os tais (há uma infinidade deles por aí). A obra, para se
perpetuar, precisa ter um sem-número de características, entre as
quais, conteúdo sólido e inteligente, passando pela clareza,
concisão, exatidão do que é exposto e originalidade.
Posso,
é verdade, ser original pisando as pegadas de outros escritores.
Para isso, porém, preciso descobrir ângulos novos, inusitados,
inexplorados no que já foi cansativamente explorado. Aí é que está
o grande desafio de quem é, verdadeiramente, criativo. A
originalidade, pois, não está no tema a abordar, mas na forma com
que o abordamos.
O
meu relativo sucesso de hoje, quando, graças à bendita internet, já
sou lido em pelo menos dez países (conforme pude constatar pelo
Google), será pífio, irrisório, medíocre face ao que pressinto
que possa conseguir num futuro que não sei se será remoto,
remotíssimo ou próximo.
Só
peço a Deus a ventura de poder testemunhar pelo menos o início
desse processo, cheio de idas e vindas, de quedas e recuperações
sucessivas, de surpresas maravilhosas e decepções inesperadas. Para
isso, porém, terei que manter autodisciplina, personalidade,
convicção, além de contar com o fator sorte.
É
pouco? É muito? Está além da minha capacidade? Não sei! O que sei
é que o essencial, para que minha intuição seja verdadeira e não
mero engodo da vontade e da imaginação (ou seria megalomania?) é
jamais perder a “astúcia”, na hora solitária, dolorida e tensa
em que estiver escrevendo.
Boa
leitura!
O
Editor.
Quando há interrupções, o texto fracassa. Hoje escrevi sob tensão e múltiplas interrupções. O resultado não fica bom.
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