A
comunicação virtual
*
Por Francisco Simões
Quero me referir ao que escrevemos a amigos e deles recebemos em “diálogos” mantidos nesta internet. Mesmo eu usando o “velho” Outlook Express, meu preferido, percebo que nem sempre o que queremos dizer, por mais que nos esforcemos, é levado ao nosso “interlocutor” tal como queríamos que fosse.
Isto
se torna pior quando tentamos conversar com alguém que costuma usar
e abusar das famigeradas abreviações. Eu não as uso porque ao
responder a alguém sinto que o devo fazer com o máximo de clareza,
educação, além de usar o respeito que o amigo ou a amiga merecem,
o que as abreviações não permitem.
Se
nós mantemos uma troca de mensagens sem que estejamos em polêmica
ou em debate com a outra pessoa, tudo fica mais fácil. Se nós
escrevemos com alguma pressa é comum trocarmos letras, mas a outra
pessoa entenderá até porque com ela ou ele acontecerá a mesma
coisa algumas vezes.
Entretanto
o que aqui chamarei de “comunicação virtual”, algumas vezes se
torna um problema no relacionamento entre duas pessoas. Posso
garantir isto porque já me aconteceu e mais de uma vez. Vejam que
sou alguém de inteligência mediana, que sei escrever, e sempre
manifesto respeito por quem me dirige a palavra seja comentando texto
meu ou apenas conversando.
Ainda
assim os efeitos de um eventual desentendimento na troca de opinião
através dessas mensagens virtuais têm contra si a falta da palavra
dita de corpo presente, o não olhar nos olhos, a velha conversa de
corpo presente que permite uma correção, ou várias, de imediato
sem que o desfecho possa provocar aborrecimento.
Se
já ganhei muitas e boas amizades nesta internet igualmente já perdi
algumas geralmente por divergências de pontos de vista sobre
determinado assunto, ou mesmo por eu ter sido mal interpretado ou ter
eu entendido equivocadamente o que alguém me disse ao argumentar
contra a defesa que eu fazia de certo assunto.
Afirmo
por experiência própria que, mesmo cheio de razão, já fui levado
a escrever com certa veemência na defesa de algo acabando por
atingir o brio, ou o sentimento de dignidade de alguém o que não
era a minha intenção. Eventualmente a recíproca já foi verdadeira
também.
Hoje
quase “piso em ovos”, especialmente com pessoas muito amigas, se
desejo me expressar discordando deles ou delas. Não incluo aqui
quando alguém se afastou de mim por ter pontos de vista diferentes,
por exemplo, sobre política nacional ou internacional. Ficou-me,
todavia a impressão que a discordância tinha para o amigo uma
importância maior, mais forte que a antiga amizade.
Não
relaciono também neste caso aqueles ou aquelas que me expurgaram por
eu ser contra alguma tentativa de censura a texto meu, ou exigência
por mim julgada descabida. Nesses casos eu defendo sempre meus
direitos com muita disposição, educadamente, porém jamais cedendo
a imposições que considero descabidas. Foi assim que saí de alguns
poucos sites para os quais escrevi antes.
Felizmente
com pessoas inteligentes que percebem facilmente na forma de nos
comunicarmos por mensagens algumas vezes não dizermos o que nós
queremos dizer, na forma como desejamos, isto se nós estivéssemos
conversando pessoalmente, conseguimos consertar rapidamente algum
eventual mal entendido.
Ocorreu
por acaso há poucos dias quando eu e um grande e bom amigo da antiga
“papeávamos” nesta internet como de hábito o fazemos. No vai e
vem de nossas palavras, algumas brincadeiras, pequenas gozações, eu
acabei entendendo errado o que ele me escrevera sobre sua futura
decisão de votar.
Na
verdade ele apenas tirava um sarro em parte do que eu escrevera
antes, nada sério como eu entendera. Como ele, inteligente que é,
percebeu que eu “deslizara na maionese”, digamos assim, tratou de
botar os pingos nos ii. Da minha parte corri para apresentar minhas
desculpas e corrigir tudo. Então escrevi assim para ele:
“É
meu amigo, tens razão, o difícil é mesmo a comunicação, mas não
era antes. Agora na era desta tal informática muita coisa que se
escreve costuma ser interpretada erradamente, já me aconteceu várias
vezes, tanto da minha parte como na de outros amigos. É isso aí.
Confesso que eu prefiro o tempo em que nós falávamos, quando nós
conversávamos pessoalmente, o que hoje quase não acontece. É uma
lástima.”
De
imediato meu amigo concluiu aquela “conversa” com essas sábias e
verdadeiras palavras que eu aplaudi:
“Concordo
plenamente. Falta calor humano. Falta o olhar, os gestos,
o sorriso, enfim, falta humanidade.”
Falaste
tudo, meu bom amigo, acertaste no centro do alvo. Parabéns.
*
Jornalista,
poeta e escritor.
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