Temer,
do começo ao fim
* Por
Emir Sader
Nem
resgate da confiança no governo, nem recuperação da economia, nem
fim da corrupção. Temer termina como começou: na mediocridade e na
intranscendência.
Marx se perguntava, no XVIII Brumário, como um personagem insignificante como Luis Bonaparte poderia ter um papel de destaque na história. Eram necessárias circunstâncias muito excepcionais para que isso acontecesse. Que condições foram possíveis para que um personagem tao medíocre como Temer fosse guindado à presidência do Brasil?
Temer
nasceu para o destaque político quando o PMDB terminou de se
descaracterizar, com a derrota em 1989 e a morte de Ulysses
Guimarães, marcando o esgotamento definitivo do impulso democrático
que esteve presente nesse partido. O impulso não sobreviveu ao
governo Sarney e, a partir dali, a morte ideológica do partido
estava anunciada.
A
mediocridade de Temer o talhava para protagonizar o novo período do
PMDB. Como não é nada, em sua absoluta mediocridade, podia ser
pintado de diferentes cores, para que o partido se integrasse a
diferentes projetos, conforme o vento soprasse. Assim, o PMDB esteve
na implementação do programa neoliberal do governo FHC e, em
seguida, nos governos que implementarão políticas antineoliberais,
em sentido totalmente oposto ao de FHC, nos governos de Lula e Dilma.
Temer
não foi escolhido pelo PT para ser vice de Dilma. Ele era o
presidente do PMDB, pela sua capacidade camaleônica de manter o
equilíbrio entre os diversos caciques do partido e levá-lo para uma
ou outra direção, sempre tendo em comum o papel de estabilizador de
governos, sem nunca poder disputar a hegemonia. Para agradar seus
caciques, o PMDB sempre anunciava, ao final de cada eleição, que
teria candidato próprio à presidência na eleição seguinte, que
nunca se concretizava. Sem programa próprio, o partido ficou voltado
para ser coadjuvante – do PSDB ou do PT.
Na
campanha de 2010, Temer foi indicado pelo PMDB para ser vice na chapa
da Dilma, com a manutenção do programa dos governos Lula, função
que foi reiterada em 2014, quando ele defendeu esse programa na
campanha.
A
crise do governo Dilma, no começo do seu segundo mandato, abriu as
portas para que a mediocridade do Temer fosse colocada a serviço de
um outro projeto, o derrotado nas urnas, pela chapa da qual ele tinha
feito parte. Valendo-se da disposição desestabilizadora da mídia e
do grande empresariado, além da virada interna do partido, sob a
condução de Eduardo Cunha, Moreira Franco fez um repertório das
piores e mais retrógradas posições da direita, para apresentar
como um programa mediante o qual Temer poderia se apresentar como
alternativa ao governo Dilma.
O
programa era uma expressão da posições da direita – do governo
FHC, passando pelas das candidaturas de Serra, Alckmin, Aécio,
Marina – e assim reunificou a velha mídia, o grande empresariado e
os setores do Judiciário aderidos ao golpe. Foi sua oportunidade
histórica de sair da mediocridade e desempenhar papel protagonista.
Para isso, anunciou que era necessário reunificar o país,
reconquistar a confiança no governo, retomar o crescimento
econômico.
Sabemos
que nada disso foi feito e assim ele voltou a ser um personagem
decorativo, porque nem o grosso do pacote regressivo do programa que
ele havia assumido foi aprovado. As acusações de corrupção
comprovadas o tornaram um personagem mediocremente inútil. Ele cai
sem pena nem glória e o país fica entregue a uma situação caótica
do ponto de vista político e institucional e de desagregação do
ponto de vista econômico e social.
Abre-se
o pós-Temer, que a direita pretende que não seja o pós-golpe. A
disputa sobre essas alternativas se torna mais aberta e a esquerda
intervém firmemente pelas eleições diretas e a retomada da
democracia, depois do triste interregno golpista de Temer, o medíocre
e breve.
* Sociólogo e cientista político
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