sexta-feira, 19 de maio de 2017

Temer, o presidente fantasma


* Por Urariano Mota



Entre os significados da palavra fantasma, podemos ver no Dicionário Aulete:

“Suposta aparição de pessoa que já morreu; alma penada; ASSOMBRAÇÃO; ESPECTRO”. Ou então, a seguir: “Imagem sobrenatural que alguém julga ver”. E mais adiante: “Pessoa que apenas aparenta ou representa um papel que deveria ter”.


 E mais nos ajuda o bom dicionário: 
Seguindo um substantivo, ao qual se liga por hífen, tem valor de adjetivo e significa 'não existente, fictício, criado para iludir, especialmente com fins fraudulentos’ ”.

É em todos os significados do fantasma acima que devemos ver a criatura, ente monstruoso, Michel Temer. E não estamos forçando a prosa. Temos um presidente que para tão alta honra não foi eleito, primeiro. Temos um fantasma que se tornou a estrela-guia do inferno para os trabalhadores no Brasil, segundo. Temos uma aparição que aliena o petróleo brasileiro para as multinacionais. Temos o beneficiário número 1 da corrupção no congresso, com quem tramou a queda de uma presidenta íntegra. Temos, enfim, com tal alma o recuo do Brasil até as trevas dos direitos humanos. Em qual significado poderíamos enquadrar um presidente sem presidência, uma presidência sem presidente, um governo sem governo, uma autoridade cuja ilusão é o cargo vazio?

Se pensam que é retórica ou palavras mal-ajeitadas, passem um olho no noticiário mais recente, nos protestos de rua, no desencanto e desalento que invadem o coração brasileiro dos últimos dias. Observem a raiva que une todas as gerações, numa verdadeira mistura de cabelos brancos e pretíssimos nos protestos e passeatas. Olhem a base parlamentar de apoio do vagante que começa a se desintegrar. Os ratos começaram o abandono do navio que afunda. Os que ainda resistem – em nome da solidariedade, ah, bufões, destroem até a dignidade dos conceitos - fazem uma aposta na base do “vamos aproveitar as últimas horas do titanic”, enquanto reservam um barco salva-vidas. No minuto final, vão pular fora com a frase mais cínica “em nome do Brasil, pelo povo brasileiro, deixo de apoiar esse desonesto”.

O poder político, moral e de honra está vazio em Brasília. E finge que ocupa a presidência. Então, como enxotá-lo? Xô, fantasma? Mas xô se dirige às galinhas, aos animais de pequeno porte. Como reagir diante das notícias dos últimos dias do fantasma? No interior do palácio, perto da meia-noite, olhem que maravilhoso diálogo foi travado, não previsto na imaginação de Molière ou de Shakespeare: 
Batista - Eu tô de bem com o Eduardo…
Temer - Tem que manter isso, viu?
Batista - Sou investigado. Eu não tenho ainda a denúncia. Aqui, eu dei conta de um lado do juiz, dar uma segurada. Do outro lado, um juiz substituto.
Temer - Que tá segurando os dois.
Batista - Segurando os dois... Ó, eu consegui um procurador dentro da força-tarefa.
Temer - Que tá lá…
Batista - Que também tá me dando informação”.

Nessa clara prevaricação, nessa conversa íntima entre criminosos, o senhor alma no poder declara: “Ainda bem que eu tenho apoio do Congresso. Se eu não tenho apoio do Congresso, eu tô ferrado”. E agora não tem mais. O presidente não tem base real, mas aparece como se vivo estivesse na presidência. Virou alma penada que discursa e grita “Eu não renuncio”. No entanto, à vida ele já renunciou. E quer arreganhar os dentes para ferir, e quer se anunciar como algo a que se deve temer. Mas ele se tornou um fantasma a quem não mais se teme. O próprio nome, Temer, virou piada, caiu no escracho, no deboche. A um presidente assim, só lhe resta renunciar, para sua maior dignidade. Mas como pedir a um fantasma que seja digno? Então que o levemos a assumir a própria nulidade. 

O fantasma do Hamlet fala no teatro: “Estou condenado, por um certo prazo, a vagar à noite, e durante o dia confinado, a jejuar no fogo, até que os torpes crimes cometidos em meus dias de vida sejam queimados e expurgados”. Piedade, amigos. Não deixemos mais essa alma penada a sofrer. O povo brasileiro precisa abreviar o prazo do fantasma que ocupa a presidência.

* Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici, “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus”, “Dicionário amoroso de Recife” e “A mais longa juventude”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros


3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Caro Urariano, tudo "farinha do mesmo saco"!!!
    Dilma deveria ter ficada atenta à trajetória dos políticos, porque suas alianças comprometeram, e muito, o futuro em prol do social.
    Quem não se lembra do então deputado Severino Cavalcanti, quando membro da mesa diretora, querendo ter seus 15 minutos de fama em cadeia nacional? Quando ele fez uma comparação entre sua vida e a do ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que ambos vieram da região do Agreste pernambucano, retirantes da seca e com profundo conhecimento dos problemas vividos pelos sertanejos? Repito: O povo tem o governo que merece. Não tomo partido político nem tampouco religião e ateísmo (religiosos e ateus alienantes). Lula/Dilma tem muita "culpa no cartório"!!!

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  3. É preciso coragem para deixar claros os nossos pontos de vista. Temer é sim um espectro.

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