sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O baile

* Por Natércia Freire


Névoa em surdina
A sombra que acompanha
As finas pernas a dançar na tarde.
Jogo de jovens corpos.
Música de montanha,
Num tempo teu e meu
De eternidade.
E eu, as duas estranhas.

Olha quem toca o ponto
Que há no fim!
Ao fim de mim,
No ponto para que vim.
Ao fim de mim
No ponto donde vim.
Vulto de agulha
Em fumo de água e lenha.

Eu, as duas estranhas.

É sempre pêlos outros que falamos.
Eu, as duas estranhas, por mim falam.
Em estradas como ramos
oscilamos. E vamos
Convergentes, dispersas, disparadas
Pêlos tiros de magos inocentes
Do caos ao sol
Em gradações de escadas.

Ouve-se às vezes uma voz: — Presente!
E já no corpo as almas vão trocadas.

Foi em concretos dias de sol-posto,
Em fábricas de fios de uma aranha,
Que se teceram
Em finíssimas teias de desgosto,
(Eu) as duas estranhas.


* Poetisa portuguesa

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