Limpeza da mente
A mais fascinante (e
importante) descoberta que um homem pode fazer ao longo da sua vida não se
refere a algum princípio científico, ou processo tecnológico, ou localização de
planetas ou galáxias desconhecidos. É a da sua própria pessoa. Não nos
conhecemos, embora achemos que sim. Não sabemos qual é o nosso verdadeiro
potencial e sequer temos noção da quantidade (e qualidade) do acervo de
informações, sensações e emoções "estocado" em nosso subconsciente. A
forma de realizarmos esta aventura, essa caça ao tesouro, essa busca da pedra
filosofal da suprema sabedoria, é uma só: a meditação.A maioria das pessoas,
todavia, evita de empreender essa saudável procura, por medo do que possa
descobrir.
Meditar era prática
corriqueira dos grandes místicos, dos guias espirituais que transformaram a
humanidade e que são e sempre serão venerados por todos os tempos pelo legado
de santidade, lucidez e sabedoria que nos deixaram. Jesus Cristo, após seu
batismo no Rio Jordão, retirou-se para o deserto por quarenta dias para esse
fim. Sidarta Gauthama atingiu o estado de "Buda" (iluminação) através
desse meio. Maomé teve o encontro com o anjo Gabriel, quando recebeu a
revelação, durante um retiro espiritual.
Jiddu Krishnamurti
explica a esse respeito: "Meditar é purgar a mente de todas acumulações, é
a eliminação do poder de juntar, de identificar, de tornar-se; desistência
natural do autocrescimento, do autopreenchimento; meditar é livrar a mente da
memória e do tempo". É apenas através do caminho da meditação que
chegaremos às grandes verdades transcendentais, à unidade cósmica que é a
essência da divindade, à harmonia universal.
Escrevi muito sobre
esse lúcido pensador. Todavia, para meu leitor que não teve oportunidade de ler
nenhum texto meu (ou de qualquer outro) sobre essa veneranda figura, esclareço
que Jiddu Krishnamurti foi um filósofo, professor e escritor indiano,
considerado um dos grandes mestres do mundo, com visão, sobretudo, holística do
homem. Nasceu em Mandrapalle, na Índia, em 11 de maio de 1895 e faleceu, há
trinta anos, em Ojai, em 17 de fevereiro de 1986, meses antes de completar 91
anos de idade. Foi educado, desde os 13 anos, pela Sociedade Teosófica, da qual
viria a divergir mais tarde, conquistando prestígio mundial por seus estudos
sobre meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas e a natureza da
mente, entre outros temas.
Tenho particular
reverência por este mestre, que influenciou, decisivamente, o que sou e o que
penso. Publicou cerca de 50 livros, boa parte dos quais foi traduzida para o
português. Li, diria melhor, “devorei” quase metade deles. Consulto-os, sempre
que posso, para fixar conceitos complexos que ainda escapam ao meu completo
entendimento, que não são poucos, admito. Foi eclético. Escreveu sobre praticamente
tudo. Publicou, inclusive, poemas, magníficos e profundos. Mas a obra de
Krishnamurti que mais me fascina não é, propriamente, a literária. É a que se
refere especificamente à mente humana, em seus vários aspectos.
Voltando ao tema destas
reflexões, indago: como o exercício de meditação deve ser feito? Existem
técnicas, momentos e lugares adequados? Quais os requisitos exigidos?
Krishnamurti responde: "A meditação não é consciente, nem requer
determinadas posturas. Aquele que medita não tem consciência de que está
meditando. Se alguém medita deliberadamente, essa é uma outra forma de
desejo". A condição básica, portanto, para a meditação é esse expurgo da
mente. É o relaxamento, a serenidade, a respiração lenta, profunda e pausada. Pois
como destaca o guru indiano: "Quando a mente está toda vazia, em completo
silêncio, ela é capaz de renovar-se inteiramente, sem pressões externas, alheia
a circunstâncias. Então ela é clara, cristalina e há nela uma alegria que não é
mero prazer".
Nesta época particular
da História, com tantas tensões, injustiças e perigos a nos ameaçar, são cada
vez mais raros mestres lúcidos, iluminados e sábios, como Jiddu Krishnamurti. E
os poucos que ainda existem, raramente são ouvidos, acatados e imitados.
Ademais, salvo uma ou outra exceção, não conseguem espaço nos meios de
comunicação para divulgar suas idéias, tão necessárias e oportunas e,
sobretudo, indispensáveis. Encerro estas descompromissadas reflexões citando a
seguinte observação desse lúcido pensador, sábio na verdadeira acepção do
termo: “A forma mais elevada de inteligência humana é dirigir a atenção
desprovida de julgamento”. Convenhamos, este tipo de lucidez é cada vez mais
raro nestes tempos tensos e “bicudos” que vivemos. O que abunda, na imprensa, na
política, na vida e, cada vez mais nas redes sociais, é a imbecilidade
travestida de sabedoria. Infelizmente...
Boa leitura!
O Editor.
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Bateu fundo.
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