sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Limpeza da mente



A mais fascinante (e importante) descoberta que um homem pode fazer ao longo da sua vida não se refere a algum princípio científico, ou processo tecnológico, ou localização de planetas ou galáxias desconhecidos. É a da sua própria pessoa. Não nos conhecemos, embora achemos que sim. Não sabemos qual é o nosso verdadeiro potencial e sequer temos noção da quantidade (e qualidade) do acervo de informações, sensações e emoções "estocado" em nosso subconsciente. A forma de realizarmos esta aventura, essa caça ao tesouro, essa busca da pedra filosofal da suprema sabedoria, é uma só: a meditação.A maioria das pessoas, todavia, evita de empreender essa saudável procura, por medo do que possa descobrir.

Meditar era prática corriqueira dos grandes místicos, dos guias espirituais que transformaram a humanidade e que são e sempre serão venerados por todos os tempos pelo legado de santidade, lucidez e sabedoria que nos deixaram. Jesus Cristo, após seu batismo no Rio Jordão, retirou-se para o deserto por quarenta dias para esse fim. Sidarta Gauthama atingiu o estado de "Buda" (iluminação) através desse meio. Maomé teve o encontro com o anjo Gabriel, quando recebeu a revelação, durante um retiro espiritual.

Jiddu Krishnamurti explica a esse respeito: "Meditar é purgar a mente de todas acumulações, é a eliminação do poder de juntar, de identificar, de tornar-se; desistência natural do autocrescimento, do autopreenchimento; meditar é livrar a mente da memória e do tempo". É apenas através do caminho da meditação que chegaremos às grandes verdades transcendentais, à unidade cósmica que é a essência da divindade, à harmonia universal.

Escrevi muito sobre esse lúcido pensador. Todavia, para meu leitor que não teve oportunidade de ler nenhum texto meu (ou de qualquer outro) sobre essa veneranda figura, esclareço que Jiddu Krishnamurti foi um filósofo, professor e escritor indiano, considerado um dos grandes mestres do mundo, com visão, sobretudo, holística do homem. Nasceu em Mandrapalle, na Índia, em 11 de maio de 1895 e faleceu, há trinta anos, em Ojai, em 17 de fevereiro de 1986, meses antes de completar 91 anos de idade. Foi educado, desde os 13 anos, pela Sociedade Teosófica, da qual viria a divergir mais tarde, conquistando prestígio mundial por seus estudos sobre meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas e a natureza da mente, entre outros temas.

Tenho particular reverência por este mestre, que influenciou, decisivamente, o que sou e o que penso. Publicou cerca de 50 livros, boa parte dos quais foi traduzida para o português. Li, diria melhor, “devorei” quase metade deles. Consulto-os, sempre que posso, para fixar conceitos complexos que ainda escapam ao meu completo entendimento, que não são poucos, admito. Foi eclético. Escreveu sobre praticamente tudo. Publicou, inclusive, poemas, magníficos e profundos. Mas a obra de Krishnamurti que mais me fascina não é, propriamente, a literária. É a que se refere especificamente à mente humana, em seus vários aspectos.      

Voltando ao tema destas reflexões, indago: como o exercício de meditação deve ser feito? Existem técnicas, momentos e lugares adequados? Quais os requisitos exigidos? Krishnamurti responde: "A meditação não é consciente, nem requer determinadas posturas. Aquele que medita não tem consciência de que está meditando. Se alguém medita deliberadamente, essa é uma outra forma de desejo". A condição básica, portanto, para a meditação é esse expurgo da mente. É o relaxamento, a serenidade, a respiração lenta, profunda e pausada. Pois como destaca o guru indiano: "Quando a mente está toda vazia, em completo silêncio, ela é capaz de renovar-se inteiramente, sem pressões externas, alheia a circunstâncias. Então ela é clara, cristalina e há nela uma alegria que não é mero prazer".

Nesta época particular da História, com tantas tensões, injustiças e perigos a nos ameaçar, são cada vez mais raros mestres lúcidos, iluminados e sábios, como Jiddu Krishnamurti. E os poucos que ainda existem, raramente são ouvidos, acatados e imitados. Ademais, salvo uma ou outra exceção, não conseguem espaço nos meios de comunicação para divulgar suas idéias, tão necessárias e oportunas e, sobretudo, indispensáveis. Encerro estas descompromissadas reflexões citando a seguinte observação desse lúcido pensador, sábio na verdadeira acepção do termo: “A forma mais elevada de inteligência humana é dirigir a atenção desprovida de julgamento”. Convenhamos, este tipo de lucidez é cada vez mais raro nestes tempos tensos e “bicudos” que vivemos. O que abunda, na imprensa, na política, na vida e, cada vez mais nas redes sociais, é a imbecilidade travestida de sabedoria. Infelizmente...

Boa leitura!

O Editor.

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