quarta-feira, 12 de outubro de 2011







É belo!


* Por Marleuza Machado


Na minha adolescência, ainda sem muita intimidade com o sexo oposto, encasquetei que me casaria com um homem da raça negra. Papai era extremamente racista e quando o apresentei àquele que seria meu marido por 20 anos, o dito cujo entrou pela porta da frente e meu genitor saiu pelos fundos, quase sem o cumprimentar. No decorrer dos anos, tornaram-se carne e unha e por ironia, ele foi o genro preferido até a morte de papai, aos 75 anos.

Os argumento do qual sempre me servi para justificar tal preferência, é que lá pelos anos 80, bronzeamento era quase obrigação e eu acabava sofrendo queimaduras de segundo grau, por exagerada exposição ao sol, na tentativa absurda de ter a cor da pele ditada pela moda, sem levar em conta minha brancura. A partir daí, profetizei que me casaria com um negro. Assim, meus filhos teriam uma cor mais abrasileirada e não ouviriam os mesmos comentários que tanto incomodavam, do tipo: você está muito branca! (hoje, amadurecida, descobri que não "estou"; "sou" branca!).

Apurei o gosto pela cor negra de tal forma, que na Copa do Mundo de Futebol em 2010, torci fervorosamente para a Seleção da Costa do Marfim, encantada com seus atletas negros de corpos esculturais, querendo tê-los ao alcance da visão o maior tempo possível. Em se tratando dos relacionamentos amorosos, confesso, envergonhada, ser racista com os brancos. E não pense que eu tenha me esquivado de algumas fracassadas tentativas! Diante dos fatos, sinceramente, começo a duvidar do argumento sempre utilizado para livrar minha cara, sem assumir essa preferência quase patológica. Não seria melhor admitir que o negro me encanta pelo seu físico, pelo cheiro, pelo "tempero" etc, etc, e não por um trauma adquirido em tenra mocidade?

Esta manhã, escancarei-me, ao falar com um amigo pela rede social, quando ele me interpelou:
- Linda, navegando na rede em busca de um deus grego?
Respondi imediatamente:
- Querido, não poderia ser um deus negro?

• Poetisa e jornalista

2 comentários:

  1. Marleuza minha querida, adorei seu texto
    e te confesso que comungo do mesmo gosto.
    Abração

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  2. Que bom Núbia! comungamos de algo mais, além da poesia.
    Abraços e Obrigada!

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