Saber perguntar
O saber perguntar é fundamental a quem busque determinado conhecimento (e todos nós, sempre, buscamos algum) e esteja em face de quem tem a capacidade de fazer esse esclarecimento. Nem todos (diria a maioria) não sabe fazer perguntas. Não, pelo menos, as pertinentes, de forma adequada, claras e sem nenhuma ambiguidade. Os repórteres sabem da importância de questionamentos hábeis quando saem à cata de notícias. Os que perguntam bem, ou seja, inteligente e claramente, se destacam e brilham em suas reportagens. Estes, infelizmente, estão longe de se constituir em maioria. Os que não sabem perguntar... deixam os editores malucos na hora de editarem suas matérias.
O filósofo e economista austríaco, naturalizado norte-americano, Peter Drucker, considerado o “pai da administração moderna” (que faleceu em 2005), observou a propósito: “Os piores equívocos não são cometidos em decorrência de respostas erradas. O verdadeiro perigo é fazer a pergunta errada”. Exagero? Não! O questionamento imperito, obscuro, ambíguo e desastrado, suscita respostas que não condizem com o que se pretendia saber. É fonte de equívocos. E, dependendo da atividade, esses erros tendem a ser sumamente perniciosos e às vezes irreparáveis.
Os escritores, assim como os jornalistas, também precisam ser peritos na arte de perguntar. Notadamente os que se especializam na redação de crônicas e de ensaios. Raciocinemos. Os questionamentos, dúvidas e a insaciável curiosidade são fatores determinantes da evolução humana, em todos os campos do conhecimento, tanto nas artes, quanto nas ciências e na vida, certo? Por mais que alguém conheça, jamais irá desvendar todos os mistérios daquilo que o cerca, quanto mais do universo, cujos limites se situam no infinito. Nunca irá abarcar sequer um bilionésimo da totalidade do conhecimento.
Isso, porém, não deve nos desanimar. Deve, isto sim, servir de estímulo para que nos informemos, aprendamos e busquemos, mais e mais, chegar à raiz do conhecimento. Só com essa gana, com essa obsessão, com essa fome de saber poderemos evoluir como indivíduos e, coletivamente, como a única espécie inteligente da natureza. Foi essa curiosidade que tirou o homem das cavernas e propiciou seu progresso e, em última análise, a civilização. Tudo começou, no entanto, com perguntas que, respondidas, suscitaram outras, e outras e outras tantas que ainda hoje estão carentes de respostas peremptórias e incontestáveis. Honoré de Balzac constata: “A chave de todas as ciências é, inegavelmente, o ponto de interrogação”. Ou seja, é a exigência de respostas sobre tudo o que somos, temos, desejamos ou que nos rodeie etc.etc.etc.
Um dos métodos mais eficazes, práticos e sábios para aprendermos qualquer coisa, não importa qual seja a sua complexidade, é, portanto, o da elaboração de perguntas claras, objetivas e diretas sobre o assunto que se quer aprender. Claro que ao afirmar isso, não descobri a pólvora. Há muito, sábios – como Sócrates, por exemplo – já utilizavam esse procedimento. O filósofo grego o fazia na Grécia Antiga, conforme nos relata seu mais ilustre discípulo, Platão. Outros tantos pensadores agiram, em tantas outras partes, tempo afora, e ainda agem dessa maneira, nas melhores universidades, centros culturais e científicos. Afinal, parodiando Fernando Pessoa, “perguntar é preciso”.
Nos meus tempos de adolescente, os professores utilizavam bastante esse recurso como arma pedagógica na escola que estudei. Benditos mestres! Após o estudo das matérias, tínhamos, invariavelmente, que responder a um bem-elaborado questionário a respeito do que havia sido estudado nas aulas. Confesso que devo a maior parte do meu aprendizado a esse método que, até por razões profissionais, adotei como norma no correr da minha vida.
Sou jornalista e, portanto, estou consciente que, numa entrevista, quanto mais inteligentes e profundas forem as questões que levantar, mais informações irei extrair do meu entrevistado e valorizar, dessa forma, a matéria que estiver escrevendo. O escritor Robert Louis Stevenson compara esse procedimento a uma avalanche. Escreveu, em um de seus tantos romances: “Fazemos uma pergunta, e é como se empurrássemos uma pedra do alto do morro; lá vai a pedra empurrando outra”. Mas, devemos seguir à risca o alerta de Peter Drucker. Ou seja, atentar “qual pedra” do alto da montanha devemos empurrar e, sobretudo, como fazê-lo. Caso façamos a pergunta errada, certamente não chegaremos jamais à conclusão correta.
A própria vida é eminente questionadora. Apresenta infinitas perguntas e, praticamente, nenhuma resposta conclusiva. As três grandes questões que desafiam o homem, desde que este adquiriu a faculdade de pensar, ou seja, o que somos, onde estamos e para onde vamos, estão envoltas em absoluto mistério. O que sabemos, a propósito, não passa de mera especulação, com fragmentos de informações. Não estaríamos formulando essas questões de maneira errada? Até pode ser que sim. É caso para se pensar.
Estas perguntas da vida, todavia, estimulam nosso cérebro e aumentam nosso nível de percepção e inteligência, mesmo não sendo respondidas de forma peremptória e definitiva. Sempre que a ciência obtém alguma resposta, esta vem acompanhada de centenas (não raro “infinitas”) novas perguntas. Por exemplo, o homem já mapeou todos os genes que compõem o organismo humano, definindo a totalidade de suas funções. Explicou, portanto, o “funcionamento”. Mas não conseguiu explicar a razão principal, ou seja, “o que dá vida às células” e as faz dinâmicas. A ciência humana, portanto, é ridícula e irrisória para dar respostas diante da infinidade de mistérios e indagações que a desafiam (e que, por extensão, também nos desafiam).
Blaisé Pascal classificou o homem de “junco pensante”. Por isso é bastante pertinente (e instigante e inteligente) a indagação do poeta Mauro Sampaio (os poetas, ah os poetas, com sua luminosa lucidez!) no poema “Conjectura”: “Se eu fosse apenas sentimentos,/quantos pedaços de mim/sobreviveriam à dor?”. Provavelmente, nenhum!
Boa leitura.
O Editor.
O saber perguntar é fundamental a quem busque determinado conhecimento (e todos nós, sempre, buscamos algum) e esteja em face de quem tem a capacidade de fazer esse esclarecimento. Nem todos (diria a maioria) não sabe fazer perguntas. Não, pelo menos, as pertinentes, de forma adequada, claras e sem nenhuma ambiguidade. Os repórteres sabem da importância de questionamentos hábeis quando saem à cata de notícias. Os que perguntam bem, ou seja, inteligente e claramente, se destacam e brilham em suas reportagens. Estes, infelizmente, estão longe de se constituir em maioria. Os que não sabem perguntar... deixam os editores malucos na hora de editarem suas matérias.
O filósofo e economista austríaco, naturalizado norte-americano, Peter Drucker, considerado o “pai da administração moderna” (que faleceu em 2005), observou a propósito: “Os piores equívocos não são cometidos em decorrência de respostas erradas. O verdadeiro perigo é fazer a pergunta errada”. Exagero? Não! O questionamento imperito, obscuro, ambíguo e desastrado, suscita respostas que não condizem com o que se pretendia saber. É fonte de equívocos. E, dependendo da atividade, esses erros tendem a ser sumamente perniciosos e às vezes irreparáveis.
Os escritores, assim como os jornalistas, também precisam ser peritos na arte de perguntar. Notadamente os que se especializam na redação de crônicas e de ensaios. Raciocinemos. Os questionamentos, dúvidas e a insaciável curiosidade são fatores determinantes da evolução humana, em todos os campos do conhecimento, tanto nas artes, quanto nas ciências e na vida, certo? Por mais que alguém conheça, jamais irá desvendar todos os mistérios daquilo que o cerca, quanto mais do universo, cujos limites se situam no infinito. Nunca irá abarcar sequer um bilionésimo da totalidade do conhecimento.
Isso, porém, não deve nos desanimar. Deve, isto sim, servir de estímulo para que nos informemos, aprendamos e busquemos, mais e mais, chegar à raiz do conhecimento. Só com essa gana, com essa obsessão, com essa fome de saber poderemos evoluir como indivíduos e, coletivamente, como a única espécie inteligente da natureza. Foi essa curiosidade que tirou o homem das cavernas e propiciou seu progresso e, em última análise, a civilização. Tudo começou, no entanto, com perguntas que, respondidas, suscitaram outras, e outras e outras tantas que ainda hoje estão carentes de respostas peremptórias e incontestáveis. Honoré de Balzac constata: “A chave de todas as ciências é, inegavelmente, o ponto de interrogação”. Ou seja, é a exigência de respostas sobre tudo o que somos, temos, desejamos ou que nos rodeie etc.etc.etc.
Um dos métodos mais eficazes, práticos e sábios para aprendermos qualquer coisa, não importa qual seja a sua complexidade, é, portanto, o da elaboração de perguntas claras, objetivas e diretas sobre o assunto que se quer aprender. Claro que ao afirmar isso, não descobri a pólvora. Há muito, sábios – como Sócrates, por exemplo – já utilizavam esse procedimento. O filósofo grego o fazia na Grécia Antiga, conforme nos relata seu mais ilustre discípulo, Platão. Outros tantos pensadores agiram, em tantas outras partes, tempo afora, e ainda agem dessa maneira, nas melhores universidades, centros culturais e científicos. Afinal, parodiando Fernando Pessoa, “perguntar é preciso”.
Nos meus tempos de adolescente, os professores utilizavam bastante esse recurso como arma pedagógica na escola que estudei. Benditos mestres! Após o estudo das matérias, tínhamos, invariavelmente, que responder a um bem-elaborado questionário a respeito do que havia sido estudado nas aulas. Confesso que devo a maior parte do meu aprendizado a esse método que, até por razões profissionais, adotei como norma no correr da minha vida.
Sou jornalista e, portanto, estou consciente que, numa entrevista, quanto mais inteligentes e profundas forem as questões que levantar, mais informações irei extrair do meu entrevistado e valorizar, dessa forma, a matéria que estiver escrevendo. O escritor Robert Louis Stevenson compara esse procedimento a uma avalanche. Escreveu, em um de seus tantos romances: “Fazemos uma pergunta, e é como se empurrássemos uma pedra do alto do morro; lá vai a pedra empurrando outra”. Mas, devemos seguir à risca o alerta de Peter Drucker. Ou seja, atentar “qual pedra” do alto da montanha devemos empurrar e, sobretudo, como fazê-lo. Caso façamos a pergunta errada, certamente não chegaremos jamais à conclusão correta.
A própria vida é eminente questionadora. Apresenta infinitas perguntas e, praticamente, nenhuma resposta conclusiva. As três grandes questões que desafiam o homem, desde que este adquiriu a faculdade de pensar, ou seja, o que somos, onde estamos e para onde vamos, estão envoltas em absoluto mistério. O que sabemos, a propósito, não passa de mera especulação, com fragmentos de informações. Não estaríamos formulando essas questões de maneira errada? Até pode ser que sim. É caso para se pensar.
Estas perguntas da vida, todavia, estimulam nosso cérebro e aumentam nosso nível de percepção e inteligência, mesmo não sendo respondidas de forma peremptória e definitiva. Sempre que a ciência obtém alguma resposta, esta vem acompanhada de centenas (não raro “infinitas”) novas perguntas. Por exemplo, o homem já mapeou todos os genes que compõem o organismo humano, definindo a totalidade de suas funções. Explicou, portanto, o “funcionamento”. Mas não conseguiu explicar a razão principal, ou seja, “o que dá vida às células” e as faz dinâmicas. A ciência humana, portanto, é ridícula e irrisória para dar respostas diante da infinidade de mistérios e indagações que a desafiam (e que, por extensão, também nos desafiam).
Blaisé Pascal classificou o homem de “junco pensante”. Por isso é bastante pertinente (e instigante e inteligente) a indagação do poeta Mauro Sampaio (os poetas, ah os poetas, com sua luminosa lucidez!) no poema “Conjectura”: “Se eu fosse apenas sentimentos,/quantos pedaços de mim/sobreviveriam à dor?”. Provavelmente, nenhum!
Boa leitura.
O Editor.
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Como eu deduzi no meu Trabalho de Conclusão de Curso "Entrevista: paralelo entre a prática jornalística e a prática médica", também a Medicina não faz nada se não fizer as perguntas certas. Todo o raciocínio clínico é construído em cima disso.
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