Revista Bravo!
* Por Luiz Carlos Monteiro
No número mais recente (166, junho/2011), a revista Bravo! publicou um artigo assinado por Paulo Nogueira, sobre polêmicas entre escritores, intitulado "Palavras publicadas, palavrões impublicáveis". Romancistas, poetas e críticos literários participam com frequência constante de embates venenosos e virulentos, às vezes com desfechos danosos, violentos. Do artigo citado (pp.82-85), retiramos o trecho da polêmica Vargas Llosa vs. García Márquez, dando os devidos créditos à Bravo!:
VARGAS LLOSA X GARCÍA MÁRQUEZ
"Um segredo que durou mais de 30 anos foi a razão pela qual Mario Vargas Llosa esmurrou Gabriel García Márquez no dia 14 de fevereiro de 1976. Também nessa rixa a antipatia começou como empatia - tanto que o colombiano convidou o peruano para ser padrinho do seu filho Gabriel. Ambos partlharam o expatriamento em Barcelona, onde foram bons vizinhos. Até que, no dia fatídico, Llosa infligiu ao ex-cupincha um olho negro digno de um panda (há uma foto de García Márquez estropiado, feita por Rodrigo Moya).
É certo que havia potenciais melindres. Ao longo da vida, Gabo observou uma marmórea otodoxia esquerdista, apoiando impavidamente o ditador Fidel Castro, com quem desenvolveu um afetuoso relacionamento. Justificava-se alegando que a estima transcendia ideologias: "Poucas pessoas sabem que Castro é um leitor voraz, que ama e conhece a melhor literatura universal". Reinaldo Arenas e Cabrera Infante, autores cubanos expulsos da ilha por divergência de pensamento ou comportamento, que o digam. Márquez nunca condenou a aplicação da pena de morte na ilha - sentença a que sempre se opôs em outras paragens. Recorda uma cutucada de Albert Camus em Jean-Paul Sartre (uma desavença que fica para a próxima): "Certos intelectuais progressistas são fundamentalmente benevolentes e humanos, e amam as pessoas miseráveis muito mais do que as amariam na prosperidade". Contudo, não foram as discrepâncias políticas que ditaram a pancadaria na Cidade do México. Nem o despeito literário: mais cedo ou mais tarde, ambos embolsariam o Nobel. Para decifrar o mistério, convém seguir o clichê policial: "Cherchez la femme" (procure a mulher).
O arranca-rabo ocorreu em um cinema mexicano, durante a estreia de um filme então badalado e hoje misericordiosamente esquecido. Quando acabou, Gabo avistou o amigo e se encaminhou para ele de braços escancarados. Foi recebido com uma patada no olho esquerdo. Com o sangue a jorrar-lhe, Márquez ainda conseguiu ouvir o agressou espumar: "Como se atreve, depois do que você fez a Patrícia em Barcelona?" A turma do deixa-disso entrou em cena, enquanto alguém trazia um bife cru para o olho intumescido.
Quando Gabo fez 80 anos, uma biografia esclareceu o mistério. Com a sua pinta de cantor de tango, Llosa jamais escamoteou um fraquinho pelas damas. Numa viiagem aérea, apaixonou-se por uma aeromoça sueca, abandonou a mulher e tocou para Estocolmo. Furiosa, Patrícia correu para a casa de Gabo, que a consolou. Ninguém sabe a forma que o consolo assumiu. Contudo, Márquez sugeriu o divórcio. Outras fontes atribuem a Gabo a pior traição que se pode cometer contra um amigo. Eventualmente, Llosa voltou para o lar com o rabo entre as pernas, e Patrícia lhe contou o conselho de García Márquez (e talvez do efusivo consolo). Daí o murro."
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
* Por Luiz Carlos Monteiro
No número mais recente (166, junho/2011), a revista Bravo! publicou um artigo assinado por Paulo Nogueira, sobre polêmicas entre escritores, intitulado "Palavras publicadas, palavrões impublicáveis". Romancistas, poetas e críticos literários participam com frequência constante de embates venenosos e virulentos, às vezes com desfechos danosos, violentos. Do artigo citado (pp.82-85), retiramos o trecho da polêmica Vargas Llosa vs. García Márquez, dando os devidos créditos à Bravo!:
VARGAS LLOSA X GARCÍA MÁRQUEZ
"Um segredo que durou mais de 30 anos foi a razão pela qual Mario Vargas Llosa esmurrou Gabriel García Márquez no dia 14 de fevereiro de 1976. Também nessa rixa a antipatia começou como empatia - tanto que o colombiano convidou o peruano para ser padrinho do seu filho Gabriel. Ambos partlharam o expatriamento em Barcelona, onde foram bons vizinhos. Até que, no dia fatídico, Llosa infligiu ao ex-cupincha um olho negro digno de um panda (há uma foto de García Márquez estropiado, feita por Rodrigo Moya).
É certo que havia potenciais melindres. Ao longo da vida, Gabo observou uma marmórea otodoxia esquerdista, apoiando impavidamente o ditador Fidel Castro, com quem desenvolveu um afetuoso relacionamento. Justificava-se alegando que a estima transcendia ideologias: "Poucas pessoas sabem que Castro é um leitor voraz, que ama e conhece a melhor literatura universal". Reinaldo Arenas e Cabrera Infante, autores cubanos expulsos da ilha por divergência de pensamento ou comportamento, que o digam. Márquez nunca condenou a aplicação da pena de morte na ilha - sentença a que sempre se opôs em outras paragens. Recorda uma cutucada de Albert Camus em Jean-Paul Sartre (uma desavença que fica para a próxima): "Certos intelectuais progressistas são fundamentalmente benevolentes e humanos, e amam as pessoas miseráveis muito mais do que as amariam na prosperidade". Contudo, não foram as discrepâncias políticas que ditaram a pancadaria na Cidade do México. Nem o despeito literário: mais cedo ou mais tarde, ambos embolsariam o Nobel. Para decifrar o mistério, convém seguir o clichê policial: "Cherchez la femme" (procure a mulher).
O arranca-rabo ocorreu em um cinema mexicano, durante a estreia de um filme então badalado e hoje misericordiosamente esquecido. Quando acabou, Gabo avistou o amigo e se encaminhou para ele de braços escancarados. Foi recebido com uma patada no olho esquerdo. Com o sangue a jorrar-lhe, Márquez ainda conseguiu ouvir o agressou espumar: "Como se atreve, depois do que você fez a Patrícia em Barcelona?" A turma do deixa-disso entrou em cena, enquanto alguém trazia um bife cru para o olho intumescido.
Quando Gabo fez 80 anos, uma biografia esclareceu o mistério. Com a sua pinta de cantor de tango, Llosa jamais escamoteou um fraquinho pelas damas. Numa viiagem aérea, apaixonou-se por uma aeromoça sueca, abandonou a mulher e tocou para Estocolmo. Furiosa, Patrícia correu para a casa de Gabo, que a consolou. Ninguém sabe a forma que o consolo assumiu. Contudo, Márquez sugeriu o divórcio. Outras fontes atribuem a Gabo a pior traição que se pode cometer contra um amigo. Eventualmente, Llosa voltou para o lar com o rabo entre as pernas, e Patrícia lhe contou o conselho de García Márquez (e talvez do efusivo consolo). Daí o murro."
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
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