sábado, 2 de julho de 2011







A Namíbia e Santa Catarina


* Por Urda Alice Klueger

Vou aproveitar e fazer umas perguntinhas básicas: o que a Namíbia tem a ver com Santa Catarina? Onde se situa a Namíbia? Para que serve um diploma? Qual é a capital da África? O que um diploma faz por uma pessoa?
Vamos começar por esta última: às vezes um diploma até cria um valorzão e se torna algo muito importante, mas às vezes apenas cria bacharéis ou mesmo doutores que se sentam sobre a própria ignorância pelo resto da vida achando que sabem tudo sobre o mundo, e dando palpite furado em todo o lugar onde não são chamados. Que o diga uma das minhas professoras de pós-graduação, que dizia textualmente “Qualquer anta pode ser doutor”. Taí uma opinião abalizada. Se alguém quiser maiores detalhes sobre ela, escreva para o meu correio eletrônico.
Então eu pergunto: qual é a capital da África? Tá cheinho de gente, aí, com diploma, respondendo coisas como Cairo, Joanesburgo, sei lá mais o que. Vocês estão vendo que diploma não serve para muita coisa, não estão? A África é um CONTINENTE com mais de 50 países – não é um país para ter capital.
E a Namíbia, como é que fui meter a Namíbia no meio? Você sabe onde fica? E o que tem ela a ver com Santa Catarina? Pois a Namíbia é um país africano, e um dia, lá na aurora dos tempos, quando os continentes ainda estavam todos grudados, a Namíbia e Santa Catarina eram um mesmo e único território. Duvidam? Perguntem ao meu amigo Geólogo e Paleontólogo da FURB, professor Juarez Aumond. Ele vai lhe explicar direitinho quais as serras daqui que estão com a metade na Namíbia, e outras coisas assim.
E como é que eu fiz toda esta conversa? É que tá cheinho de gente de diploma, aí, sem saber onde é a Namíbia, mas tem um que não tem diploma, mas que ocupou o cargo de Presidente do Brasil, e que andou por lá, e que ficou encantado com Windkhoek, a capital da Namíbia. Nos 50 e tantos países africanos têm muita coisa bonita para se ver (já andei por lá e vi uma porção – as pessoas ficam boquiabertas quando digo que em Joanesburgo/África do Sul, têm shopping-centers com 30 cinemas! Ache um assim aqui em Santa Catarina, ache!)
Pois bem, nosso Presidente foi lá e falou bem da Namíbia, e eu vi a cena tim-tim por tim-tim na televisão, e estou escrevendo esta porque têm um monte de gente aí que caiu de pau em cima do Presidente, decerto para se vingar da sua falta de diploma e do seu português imperfeito: ele cometeu alguns erros de português, sim, no seu entusiasmo ao falar sobre Windhoek – mas de bobo ele não tem nada, pois entendeu muito bem que o tradutor não estava traduzindo direito o que dizia e fê-lo voltar atrás e traduzir de novo: que o mundo achava que na América Latina só tinha índio e pobre, e que o mundo também achava que na África só tinha pobre. Foi isto o que o Presidente disse e eu ouvi com estes ouvidos que a terra há de comer, e disse mais, disse que estava encantado com Windhoek, que o mundo precisava saber que a África não tinha só pobre.
Estou encantada com o Presidente por ter dito o que disse – concordo inteiramente com ele. Porque pensamos que a África só tem pobre, doença e guerra, igualzinho pensam sobre o Brasil lá fora: no Brasil só tem tiroteio em favela, massacre de menores, e por aí vai.
E esse monte de gente de diploma, aí, que sequer sabia que a Namíbia e Santa Catarina já foram uma e a mesma coisa, e que se morde de impotência por ter tido um torneiro mecânico na presidência, e que ouviu o galo cantar mas não sabe aonde e está malhando o pau em Lula por ter elogiado a Namíbia e a África como um todo, que trate de deixar a ignorância de lado e passe a pensar construtivamente. No dia seguinte Lula disse a coisa mais certa de todas: “Que parem de teorizar a respeito e venham a conhecer a África” Ele está certo. O mundo é um pouco maior que o seu bairro, e a Disney, e a velha e cansada Europa. Há muito que se aprender a respeito dele. Inclusive sobre a Namíbia, sobre a qual você nunca nem tinha ouvido falar.

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR

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