Livre associação
* Por Evelyne Furtado
Sonhei com uma pedra. Não era a de Drummond. Mas poderia ser. Estava no meu caminho. No meu sonho. A pedra era o sonho. Uma pedra atirada ao rio. Sem volta... Mas sentia que era preciso voltar. Dizem que nunca voltamos ao mesmo rio. Pedra, caminho,rio, mar. O mar se renova continuamente, mas está sempre lá.
Ontem não o vi. Chovia. Estava escuro. Não gosto de dias assim. O senhor gosta? Não precisa responder. Quem tem que falar sou eu. Afinal estou pagando para isso e gosto de falar. Gosto do mar, também. Em outra ocasião diria: - Adoro o mar! Hoje, não. Gostar é o bastante.
Falo muito, não é? Fixação? E se for? Deixa para lá. Escrever também é bom. Eu escrevo e corto palavras. Cortar palavras dói. Algumas nascem mortas. Perco, por vezes, uma população enorme de palavras não nascidas e as sinto profundamente. Mas amo as palavras, mesmo essas abortadas.
Falei em amor? Só o amor cura. Jesus falou sobre o amor e amou. Freud não era religioso, mas disse que só o amor e a palavra salvam. Por isso gosto dele. Jung, conheço pouco. O senhor acha que ele foi incompreendido? Eu acho que sim. Ousou ir além da ciência. Flertou com o inexplicável e os doutores não perdoaram.
Sincronicidade, inconsciente coletivo, arquétipos, essas coisas. Estou ensinando padre nosso a vigário. Desculpe. Sou iniciante na área e impetuosa. Como dizia eu acreditava em sinais, então desacreditei. A vida ficou sem graça. Voltei a acreditar.
A ciência é admirável, mas reduz a vida ao que se explica e o mistério me fascina. Estou resistindo? Diria enfaticamente que não. A resistência dói, eu aprendi. Só estava tentando dar um significado ao sonho de ontem. O tempo acabou? Não tenho mais nem um minutinho ? Ok. O senhor manda. Estava tão bom aqui. Não precisa olhar para o relógio. Fico ofendida. Até a próxima.
• Poetisa e cronista de Natal/RN
* Por Evelyne Furtado
Sonhei com uma pedra. Não era a de Drummond. Mas poderia ser. Estava no meu caminho. No meu sonho. A pedra era o sonho. Uma pedra atirada ao rio. Sem volta... Mas sentia que era preciso voltar. Dizem que nunca voltamos ao mesmo rio. Pedra, caminho,rio, mar. O mar se renova continuamente, mas está sempre lá.
Ontem não o vi. Chovia. Estava escuro. Não gosto de dias assim. O senhor gosta? Não precisa responder. Quem tem que falar sou eu. Afinal estou pagando para isso e gosto de falar. Gosto do mar, também. Em outra ocasião diria: - Adoro o mar! Hoje, não. Gostar é o bastante.
Falo muito, não é? Fixação? E se for? Deixa para lá. Escrever também é bom. Eu escrevo e corto palavras. Cortar palavras dói. Algumas nascem mortas. Perco, por vezes, uma população enorme de palavras não nascidas e as sinto profundamente. Mas amo as palavras, mesmo essas abortadas.
Falei em amor? Só o amor cura. Jesus falou sobre o amor e amou. Freud não era religioso, mas disse que só o amor e a palavra salvam. Por isso gosto dele. Jung, conheço pouco. O senhor acha que ele foi incompreendido? Eu acho que sim. Ousou ir além da ciência. Flertou com o inexplicável e os doutores não perdoaram.
Sincronicidade, inconsciente coletivo, arquétipos, essas coisas. Estou ensinando padre nosso a vigário. Desculpe. Sou iniciante na área e impetuosa. Como dizia eu acreditava em sinais, então desacreditei. A vida ficou sem graça. Voltei a acreditar.
A ciência é admirável, mas reduz a vida ao que se explica e o mistério me fascina. Estou resistindo? Diria enfaticamente que não. A resistência dói, eu aprendi. Só estava tentando dar um significado ao sonho de ontem. O tempo acabou? Não tenho mais nem um minutinho ? Ok. O senhor manda. Estava tão bom aqui. Não precisa olhar para o relógio. Fico ofendida. Até a próxima.
• Poetisa e cronista de Natal/RN
Bacana demais, Evelyne. Uma associação livre e bem poética de ideias. Uma vez fiz um texto nessa linha, onde a frase anterior puxava livremente o raciocínio da seguinte - e é interessante ver aonde a gente consegue parar. Você foi longe. Um beijo!
ResponderExcluirO ruim é que, durante a sessão, ao ser perguntado, o analista pode se ver impelido a falar um pouco também, e tomar parte do seu tempo que é tão curto e precioso. Gostei de "a pedra era o sonho" e de não precisar dizer "adoro". Um "gosto" já é suficiente. Abortar palavras pode não ser um ofício agradável, mas torna o texto melhor. Ficaria ainda mais interessante o relato caso o senhor fosse o próprio Freud. Fale dele como se fosse ele. Que tal?
ResponderExcluirÉ legal mesmo escrever assim, Marcelo. Parei para não extrapolar o tempo da sessão e infelizmente tive que cortar palavras.
ResponderExcluirGenial a idéia, Mara! Já imaginou o que ele diria desses tempos? Talvez tivesse que reconstruir a psicanálise.
Beijos e obrigada, queridos.