Uma
quase carta para um quase reitor (3ª versão)
* Por
José Ribamar Bessa Freire
Saudações,
Ainda inspirado em
Waldick Soriano, escrevo outra carta (já são três versões, mas não repare os
senões), para felicitá-lo e a seus eleitores pela eleição para reitor da UFAM.
Conhecido o resultado, começo desde já as cobranças ou quase-cobranças das
promessas de campanha, não por birra, mas pela saúde da universidade. Essa é
versão modificada da que vai publicada na edição impressa do Diário do Amazonas
(02/04) escrita antes da contagem dos votos. Agora, mais do que nunca, parece
apropriado continuar com o tratamento de quase-reitor. Depois da posse, a gente
elimina o “quase”.
O poder, qualquer
poder, por menor que seja, atrai uma cambada de puxa-sacos como o mel chama as
moscas. Pensei em somar-me a eles, mas não levo jeito, nem domino as
habilidades necessárias. Careço de know-how, de savoir-faire e até de coragem
para isso. Entenda, portanto, as felicitações como um gesto de cortesia, de
quem sabe perder ou pelo menos finge que sabe. Se me permite, gostaria então de
continuar empentelhando vossa quase-magnificência, mantendo o rumo contrário.
Parece que estou fugindo, me indispondo com a metade da universidade. Será?
Uma onda conservadora
toma conta do Brasil, do mundo, das instituições. Pensando bem,
quase-magnífico, sua vitória vai no rumo certo. Quem estava na direção
contrária era o programa da outra chapa. Confesso que minha crítica começou
quando vi um de vossos soldados entupir o facebook com 17 fotos grandes e
escandalosas de cadáveres e de manchetes espalhafatosas sobre mortes, assaltos,
violência no campus, atribuindo tudo isso à incompetência do atual reitor, seu
oponente. Dizia que eram 17 motivos para não votar na Chapa 17.
Esse pânico criado por
baixo dos panos, presente no discurso do Bolsonaro, alimentou desde a campanha
vitoriosa de Crivella, no Rio, até a de Trump, nos Estados Unidos, passando por
Temer, cujo ex-ministro da Justiça, o Kinder-Ovo, agora guindado ao Supremo
Tribunal Federal, prometia aumentar a repressão para acabar com as rebeliões
nas prisões. Cria-se o pânico, para em seguida anunciar que só a porrada
resolve. Tais práticas eleitoreiras me chocaram.
Pois bem, a hora da
quase-verdade ou da quase-mentira se aproxima. Agora, além de resolver os
problemas de luz e asfalto em Benjamin Constant – há quem jure sobre a Bíblia
que ela não foi feita, mas isso é secundário – vossa quase-magnificência
prepare-se para contratar quase-vigilantes e buscar para isso os quase-recursos,
conforme consta do seu programa.
Minha querida amiga, a
historiadora Maria José Feres Ribeiro, quando deixou a presidência da ANDES, de
cuja diretoria fiz parte, se candidatou à reitora da Universidade Federal de
Juiz de Fora. Num debate com os demais candidatos, um funcionário no auditório
perguntou sobre o que achavam da proposta de reduzir a jornada de trabalho para
30 horas. Todos os candidatos, em busca de votos, concordaram, exceto Zezé que
corajosamente se manifestou contrária à reivindicação corporativista, por
considerar que prejudicava a instituição e o atendimento aos alunos. Ela,
evidentemente, perdeu a eleição.
Para ganhar votos,
vossa quase-magnificência prometeu reduzir a jornada em 30 horas para todos,
insalubridade para aposentados, aumento salarial para os servidores do HUGV,
etc, etc. Coloco-me à disposição dos seus eleitores para ao longo dos quatro
anos fazermos juntos a cobrança do cumprimento dessas promessas mirabolantes no
contexto em que vivemos.
E pelo amor de Deus,
não tenho qualquer motivo pessoal para criticá-lo, trata-se de uma discussão
política sobre práticas eleitoreiras e sobre o destino da nossa querida
universidade. Não dramatizemos, sua eleição não é o fim do mundo, afinal vossa
quase-magnificência não tem o poder de apertar o botão da guerra nuclear como o
Trump. Mas que pode fazer estragos, pode. Suspeito que fará. Juro – quero ver a
mãe do Trump mortinha no inferno se eu estiver mentindo – que torço para que a
nova administração consiga manter a UFAM nos trilhos.
Amos. Atos. Obros,
como me ensinou a Carmela Faraco, na Escola de Datilografia Underwood, na Rua
Luis Antony
Do seu quase-eleitor,
Taquiprati.
P.S. – Ao Hedinaldo
Narciso Lima e Nikeila Chacon de Oliveira Conde, a quem não tive o prazer de
conhecer pessoalmente, minha sincera admiração por terem continuado caminhando
na direção contrária. Não nos conhecemos, mas na próxima vez além das razões de
ordem programática e da comunhão de um ideal de universidade, terei uma razão a
mais - a afetiva - para caminharmos juntos.
*
Jornalista e historiador.
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