O
agro-boy
* Por Ruth Barros
Já que o ano está acabando – ou alguém
aí ainda não se convenceu de que falta pouco, muito pouco para 2007 – estou
aproveitando esses dias para rever velhas amigas. A primeira que encontrei foi
a Valéria. Ela está desanimada com a perspectiva masculina da atual conjuntura
– acha que falta homem em quantidade e qualidade na praça. E está pensando em
arranjar um fazendeiro. Argumentei que fazendeiros são mesmo muito legais,
inclusive funcionando como sustentáculo do atual e caído PIB brasileiro, mas
não são rima nem solução para o problema.
Além do que a Valéria é das criaturas
mais animadas e chegadas a um copo que eu conheço, capaz de entornar a noite
inteira, dificilmente ornaria no papel de companheira de um agro-boy,
normalmente reservado a moças mais recatadas. Ou a Paris Hilton, patricinha sem
nada o que fazer na vida a não ser aparecer em uma espécie de Big Brother rural
(na Internet ela já foi vista em cenas tórridas com um namorado), o que no caso
não pega nada, pois a moça tem sobrenome e herança da cadeia de hotéis.
- Que nada, tenho ido até a leilões de
gado pra ver se arranjo algum criador –
rebateu a Valéria, cheia de certeza.
- Do jeito que você bebe fica mais
fácil você sair de um leilão desses abraçada a uma vaca do que ao fazendeiro
dos seus sonhos – respondi apavorada.
Valéria pareceu vacilar:
- Pode ser que você tenha razão. Tenho
uma amiga que foi a um leilão de gado e quase levou um bezerro desses de US$ 20
mil, levantou a mão para chamar um garçom na hora do lance, por sorte houve
outros lances depois, senão já imaginou que vexame?
Nem assim a Valéria resolveu aposentar
de vez o rock rural e continuou tentando laçar seu fazendeiro em leilão.
Intrigada com a história resolvi procurar um deles para saber se leilão de gado
dá outros caldos além de mocotó e leite de vaca. Descobri que tanto eu como a
Valéria temos razão.
-Quando um sujeito vai a um leilão ele
vai realmente comprar, o que interessa são os animais, mas qualquer coisa pode acontecer
em qualquer lugar – esclareceu o agro-boy metido a galã, já soltando a franga
para a Valéria.
-Eu, por exemplo, estou aqui sendo
entrevistado por você e não consigo tirar os olhos de sua amiga.
Não precisa dizer que os dois se
engataram rapidinho e sumiram, me deixando imersa em pensamentos sobre a morte
da bezerra. E ainda não sei qual foi o
resultado da plantação da Valéria com o fazendeiro.
* Maria Ruth de Moraes e Barros,
formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como
correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De
volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV
Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e
autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista
Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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