terça-feira, 23 de junho de 2015

Agentes ou testemunhas?


O tempo é o maior capital de que dispomos, embora poucos se dêem conta dessa verdade e a maioria o desperdice de maneira tola e insensata, como se tivesse diante de si a eternidade. Claro que não tem. Ninguém tem. Desconhecemos a quantidade que teremos dele (se é que teremos alguma) e, ainda assim, gastamos perdulariamente, indevidamente, estupidamente esse precioso e irrecuperável recurso. Sei que já escrevi isso “n” vezes e escreverei outras tantas, se as julgar necessárias, porquanto é uma realidade, insisto, em que poucos pensam. E menos ainda os que se preocupam com seu pleno aproveitamento. Não quer dizer, porém, que eu me ache mais sábio, ou mais atento do que qualquer outra pessoa. Não me acho. Apenas, até em decorrência das atividades que exerço – como jornalista e, sobretudo, como escritor – penso, talvez, com mais constância sobre o tempo e seu aproveitamento (ou seu desperdício).
  
Nunca é demais atentar para o fato que tanto podemos ter à nossa frente um dia, algumas horas, alguns escassos minutos ou reles segundos, quanto uma centena de anos, ou mais, antes que deixemos o palco da vida e mergulhemos no desconhecido e no mistério. Salvo exceções, somos importantes para alguém – nossos pais, nossos filhos, nossos netos, nossa esposa (ou marido, quando o caso) e vai por aí adiante. Da mesma forma que esperamos benefícios dos outros, outros tantos esperam a mesma coisa de nós. Podemos ter muito tempo para beneficiá-los, como podemos, também, ter pouquíssimo, ou mesmo mais nenhum. Daí ser suprema burrice desperdiçá-lo.  
  
No caso de escritores, ou de qualquer outro tipo de comunicadores (jornalistas, radialistas, professores etc,), ou seja, de formadores de opinião, somos, sobretudo, testemunhas de uma era. Desta em que nos foi dada a chance de viver, sobre a qual (pelo menos teoricamente), reunimos condições de influir e com a qual tudo o que nos diga respeito possa ser  associado. Nossa responsabilidade é imensa, pois no exercício dessas atividades exercemos influência não raro decisiva na vida de outras pessoas, tanto para o bem, quanto para o mal. Compete-nos nos prepararmos para jamais influenciarmos negativamente quem quer que seja. E essa preparação demanda tempo, que não pode e nem deve ser desperdiçado, por ser irrecuperável. 
  
Temos a opção de sermos apenas testemunhas do nosso tempo ou agentes que influam nos acontecimentos. Prefiro agir em vez de apenas me limitar a testemunhar acontecimentos. Mesmo que não sejamos comunicadores, influenciamos, de alguma forma, os que nos rodeiam, para o bem ou para o mal. Cada gesto de amor ou de ódio, cada atitude de solidariedade ou de egoísmo, cada ato de construção ou de destruição, contam muito. Compõem nossa biografia e justificam (ou não) nossa trajetória na vida. Ninguém veio ao mundo por acaso, embora assim nos pareça. Mas nossa finalidade não nos é revelada por ninguém. Compete-nos descobri-la e realizá-la.
  
Podemos ser lembrados num futuro distante como santos ou como demônios; como sábios ou como tolos ou então ser esquecidos para sempre, como se jamais tivéssemos existido. Isto vai depender, em grande medida, de nós e das circunstâncias que tivermos (que alguns chamam de destino e outros de acaso). Um reles texto descomprometido que façamos e divulguemos, por exemplo, pode ser decisivo na forma com que passaremos para a história (senão da humanidade, pelo menos da comunidade a que servimos ou somente da nossa família).
  
Alguns conseguem realizar em vida aquilo a que se propuseram, porque se empenharam, buscaram as oportunidades e as aproveitaram. Outros, limitam-se a sonhar (às vezes nem isso) e sequer tentam fazer o mínimo esforço para que seus sonhos se façam concretos e se transformem em atos. Optam por serem testemunhas, mas não agentes. Omitem-se. Suas elucubrações (quando as têm) jamais se tornam concretas.Tudo o que fazem é procurar a mera satisfação dos sentidos, e mesmo assim de forma desregrada e imprudente. Há outro grupo ainda, que é o dos que obtêm a cumplicidade alheia para suas idéias e projetos. E realizam seus propósitos através de terceiros. São os “semeadores”. São os gênios da espécie. São os líderes naturais, cuja liderança se impõe não mediante a força ou decreto ou herança, mas de forma automática e espontânea.
  
O escritor Paul Valéry observa que "o valor das obras de um homem não está nas obras, mas em seu desenvolvimento pelas mãos dos outros, em outras circunstâncias". São estes que garantem a eternidade da memória. São estes que administram com eficácia e sabedoria seu grande capital, o tempo. São estes que têm participação ativa na vida mesmo após a morte. Posso estar completamente equivocado (afinal, não sou onisciente e sei tão pouco, diante da imensidão que há para saber), mas me oponho ferozmente á idéia de viver apenas por viver, sem rumos ou objetivos. E, pior, á atitude (na verdade, falta dela) de limitarmo-nos a “sobreviver”.
  
Se as circunstâncias de nossa vida forem favoráveis, devemos aproveitar cada oportunidade que nos apareça, por ínfima que seja, sem desperdiçar nenhuma e, se possível, multiplicá-las. Caso contrário... Não podemos nos dar por vencidos. Devemos nos empenhar no limite de nossas forças para mudar circunstâncias ruins, mesmo que fracassemos. A vida não é um passeio, mas, como afirmou Gonçalves Dias, nos versos de um dos seus mais memoráveis poemas, “é luta renhida”, concluindo que “viver é lutar”! Lutemos, pois, enquanto tivermos tempo para isso, não importa a idade que tivermos e nem em que condições físicas possamos estar para encarar tais desafios.

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Há quem passe a vida vendo TV, ou lendo. Para um o outro perde tempo, e vice versa. Como todo o restante, perder tempo é relativo.

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