Enquete pode ter inclusões, mas não
exclusões
A enquete feita pelo site “Homo Literatus” sobre “catorze
personagens femininas inesquecíveis”, que reproduzi (e comentei) nas últimas semanas,
é elogiável, sob todos os aspectos. Houve, porém, quem confundisse as coisas
(sempre há pessoas desse tipo, inquietas, ou ranzinzas, ou tudo isso junto,
enfim, chatas), contestando, com vigor até além da medida, os nomes apontados.
Haja paciência!!! Tais contestadores argumentam que há mulheres mais relevantes
na literatura mundial e que não integram a relação. Concordo. De fato, há.
Mas, ponderemos. A proposta dos organizadores dessa consulta
informal não foi a de determinar quais personagens femininas são “mais”
importantes do que outras. O fato dos convidados optarem pelas protagonistas que
optaram não quer dizer que as consideraram “superiores” às milhares e milhares
e milhares (quiçá, sem exagero, milhões) que foram omitidas. Longe disso. Não
foi esta a proposta da enquete. Nem poderia ser. Trata-se, portanto, de um
processo de “inclusão” e não de “exclusão”.
Tudo bem que a enquete poderia envolver mais nomes, que não
somente os catorze que envolveu, conforme observaram (aí sim, com certa pertinência)
alguns leitores. Mas quantos? Vinte, para arredondar a cifra? Cinquenta? Cem?
Mil? Ouso dizer que as personagens femininas inesquecíveis ascendem a
muitíssimo mais do que isso. Todavia, ampliar essa quantidade inviabilizaria a
enquete, levando em conta o espaço de um site. Ela teria que se estender por
anos e, ainda assim, muitas, muitíssimas heroínas (e vilãs) ficariam de fora.
Da minha parte, faço questão de frisar que não contesto e
não faço a menor restrição a nenhum dos catorze nomes escolhidos. Claro que,
como qualquer leitor, acrescentaria uma quantidade imensa (nem sei de quanto)
de personagens femininas não citadas, caso essas citações fossem “tecnicamente”
viáveis. Mas... não são. De qualquer forma, proponho-me a trazer à baila, nos
próximos dias, com as respectivas justificativas e comentários pertinentes,
várias das protagonistas notáveis não citadas, excluindo, logicamente, as
catorze do site “Homo Literatus”, para não ser repetitivo, pois fica implícito
que elas também integram minha escolha.
Recapitulemos quais foram as escolhidas na enquete do “Homo
Literatus”. O nome dos especialistas em Literatura que optaram pelas catorze “eleitas
vai entre parêntesis. Elas foram as seguintes, pela ordem:
Daenerys Targaryen, de George R.R. Martin em: “Crônicas de
gelo e fogo” (Gabriel Gaspar); Tereza, de Milan Kundera em “A Insustentável
Leveza do Ser” (Marcela Güther); Nastácia Filíppovna, de Fiódor Dostoiévski, em
“O Idiota” (Márcio Ahimsa); Molly Bloom, de James Joyce em “Ulysses” (Walter
Alfredo Voigt Bach); Daisy Buchanan, de F. Scot Fitzgerald em “O Grande Gatsby”
(Cecilia Garcia); Nina, de Lúcio Cardoso em “Crônica da Casa Assassinada” (Marcelo
Gabriel Delfino);Tristessa, de Jack Kerouac em “Tristessa” (Vilto Reis); Capitu,
de Machado de Assis em “Dom Casmurro” (Sofia Alves); Emma Bovary, de Gustave
Flaubert em “Madame Bovary” (Nicole Ayres);Hermione, de J.K. Rowling em “Harry
Potter” (Maik Anderson Barbara); Macabéa, de Clarice Lispector em “A hora da
estrela” (Sté Spengler); Nástienka, de Fiodor Dostoiévski em “Noites Brancas” (Marcelo
Vinicius); Fraülein Elza, de Mário de Andrade em “Amar, Verbo Intransitivo” (Márwio
Câmara) e Úrsula Iguarán, de Gabriel Garcia Márquez em “Cem anos de solidão” (Ygor
Speranza).
Como se vê, é um elenco dos mais respeitáveis. Há personagens
para todos os gostos e todos os estilos. E todas, convenhamos, são muito bem
construídas por seus ilustres e criativos criadores (com o perdão da
redundância) e, sem dúvida, inesquecíveis. Se são mais, ou se são menos das
tantas, e tantas, e tantas que poderiam ser citadas, mas não foram, são outros
quinhentos. Mas que a relação é das mais felizes e oportunas, disso não tenho a
menor dúvida. E o leitor tem? Creio que não! Há, por exemplo, personagens
consensuais, que qualquer pessoa, com um mínimo de familiaridade com literatura
de ficção, escolheria. Respondam com honestidade: quem, em sã consciência,
deixaria de fora uma Capitu, em qualquer enquete do tipo? Ou Emma Bovary? Ou
Molly Bloom? Ou Nina? Ou Macabea? Ou Fraülein Elza? Ou Ursula Iguarán? Ou mesmo
Hermione, que contribuiu para que J. K. Rowling se tornasse a primeira pessoa
do mundo a se tornar bilionária às custas, exclusivamente, da Literatura?
Apenas a título de provocação, proponho-lhes o seguinte
raciocínio. Suponha que algum bibliófilo, desses fanáticos por livros e com
fartura de dinheiro para adquiri-los, tenha reunido, ao longo da vida, uma biblioteca
de vinte mil volumes e que, por questão de preferência, sejam todos eles de
ficção. Essa imensidão de obras literárias, todavia, seria mera gota de água no
oceano comparada, apenas, com todos os romances, contos, novelas e peças
teatrais de sucesso já escritos e publicados. Ainda assim, seu feliz
proprietário (gostaria de ser ele) conseguiria ler uma quantidade ínfima desse
acervo. Pensem bem: se lesse um livro por dia, sem falhar nenhum, sem nunca
ficar doente, entediado e sem exercer nenhuma atividade a não ser a leitura e
se não perdesse tempo com nenhuma diversão, sabe quanto tempo levaria para ler
todos os vinte mil volumes de sua biblioteca? Façam as contas. Se não errei no
cálculo, despenderia 54 anos e alguns quebrados para isso!!!!
Supondo que começasse a empreitada aos oito anos de idade (o
que é sumamente improvável) concluiria a jornada de leitura aos... 62 anos!!!!!
Por mais que alguma pessoa goste de ler, convenhamos, pode-se dizer que a
tarefa, se não é impossível, é totalmente improvável. Improbabilíssima! Se
alguém conseguisse a façanha, seria notícia no mundo todo, nos jornais,
revistas, rádio, televisão e internet. O registro no “Guiness”, badalado livro
de recordes, seria pouco para ela. E quantas personagens femininas
inesquecíveis não há nesses vinte mil romances, contos, novelas e peças
teatrais? Sim, quantas? Dá para sequer estimar? Ora, ora, ora...
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Por isso que, quando a conversa começou, eu brinquei que a mulher mais importante seria Eva.
ResponderExcluir