segunda-feira, 4 de julho de 2011




Eu, meu poema

* Por Suzana Vargas


Quem não teve seu dia transtornado
Pelo balão azul de uma menina
E o desejo de furar o céu de gás
Por ela infelizmente despertado?

Quem insinuou todo veneno
Brigou pela comida, por salário
E carregou debaixo do seu braço
Um livro de poemas como remo?

(É sempre esse estar insatisfeito
a corda bamba das muitas emoções,
o tal desejo de que a vida seja um lago
um afundar de faca na manteiga)

Quem, neste setembro, na manhã,
sentindo o vento contrário ao de seus planos
Recusa-se ao amor, quando é o amor
que dá leveza aos remos e aos ramos?

Só pode uma pessoa dar tais passos
contraditórios na manhã sombria:
Enfrentar-se com palavras e, com elas
Passar de tanta raiva a esta alegria.

* Poetisa gaúcha, radicada no Rio de Janeiro, autora de literatura infantil e ensaísta. Tem 16 livros publicados, entre os quais “Sombras chinesas” , “Caderno de Outono” (indicado ao Prêmio Jabuti) e “O amor é vermelho”.

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